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Primeiro desafio de Ciro é evitar sepultamento do voto impresso na comissão especial

Estreando na Casa Civil, Ciro Nogueira publica trechos de artigo para defender o presidente Jair Bolsonaro e assegurar que não é golpista. Primeiro desafio do ministro é fazer com que a PEC do voto impresso não seja sepultada na comissão especial, na volta do recesso

No primeiro dia de expediente como ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP) foi às redes sociais, ontem, para rebater as críticas à aproximação de Jair Bolsonaro com o Centrão. Um dos líderes desse bloco partidário, que assume cada vez mais o controle do governo, o ministro disse que o presidente optou pela composição política e, por isso, não pode ser chamado de “golpista”.

“O gesto do presidente é na direção da dinâmica política, partidária e democrática. E ainda assim, como é normal, despencam críticas e chavões contra ele e seu governo pela aliança com o Centrão. Então, um dia ele é golpista. No dia em que não é, torna-se velha política”, disse Ciro Nogueira, acrescentando: “Claro que há de tudo nisso, menos um mínimo de razoável equilíbrio nas análises. Ele não pode ser golpista e velha política ao mesmo tempo. E essa contradição das críticas expõe mais os que o criticam do que o criticado”.

O texto foi acompanhado da foto de um artigo intitulado “O presidente nunca pode estar certo?”, publicado no jornal Folha de S.Paulo e de autoria do jornalista, consultor de comunicação e escritor Mário Rosa. Logo na abertura, o artigo, que faz referência à nomeação de Nogueira como ministro, diz que “Jair Bolsonaro não pode ser acusado de fascista, golpista e antidemocrata e, ao mesmo tempo, ao atrair um político experiente e presidente de um partido tradicional, receber a pecha de ‘contraditório’, ‘velha política’ e outros adjetivos que pipocaram por aí”.

Time seleto

A nomeação de Ciro como membro do seleto grupo de ministros que despacham no Palácio do Planalto faz parte de uma minirreforma eleitoral, que tem o objetivo de melhorar a articulação com o Congresso, principalmente no Senado, onde as investigações da CPI da Covid têm trazido desgastes para o governo. As mudanças, que incluem a recriação do Ministério do Trabalho e Previdência, foram cercadas de críticas a uma suposta contradição de Bolsonaro, que, durante a campanha presidencial, prometeu acabar com o “toma lá dá cá” da “velha política”. O presidente também chegou a dizer que o Centrão representa “a nata do que há de pior no Brasil”.

Bolsonaro passou a ser chamado de “golpista” por opositores em razão das várias ameaças que fez à realização das eleições de 2022, que não vão acontecer, segundo ele, se o Congresso não aprovar a PEC que institui o voto impresso. Essa proposta deve ser derrubada na comissão especial da Câmara, em votação marcada para o próximo dia 5 — embora Ciro vá trabalhar para que não seja sepultada. Dos 34 membros do colegiado, 20 são contrários à proposta de emenda constitucional.

Fazer avançar essa PEC é uma das prioridades da gestão de Ciro à frente da Casa Civil. Na relação com o Congresso, além de articular a votação de matérias de interesse do governo, o ministro também vai controlar a liberação de verbas de emendas parlamentares ao orçamento.

No dia de ontem, o único compromisso de trabalho na agenda de Ciro era receber, pela manhã, o presidente do Banco do Brasil, Fausto de Andrade Ribeiro. Ele foi indicado ao comando do BB pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), outro cacique do Centrão.

Depois da audiência com Ribeiro, Ciro recebeu para um almoço, em seu gabinete na Casa Civil, a filha caçula, Duda Nogueira, e a deputada Iracema Portella (PP-PI).