PEC

Decisão de levar voto impresso ao plenário tem jeito de "enterro de luxo"

A reunião de segunda-feira, entre Lira e os líderes partidários, já dará a temperatura das bancadas em relação à PEC do voto impresso

Fábio Grecchi
Bruna Lima
postado em 07/08/2021 06:00 / atualizado em 07/08/2021 08:21
 (crédito: CB/D.A PRESS )
(crédito: CB/D.A PRESS )

A decisão do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), pode ser parte da estratégia para sepultar definitivamente uma agenda do presidente Jair Bolsonaro que, segundo analistas e interlocutores dos bastidores do Congresso, tem por único objetivo tumultuar o processo eleitoral de 2022, ante a hipótese de ser derrotado na corrida presidencial ainda no primeiro turno — conforme vêm apontando as recentes pesquisas de opinião. Uma vez derrubada pelo conjunto dos deputados, se daria um “enterro de luxo” à proposta de emenda constitucional apresentada pela deputada Bia Kicis (PSL-DF) e relatada pelo deputado Felipe Barros (PSL-PR), ambos bolsonaristas de primeira hora.

A reunião de segunda-feira, entre Lira e os líderes partidários, já dará a temperatura das bancadas em relação à PEC do voto impresso. Semanas atrás, 11 legendas fecharam questão contra a proposta e o cálculo político é de que esse número se mantenha inalterado nesse encontro que definirá o momento de o texto ir ao plenário. Algumas delas, inclusive, são parte da base bolsonarista, como o antigo partido do presidente, o PSL, o PP e o DEM. A certeza é de que, pelo menos esses três, marcharão divididos na votação — o primeiro por abrigar os mais ferozes apoiadores do presidente, os outros dois por terem ministérios no governo.

Nos bastidores, trabalha-se com a expectativa de que os integrantes do Centrão liberem a bancada, para que o deputado possa votar conforme a própria consciência. Mas, outros partidos do grupo dos 11, devem fechar questão pela derrubada da PEC, como PSDB, Solidariedade, Cidadania, MDB, Avante e PSD — e, além deles, representantes da esquerda, como PT, PSol e PCdoB.

Mesmo os mais otimistas defensores do voto impresso sabem que o sarrafo para a aprovação da PEC é alto: é preciso que o Palácio do Planalto obtenha 308 votos a favor, em dois turnos de votação. Nos bastidores, nem mesmo a exoneração temporária de deputados que atualmente são ministros, e voltariam à Câmara apenas para a votação, seria capaz de turbinar números favoráveis à proposta.

Reações
Enquanto parlamentares da base veem na decisão de Lira uma nova oportunidade de fazer passar a proposta, oposicionistas e independentes criticaram o presidente da Casa, sobretudo por justificar a decisão de que levar o tema ao plenário é “expressão da democracia”. A presidente nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), avaliou que o argumento traz efeito inverso. “Se está preocupado com a democracia, por que não leva o impeachment para o plenário decidir?”, questionou. São mais de 120 pedidos de afastamento acumulados na mesa da presidência da Câmara.

Líder do PSol da Câmara, a deputada Talíria Petrone (RJ) disparou indignada: “Lira e Bolsonaro são a mesma coisa”. A colega de bancada Sâmia Bomfim (SP) acusou Lira de mergulhar “no golpismo de Bolsonaro”. “É o momento de pressionar com firmeza os deputados para que possamos derrotar essa insanidade golpista de uma vez por todas”.

Defensor da PEC, o deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ) comemorou a decisão de Lira. “Esse é o momento de cobrar o seu deputado, para garantir um processo democrático limpo, transparente e pleiteado por nós”, publicou.

Outro bolsonarista, Marcio Labre (PSL-RJ), disse acreditar que com no plenário “existem chances reais de reversão” da decisão na comissão especial.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação