CPI DA COVID-19

Coronel cita empresa que estava em reunião com Elcio Franco e Davati

Helcio Bruno afirmou que agenda no dia 12 de março discutiria a vacinação privada, área de atuação da referida empresa. Encontro foi compartilhado com vendedor de vacina da Davati

Sarah Teófilo
postado em 10/08/2021 20:06
 (crédito:  Leopoldo Silva/Agência Senado)
(crédito: Leopoldo Silva/Agência Senado)

Em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19, nesta terça-feira (10/8), o tenente-coronel da reserva Helcio Bruno de Almeida, presidente do Instituto Força Brasil (IFB), disse que a reunião do dia 12 de março no Ministério da Saúde, com a presença do ex-secretário-executivo Elcio Franco, seria para discutir a vacinação privada. A agenda, segundo ele, foi compartilhada com o representante da americana Davati Medical Supply, Cristiano Carvalho, e com o policial militar Luiz Paulo Domingheti, que tentavam vender 400 milhões de doses de vacina que não existiam ao governo federal.

O coronel levou à CPI a ata do encontro, com o nome de uma empresa que ainda não havia surgido na comissão: o grupo BR MED, no qual integra a Beep Saúde. Segundo a ata, estava no encontro um representante do grupo. A questão foi ressaltada pelo vice-presidente da comissão, Randolfe Rodrigues (Rede-AP). Perguntado, Helcio Bruno afirmou que a empresa participou da reunião porque era o grupo interessado na regulamentação da Lei 14.125. Ela entrou em vigor no dia 10 de março e permite que entidades privadas comprem vacinas contra covid-19, mas devem ser doadas integralmente para o Sistema Único de Saúde (SUS).

A ata entregue por Helcio Bruno informa que a “Davati seria uma empresa de cotas de vacina", e que adicionalmente, foi tratado com o representante da BR Med “quanto à necessidade de regulamentação da Lei 14.125 determinando a possibilidade à doação de 50% das doses compradas pelas empresas privadas". O encontro foi rápido, segundo o coronel Helcio Bruno, tendo durado cerca de 20 minutos.

"Jogada, esquema"

Ao Correio, o senador Randolfe Rodrigues afirmou que a Beep Saúde é uma empresa que estava fazendo intermediação, a fim de realizar compra de vacinas pela iniciativa privada para fazer vacinação em domicílio. “Ou seja, jogada, esquema”, disse. Em nota, a empresa informou ser líder do mercado de vacinação e que foi para reunião com membros do Ministério da Saúde no dia 12 de março deste ano “exclusivamente com o objetivo de esclarecer dúvidas a respeito dos termos de aplicação da Lei nº 14.125/2021, que permitiria a compra de vacinas contra a Covid-19 para que empresas privadas pudessem imunizar seus colaboradores”.

Segundo o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), a reunião com o Ministério da Saúde foi originalmente marcada para um atendimento aos empresários da Beep, “que seria uma empresa que tentaria fazer um processo de vacinação remota, uma espécie de delivery de vacinas”, explicou. “No final das contas, o coronel Helcio utilizou esse espaço para poder fazer pela venda da Davati, empenhando, inclusive, a palavra pessoal dele que seria um fornecedor confiável”.

Encontro no ministério

Helcio Bruno afirmou que pediu audiência no ministério no dia 3 de março. No dia 9, segundo ele, o reverendo Amilton Gomes de Paula, presidente da ONG Secretária Nacional de Assuntos Humanitários (Senah), que Helcio alega até então não conhecer, foi ao IFB. Segundo o depoente, o reverendo informou que “uma empresa de nome Davati pretendia oferecer uma grande oferta de vacinas ao Ministério da Saúde, mas que precisavam esclarecer ao ministério a forma com que poderiam disponibilizar as vacinas pois, embora não fossem representantes diretos do laboratório produtor das vacinas, eles teriam uma alocação de doses”.

“Por isso, o senhor Amilton aventou a possibilidade de o IFB compartilhar sua agenda no Ministério da Saúde com os representantes de tal empresa, para que eles pudessem explicar ao ministério as condições de sua oferta de vacinas”, afirmou o coronel. Ele não esclareceu, entretanto, como o reverendo o procurou pedindo compartilhamento de agenda, se eles não se conheciam. Questionado pelo senador Renan Calheiros (MDB-AL), Helcio Bruno usou o direito de permanecer em silêncio para não se autoincriminar, concedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF). 

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