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Bolsonaro volta a atacar STF

Em motociata promovida na capital catarinense, presidente afirma que somente o Congresso Nacional tem legitimidade para decidir sobre voto impresso. Ele ainda acusou ministros do Supremo de agir em conluio com o ex-presidente Lula

Michel Medeiros Especial para o Correio
postado em 07/08/2021 23:48
 (crédito: Fabio Faria/Twitter)
(crédito: Fabio Faria/Twitter)



Ataques, ofensas e acusações marcaram o segundo dia de visita do presidente Jair Bolsonaro a Santa Catarina. O chefe do Executivo desembarcou em Florianópolis na manhã de ontem e foi conduzido na carroceria de uma caminhonete até uma motociata, organizada por apoiadores do mandatário. O ato percorreu diversas ruas da capital catarinense e foi interrompido por três vezes para Bolsonaro dirigir-se ao público, causando aglomerações. Sem máscaras e desrespeitando as regras de distanciamento social em vigor no estado, o mandatário voltou a disparar contra ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e a defender o voto impresso.

Bolsonaro reforçou a campanha contra o sistema eleitoral brasileiro. “Venho advertindo que temos que ter eleições limpas no Brasil. Quem não quer eleições limpas e contagem pública de votos pode ser tudo, mas não é democrata, e quem não é democrata não tem espaço no nosso Brasil”, afirma. “Querem decidir as coisas no tapetão”, acusa o presidente, eleito seis vezes por meio do voto eletrônico (1998, 2002, 2006, 2010, 2014 e 2018).

Após atacar o processo eleitoral, Jair Bolsonaro voltou-se contra a Suprema Corte. “Quem decide as eleições são vocês. Não vai ser um ou dois ministros do STF que vão decidir o destino de uma nação. Quem tem legitimidade, além do presidente (da República), é o Congresso Nacional”, disse.

Bolsonaro mantém as investidas contra o STF, apesar da reação do presidente da Corte de Justiça, ministro Luiz Fux, que, na quarta-feira (4), desmarcou reunião agendada entre os chefes dos três Poderes — Executivo, Legislativo e Judiciário.

Disputa
Com a popularidade cada vez mais baixa e o crescimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas pesquisas para o Planalto em 2022, Bolsonaro incluiu o petista entre os alvos. “Centenas de pessoas por dia fogem do paraíso socialista da Venezuela. Nós sabemos como aquele regime começou, quem apoiou aquele regime, não preciso dizer que é o bandido de nove dedos”, disse o presidente.

Sob os gritos de “Lula ladrão” e “Fora STF”, Bolsonaro insinuou que as “fraudes” no processo eleitoral teriam apoio do ex-presidente. “O ladrão de nove dedos e seus amigos é que vão contar os votos dentro de uma sala secreta”, concluiu Bolsonaro.

De acordo com o artigo 235 do Código de Trânsito Brasileiro, o transporte de passageiros na parte externa de veículos , como ocorreu ontem com o presidente na motociata, é considerado infração gravíssima, com multa de R$ 293,47 e a inclusão de sete pontos na carteira do condutor.

Hoje, Bolsonaro participará de uma motociata em Brasília, que percorrerá avenidas do centro da capital, Taguatinga e Ceilândia. A concentração está marcada para as 8h, na Praça dos Três Poderes e a partida está prevista para as 9h30.

Fotos: Fabio Faria/Twitter
Sem respeitar as regras de distanciamento social, Bolsonaro falou aos apoiadores, que dirigiam ofensas contra Lula e Supremo

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Churrasco à moda Nogueira

 (crédito: Fabio Faria/Twitter)
crédito: Fabio Faria/Twitter

O prato principal do churrasco realizado ontem, em Brasília, entre o novo ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, e os ministros das Comunicações, Fábio Farias, da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, e o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, não foi a costela de chão com farofa ao vinagrete. Foram os precatórios com o Auxílio Brasil. Esse cardápio pôs em rota de colisão os políticos do Centrão e o ministro da Economia, Paulo Guedes. Nogueira busca apoios porque quer dobrar o valor do Auxílio Brasil, limitado a R$ 300 na proposta apresentada por Guedes, mesmo assim se houver uma solução para o problema dos “superprecatórios”.

“Saboreando uma autêntica costela no fogo de chão”, diz a legenda da foto divulgada pelo próprio Nogueira nas redes sociais, na qual posa ao lado dos colegas de Esplanada e o presidente do Banco Central (BC). Nove entre dez políticos do Centrão gostariam que Campos Neto fosse o ministro da Economia, pela forma hábil com que se relaciona com o Congresso, ao contrário de Guedes, intempestivo e explosivo, sempre em choque com os políticos por causa das contas do governo.

De olho na reeleição, Bolsonaro também quer dobrar o auxílio emergencial, o que fortalece a posição de Nogueira e enfraquece a de Guedes. A saída estudada é dividir os precatórios, separando as grandes dívidas das de menor valor e parcelando-as, ou seja, uma “pedalada” que está sendo interpretada pelo mercado como calote. Discute-se uma PEC (proposta de emenda à Constituição) para mudar a regra de pagamento dos atrasados federais e parcelar valores a partir de R$ 455 mil, o que também gera insegurança jurídica.

A saída seria a criação de um fundo, a partir de recursos provenientes de alienações de ativos, venda de estatais, dividendos, entre outras fontes de receita, a partir do qual se faria o pagamento antecipado dos precatórios parcelados, além de eventuais parcelas extras de programas sociais, como o novo Auxílio Brasil, que deverá ser criado por meio de Medida Provisória.

Guedes está na berlinda, a equipe econômica não aceita uma solução que ultrapasse o chamado “Teto de Gastos” e o Congresso pode refugar o parcelamento dos precatórios. O valor total das dívidas decorrentes de decisões judiciais (de pessoas físicas e jurídicas) é de R$ 89 bilhões. Há previsão de desembolso para essa rubrica de R$ 55,5 bilhões, em 2021. É uma despesa que cresce exponencialmente: em 2010, eram R$ 15,3 bilhões; em 2015, R$ 26,2 bilhões; no ano passado, saltou para R$ 53,4 bilhões.


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