CPI DA COVID

Acusado de corrupção, ex-diretor do Ministério da Saúde depõe na CPI hoje

Fontes ouvidas pelo Correio dão conta de que o ex-diretor foi aconselhado a adotar um discurso que afaste relação da alta cúpula do Planalto com o suposto esquema irregular

A CPI Covid vai ouvir, hoje, o ex-diretor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde Roberto Ferreira Dias, exonerado do cargo em junho, após ter sido apontado como envolvido num suposto esquema de corrupção na compra de vacinas contra o novo coronavírus. O nome do servidor foi apontado pelo representante comercial da Davati Medical Supply e cabo da Polícia Militar de Minas Gerais, Luis Dominghetti. De acordo com o militar, Dias teria pedido propina US$ 1 por dose para para autorizar a negociação de 400 milhões de unidades da vacina AstraZeneca que a Davati tentava vender ao ministério.

A confirmação de que Dias compareceria à sabatina só ocorreu ontem, após diversas tentativas de notificação por parte da CPI, desde a semana passada, quando a convocação foi aprovada. Fontes ouvidas pelo Correio dão conta de que o ex-diretor foi aconselhado a adotar um discurso que afaste relação da alta cúpula do Planalto com o suposto esquema irregular. Sem documentos que comprovem o pedido de propina, ele deve negar a informação fornecida por Dominghetti, bem como a aproximação dele com o representante da Davati.

A versão já foi sustentada em nota enviada à imprensa pelo ex-diretor, logo após o depoimento do cabo da PM, em 1º de julho. No comunicado, ele admitiu ter se encontrado com Dominghetti, na presença do ex-diretor-substituto de Logística Marcelo Blanco, em um restaurante na área central de Brasília, como narrado pelo PM. No entanto, negou qualquer pedido de propina e destacou que a negociação não andou por falta da documentação necessária. “É importante frisar que, ao contrário do que é alegado pelo Dominghetti, o tema propina, pedido de dinheiro, facilitação... nunca foi tratado à mesa ou em qualquer outro ambiente em que eu estive presente”, sustentou. “Porém preciso saber qual é a motivação desse senhor para, neste momento, vir contar essa história absurda. Quem ele quer atingir ou proteger? Estou sendo usado de fantoche para algo?”, questionou.

Essa não será a única denúncia que Dias terá de esclarecer. Ele também é considerado por integrantes da CPI como uma das peças-chaves que faziam a intermediação entre empresas e a cúpula do Ministério da Saúde. O senador petista Humberto Costa (PE), responsável pelo requerimento de convocação do ex-servidor, justificou a necessidade da oitiva porque Dias foi quem assinou o contrato bilionário envolvendo a compra da indiana Covaxin, alvo de investigação do colegiado.

Nomeado por apadrinhamento político, Dias se manteve no cargo mesmo depois de ter sido responsável pelo contrato de compra de 10 milhões de testes de covid-19 no valor de R$ 133,2 milhões. O negócio, que dispensava licitação, foi anulado após suspeita de irregularidades apontadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU). O servidor chegou a ter o nome cogitado para ocupar um cargo de diretoria na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), mas o presidente Jair Bolsonaro acabou desistindo da nomeação.

Saiba Mais

Liberada perícia de celular

O presidente da CPI da Covid, Omar Aziz (PSD-AM), decidiu tornar público o conteúdo da perícia realizada no celular do policial Luiz Paulo Dominguetti. O aparelho foi retido pela comissão durante o depoimento do representante da Davati Medical Supply, no qual ele exibiu áudio do deputado Luis Miranda (DEM-DF), supondo que se trataria de uma negociação de vacinas pelo parlamentar — o que foi desmentido depois. Na ocasião, senadores questionaram a possibilidade de a gravação ter sido “plantada” para desqualificar as denúncias do parlamentar e do irmão dele, o servidor Luis Ricardo Miranda, de corrupção no contrato da compra da Covaxin.