Política externa

Casa Branca faz gesto de aproximação com o governo brasileiro

Visita do conselheiro de Segurança Nacional, Jake Sullivan, acompanhado de alto escalão da Casa Branca, indica o interesse de Joe Biden em avançar na preservação da Amazônia

Ingrid Soares
postado em 06/08/2021 06:00
 (crédito: Embaixada dos Estados Unidos do Brasil/Divulgação)
(crédito: Embaixada dos Estados Unidos do Brasil/Divulgação)

Pouco mais de seis meses após o democrata Joe Biden assumir a Presidência dos Estados Unidos, a Casa Branca fez um gesto concreto de aproximação com o governo brasileiro. Em visita a Brasília, o conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Jake Sullivan, teve uma audiência com o presidente Jair Bolsonaro e ministros. O encontro entre o emissário norte-americano e Bolsonaro ocorreu no Palácio do Planalto e não constava na agenda oficial do chefe do Executivo. Nas imagens oficiais, o presidente não usa máscara de proteção, diferentemente do norte-americano.

A visita de um membro da Casa Branca, acompanhado de diversos diretores sêniores da Casa Branca, sinaliza o grande interesse do governo Biden em relação ao Brasil. Além de reforçar os vínculos bilaterais históricos entre Brasil e Estados Unidos, a comitiva veio com a incumbência de tratar de assuntos considerados prioritários para o presidente democrata: a preservação da Amazônia, a estabilidade política na América do Sul e o uso da tecnologia 5G no Brasil.

Nos encontros em Brasília, as autoridades reafirmaram a relação estratégica de longa data entre os dois países. Debateram como a parceria Brasil-EUA pode avançar em questões prioritárias: segurança regional e democracia; segurança digital e da informação; cooperação no Atlântico Sul; migração ilegal; e a necessidade de maior cooperação e engajamento para combater as mudanças climáticas. As autoridades também destacaram oportunidades para que as instituições dos dois países colaborem no combate à covid-19 e na melhoria ao acesso às vacinas.

Sullivan se encontrou com o secretário Especial para Assuntos Estratégicos da Presidência, Almirante Flávio Rocha; o ministro da Defesa, general Walter Braga Netto; o ministro das Comunicações, Fábio Faria; o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, general Augusto Heleno; e o ministro das Relações Exteriores, embaixador Carlos Alberto França. O conselheiro de Segurança Nacional dos EUA também participou de um almoço organizado pelo ministro França no Palácio do Itamaraty, com a participação do vice-presidente Hamilton Mourão e de outros convidados.

Sullivan se reuniu, ainda, com governadores do Consórcio Interestadual da Amazônia Legal. Ele manteve tratativas com os chefes estaduais Hélder Barbalho (Pará); Marcos José Rocha dos Santos (Rondônia) e Wilson Lima (Amazonas), para discutir planos e estratégias de combater às mudanças climáticas, regularização fundiária, desmatamento e à mineração ilegal. A intenção é abrir um canal paralelo com os governos estaduais, sem depender exclusivamente da vontade política do Executivo federal.

Na conversa, os governadores entregaram a Sullivan um documento com os pontos consensuais entre os seis estados integrantes da Amazônia Legal que podem contribuir para equilibrar a preservação ambiental com a atividade econômica local. Na campanha presidencial, Joe Biden propôs que um grupo de países doasse US$ 20 bilhões ao Brasil para combater o desmatamento.

O representante norte-americano comemorou o resultado das conversas. “O Brasil é importante. Como as duas maiores democracias do hemisfério, o Brasil e os EUA têm interesse no sucesso mútuo. Juntos, podemos avançar em metas climáticas ambiciosas, combater com sucesso a pandemia da covid-19 e reconstruir a economia na região”, disse Sullivan.

Tecnologia 5G
Além da questão ambiental, está no radar dos Estados Unidos o uso da tecnologia 5G no Brasil. Um ponto sensível é o risco — negado pelo governo chinês — de Pequim ter acesso a informações sigilosas em caso de vitória da gigante da tecnologia Huawei. Essa seria uma das razões para o governo brasileiro prever, no edital do leilão da 5G, uma linha de internet exclusiva, sem a participação da empresa vencedora. Em nota, o Itamaraty destacou a discussão sobre o desenvolvimento e implementação da tecnologia Open RAN nas futuras redes 5G do Brasil.

No último dia 14, o ministro Fabio Faria anunciou que o TCU (Tribunal de Contas da União) marcou para 18 de agosto a votação do edital do leilão. A expectativa do governo é de que a internet de quinta geração esteja disponível em todas as capitais do país até julho de 2022. Faria ainda afirmou que é possível que algumas capitais comecem testes públicos com o 5G até o final de 2021 se os prazos previstos forem mantidos.

Ricardo Mendes, sócio da Prospectiva e responsável pelas operações internacionais da consultoria, observa que o governo americano está em busca de aliados e tenta recuperar terreno na América Latina em relação à tecnologia. Nesse contexto, há a guerra comercial contra a China. “Os EUA estão em uma guerra fria com a China. Muito da nossa relação com eles será pautada por isso. O Brasil tem tradição de não se alinhar, e acredito que vai continuar a ser independente. Mas tem os EUA pressionando, tentando oferecer algo para ter o país como aliado nessa pauta. Em temas pontuais, vamos ver EUA oferecendo mais recursos, principalmente na questão tecnológica”, destacou.

Ele lembra ainda a questão ambiental. “Há, ainda, uma pressão extra no tema ambiental. O Brasil tem uma imagem ruim e sérios problemas nesse front. Do lado Biden, tem um eleitorado que vai cobrá-lo por isso, além dos democratas. Porém, no tema China, os EUA não deixarão de ter o Brasil como aliado”, concluiu.

O presidente Jair Bolsonaro foi um dos últimos chefes de Estado a cumprimentar Biden por ocasião das eleições e por ser ferrenho defensor de Donald Trump. Em 20 de janeiro, ele enviou uma carta ao presidente dos Estados Unidos, felicitando Biden pela posse. O chefe do Executivo brasileiro se mostrou otimista quanto à relação bilateral entre os dois países com o início do mandato e disse acreditar em um “excelente futuro para a parceria Brasil-EUA”.

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