CPI DA COVID-19

Ex-diretor de Logística diz que negociação da Covaxin foi feita por número 2 de Pazuello

Roberto Dias afirmou que as negociações de vacinaa contra covid-19 cabiam ao coronel Elcio Franco, ex-secretário executivo do Ministério da Saúde

O ex-diretor do Departamento de Logística (DLOG) do Ministério da Saúde Roberto Dias, em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19, disse, nesta quarta-feira (7/7), que coube ao ex-secretário-executivo do ministério Elcio Franco, o número 2 do ministro Eduardo Pazuello, as negociações sobre aquisição de vacinas contra covid-19.

Apesar de ter tratado sobre a compra de 400 milhões de doses de vacina AstraZeneca da Davati Medical Supply, Dias nega que tenha negociado imunizantes. No dia 26 de fevereiro, ele se encontrou dentro do Ministério da Saúde com o cabo da Polícia Militar de Minas Gerais (PM-MG) Luiz Paulo Dominghetti, depois de tê-lo encontrado no dia anterior em um shopping em Brasília. Dias ressalta que o encontro do dia 26 foi apenas para ver se havia documentação que provasse a representação da empresa da AstraZeneca.

“Eu não trato de vacinas. Fui checar a existência de 400 milhões de doses. Só preciso de um documento para que isso faça sentido, a representação da empresa”, afirmou. Dias ressaltou que as negociações foram concentradas na Secretaria-Executivo da pasta, chefiada por Elcio. Questionado sobre o motivo pelo qual não repassou a negociação das 400 milhões de doses ao ex-secretário, Dias afirmou que para que repasse “qualquer coisa para a Secretaria-Executivo, tem que fazer sentido”.

“Eu não posso chegar a qualquer pessoa que quer vender qualquer coisa no ministério e dar procedência a isso. Não dando procedência, eu já estou passando por todo esse constrangimento e esse caos, o senhor imagina se eu levasse isso à frente”, afirmou.

Dias frisou que nunca participou da fase pré-contratual, “nem da Covaxin nem de nenhuma vacina de Covid-19”. “A proposta da Bharat (Biotech) consta no processo e foi anuída pelo Secretário Executivo durante todo o processo”, disse. E frisou: “No âmbito de vacina Covid-19, o Departamento de Logística não participou de nenhuma formação de preço de vacina de Covid-19. No âmbito de vacinas Covid-19, como todas as tratativas, apresentação de proposta e negociação eram feitos na SE (Secretaria Executiva), esse processo chegava para o meu departamento já instruído”, disse.

O senador Renan Calheiros perguntou em diversos momentos o motivo pelo qual a vacina Covaxin teve aumento de valor, de US$ 10 para US$ 15 no decorrer da negociação, ao que Roberto Dias afirmou que a pergunta precisa ser feita por quem negociou a vacina. “As negociações de vacinas Covid-19 estavam restritas ao âmbito da Secretaria-Executiva”, frisou.

A questão foi amplamente questionada pelo senador Eduardo Braga (MDB-AM) sobre as atribuições da área de logística, visto que as compras de vacina contra covid-19 estavam contratadas na secretaria-executiva, mas as demais compras do ministério são feitas pelo departamento dirigido por Roberto Dias. Os senadores estão pontuando que Dias foi perdendo autonomia na pasta no âmbito da negociação de vacina, suspeitando de que havia interesses de grupo em comandar essas negociações.

A senadora Simone Tebet (MDB-MS), por exemplo, frisou que havia um núcleo militar que queria comandar a compra de vacinas, dizendo que a autonomia de Dias foi retirada das mãos dele e colocadas nas mãos de um militar, referindo-se a Elcio Franco.

Eduardo Braga também comentou. ”O que eu tenho percebido é que há primeiro uma disputa interna dentro do ministério, em torno inclusive do departamento que o senhor chefiava ainda há pouco. O senhor acaba de deixar claro que todas as vacinas de Covid-19 foram concentradas na Secretaria Executiva (...) Parece-me que há uma disputa muito clara em torno desse departamento em que as compras acontecem e que houve uma concentração exagerada, a meu modo de ver, porque se concentrou tudo na mão da Secretaria Executiva, e essa concentração acabou gerando várias distorções.