ELEIÇÕES

Voto impresso: "Temos problemas de fraude, sigilo, custo, transporte", diz Barroso

Para o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, "o discurso de que se eu perder, houve fraude é de quem não aceita a democracia". Declaração do ministro é resposta às insistentes acusações de Bolsonaro sobre a segurança das urnas eletrônicas

Augusto Fernandes
postado em 30/07/2021 06:00
Barroso garantiu que o TSE nunca manipulou as urnas -  (crédito: Carlos Moura/SCO/STF)
Barroso garantiu que o TSE nunca manipulou as urnas - (crédito: Carlos Moura/SCO/STF)

Alvo de ofensas do presidente Jair Bolsonaro por defender a segurança das urnas eletrônicas e por se opor à implantação do voto impresso, o ministro Luís Roberto Barroso, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), rebateu as acusações do chefe do Executivo sobre fraudes no sistema eleitoral e repudiou quem tenta fragilizar a democracia do país com acusações sem provas.

No dia em que Bolsonaro prometeu divulgar evidências de irregularidades nas urnas eletrônicas, mas acabou admitindo não ter provas, Barroso reclamou das investidas do presidente para querer mudar o sistema eleitoral à base da ignorância e da agressividade.

“O discurso de que ‘se eu perder, houve fraude’ é de quem não aceita a democracia, porque a alternância no poder é um pressuposto dos regimes democráticos. Uma causa que precise de ódio, mentira, desinformação, agressividade e grosseria não pode ser uma causa boa”, disparou Barroso. “As causas boas... há diferentes compreensões do bem, mas o mal é muito visível quando nós verificamos. Ele se move por atitudes de ódio, de desrespeito ao outro”, acrescentou, durante a inauguração da nova sede do Tribunal Regional Eleitoral do Acre.

Barroso garantiu que o TSE nunca manipulou as urnas. “Isso não aconteceu. Nunca se documentou, porque o dia em que se documentar, o papel da Justiça Eleitoral é imediatamente apurar. Uma fraude exigiria que muita gente no TSE estivesse comprometida”, frisou. “Ia ser uma conspiração de muita gente. Não há precedente e não há razão para se mexer num time que está ganhando. Ninguém tem paixão por urnas, mas, sim, por eleições livres e limpas.”

Apesar de ser seguidamente ofendido por Bolsonaro — já foi chamado pelo presidente, por exemplo, de imbecil e idiota —, o ministro evitou o embate. “Eu não paro para bater boca, eu não me distraio com miudezas. Vivo para fazer o que é certo, justo e legítimo, sem ser o dono da verdade, porque numa democracia não tem donos da verdade.”

Inseguranças

O magistrado lamentou a forma como o modelo eleitoral do Brasil foi colocado em descrédito nos últimos meses, visto que nunca houve um movimento tão forte desde que as urnas eletrônicas passaram a ser utilizadas, em 1996. “O sistema atual consagra a democracia, e uma das características da democracia é reconhecer que outro que pensa diferente de mim pode ganhar. A democracia é o regime em que há muitas verdades possíveis, mas a mentira deliberada tem dono e é assim que precisa ser adequadamente denunciada”, afirmou.

O ministro ainda comentou que o voto impresso não é mais seguro do que a urna eletrônica. Frisou que “há uma crença de pessoas de boa-fé de que o voto impresso traria mais uma possibilidade de auditoria”, mas opinou que, “a despeito de isso parecer lógico, não é verdadeiro”. De acordo com o magistrado, “você não cria um mecanismo de auditoria menos seguro que o objeto que precisa ser auditado”.

O presidente do TSE também alertou que o voto impresso “é menos seguro porque precisa ser transportado”. “Estamos falando de 150 milhões de votos em um país que, em muitas partes e em muitas regiões, se tem problemas de roubo de carga, milícia e facções criminosas. Portanto, vamos ter de transportar 150 milhões de votos com os riscos que isso envolve. Temos de armazenar esses votos para que não apareçam novos votos dentro das urnas; e depois — e isso, então, é o filme de terror — temos de recontar esses votos à mão”, lembrou.

“Não é só uma questão de custo, mas o risco do sistema, sem mencionar o risco da quebra do sigilo. Em um país que se compra e vende voto, é preciso conferir se o voto comprado foi entregue. Temos problemas de fraude, sigilo, custo, transporte”, destacou. “É um consenso que essa mudança é para pior. O sistema atual é consagrado. Vai dar inconsistência. Dá no caixa do banco, que não quer perder dinheiro. Imagine num país polarizado.”

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