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Bolsonaro emitiu 1.682 declarações falsas ou enganosas apenas no ano passado, diz ONG

O documento destaca algumas falas de Bolsonaro, como chamar a doença de "gripezinha"

O presidente Jair Bolsonaro emitiu 1.682 declarações falsas ou enganosas em 2020, uma média de 4,3 por dia. As informações são do Relatório Global de Expressão 2021, com dados de 161 países, produzido pela organização não governamental (ONG) Artigo 19 sobre liberdade de expressão, lançado ontem.

De acordo com o documento, as declarações falsas ou enganosas de Bolsonaro contribuíram para aumentar o número de casos de covid-19 no país. Desde que assumiu o mandato, em 2019, o chefe do Executivo fez 2.187 declarações falsas ou distorcidas, uma média de três por dia. No entanto, o volume diário de desinformação espalhada foi significativamente maior em 2020 em meio à pandemia da covid-19, à crise econômica e às eleições municipais.

O documento destaca algumas falas de Bolsonaro, como chamar a doença de “gripezinha”, e “promoção de discursos antivacinas e anti-isolamento, piorando as taxas de infecção e causando uma crise de informação com discursos altamente polarizados”.

No combate à covid-19, a Artigo 19 faz críticas à falta de transparência nos números da pandemia em alguns países, entre os quais o Brasil. O texto pontua que 35% dos pedidos de informação feitos durante o governo Bolsonaro foram respondidos com dados incorretos, 25% com desinformação intencional, 20% com censura de informações e 5% com informações parciais. Só 15% dos pedidos foram respondidos de forma completa.

Liberdade

Na escala de liberdade de expressão utilizada pela ONG, que vai de 0 a 100 e é calculada a partir de 25 indicadores, o Brasil teve 52 pontos. É a pior pontuação da série, que começou em 2010, e é a mesma da Colômbia e do Gabão, ficando logo abaixo do Haiti, que teve 53 pontos. As melhores pontuações foram da Dinamarca e a Suíça, com 95, e a pior, da Coreia do Norte, que zerou.

No ranking mundial de liberdade de expressão, o Brasil ocupa a posição 85 entre 160 países. Dez anos atrás, o país tinha a nota 89 e era um dos com pontuação mais alta no ranking. Agora, nações como a Hungria e a Indonésia estão em posições melhores. Em 2015, o país ficou em 86.

“Nos últimos cinco anos, o Brasil deixou de estar entre os países com maior pontuação do mundo para ser considerado uma crise de democracia e expressão — e, agora, uma crise de saúde pública também”, diz o documento. O relatório ainda classifica que o país é a “perfeita tempestade contemporânea de problemas de expressão: populismo autocrático, desinformação, aguda desigualdade e controle tecnológico”.

Imprensa

De acordo com a Artigo 19, em 2020, foram registradas 254 violações contra jornalistas e comunicadores. Desses, quase metade (123 violações) foi perpetrada por agentes públicos. Ao mesmo tempo, um total de 46 casos (18%) eram racistas, sexistas ou tendencioso contra a comunidade LGBTQIA+.

Ainda no mesmo ano, a ONG registrou 464 declarações públicas feita pelo presidente da República, seus ministros ou conselheiros próximos que atacaram ou deslegitimaram jornalistas e seu trabalho. “Os filhos de Bolsonaro, que ocupam cargos públicos, foram os perpetradores de muitos ataques”, pontua o documento.