Barros marcou reunião para Belcher na Saúde

Apesar de empresário negar relacionamento com líder do governo além da amizade, deputado abriu portas do ministério para farmacêutica que representava produtor de vacina

Correio Braziliense
postado em 24/08/2021 23:30 / atualizado em 24/08/2021 23:30

Em depoimento à CPI da Covid, ontem, o sócio da farmacêutica Belcher Emanuel Ramalho Catori admitiu ter uma relação com o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR). Mas negou que tenha tratado de vacina com o deputado ou que ele o tenha auxiliado nas negociações para venda do imunizante Convidencia ao governo federal. Conforme disse aos integrantes do colegiado, o parlamentar conseguiu uma reunião, em 15 de abril, com o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, para tratar sobre o medicamento antiviral Faviparavir para a pasta.


Ao ser questionado sobre o motivo de o encontro não ter sido agendado diretamente pela Belcher — algo que faria com que constasse da agenda oficial do ministro —, Catori explicou que se tratava de uma reunião da Frente Parlamentar da Indústria Pública de Medicamentos, chefiada por Barros. Ele disse, ainda, que desde o ano passado sua empresa realiza negociações com o governo federal por conta da pandemia de covid-19. “Nós fomos atrás pra tentar ajudar a população”, explicou Catori.
O empresário atribuiu a proximidade e a manutenção de conversas com Barros apenas ao fato de ambos serem de Maringá (PR). “Eu converso com ele normalmente, mas nada sobre negócios. Ele é de Maringá, nós somos de Maringá”, disse o empresário, confirmando que tem conversas periódicas com o líder do governo.


A Belcher representou o laboratório CanSino para venda da Convidencia no Brasil, mas o negócio não foi fechado. A farmacêutica chinesa revogou unilateralmente as credenciais da empresa paranaense para representar o laboratório no Brasil por razões de compliance.

Ajuda zero

Segundo Catori, “em nenhum momento” Barros o ajudou nas negociações do imunizante, uma vez que, para a vacina, não seria necessária qualquer “interferência política”. “Ele não me ajudou em nada sobre a vacina, o Brasil todo soube da nossa vacina. Para vacina, a gente não precisa nenhuma interferência política, ainda mais se tratando de vacina de uma dose”, afirmou o empresário


O sócio da Belcher Farmacêutica, classificou como “mera coincidência” a contratação do advogado Flávio Pansieri pela empresa. Pansieri é ligado a Barros e também representa o parlamentar, além de ter sido sócio em negócios da família do líder do governo na Câmara. De acordo com Catori, o defensor foi contratado como consultor para assuntos regulatórios.


“É mera coincidência”, disse. Na audiência, o empresário negou qualquer influência de Ricardo Barros nas tratativas de vacinas com o Ministério da Saúde.

Catori, porém, não conseguiu explicar como sua a Belcher conseguiu ser recebida tão rapidamente pelo ministério. Por causa disso, a senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) ironizou. “Uma carta de intenções foi formalizada pelo órgão com sete a oito dias de espera, enquanto para a Pfizer a resposta demorou por volta de um ano”, lembrou.

Segundo o empresário, a primeira reunião no ministério para tratar de vacinas foi em 20 de maio, com o então diretor de Imunização e Doenças Transmissíveis da pasta, Laurício Cruz. Isso aconteceu mesmo com a determinação de Queiroga de que qualquer negociação ou comercialização das vacinas teria que ser feita na secretaria-executiva do ministério. “Vossa senhoria é levada para a porta errada porque quem tinha o poder de conversar e negociar sobre vacinas é o secretário-executivo”, observou a senadora Simone Tebet (MDB-MS). (Colaborou Tainá Andrade)

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