O depoimento de Roberto Pereira Ramos Júnior, diretor-presidente do FIB Bank, ontem, à CPI da Covid, serviu para expôr as entranhas da negociação entre a Precisa e o Ministério da Saúde para a suposta venda da vacina Covaxin, fabricada na Índia pela farmacêutica Bharat Biotec — que, para os senadores que integram o colegiado, não passava de um golpe no qual nenhum imunizante seria entregue e o governo federal ainda ficaria com um prejuízo de R$ 1,6 bilhão. Isso porque o FIB Bank não é, realmente, um banco, nem uma seguradora, mas foi capaz de se apresentar como fiadora da negociação entre a Precisa e o ministério — algo considerado incomum, embora não haja ilegalidade nisso.
Mas as estranhezas apresentadas por Ramos Júnior não terminam aí. Ele disse que o FIB Bank, apesar de se tratar de uma “pequena empresa”, possui um capital social de R$ 7,5 bilhões por conta de dois imóveis, um localizado em São Paulo e outro em Castro (PR). Essa explicação virou motivo de ironia entre os senadores, sobretudo depois que se soube que um desses bens que serviriam de garantia está supostamente registrado, pois que certificado por um cartório que não existe.
“Um imóvel era no valor de R$ 7,2 bilhões e não estava em São Paulo, começou em Curitiba. Aí, mudou-se a matrícula para São Paulo. O imóvel voador”, disparou a senadora Simone Tebet (MDB-MS). “É importante que esses imóveis sejam, a partir de hoje ou de amanhã, apresentados ao Brasil”, cobrou Renan Calheiros (MDB-AL).
Chacota
O capital social de R$ 7,5 bilhões continuou sendo motivo de chacota pelos senadores e envolveu até mesmo parlamentares da base de apoio do governo. O presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), ironizou e pediu que Jorginho Mello (PL-SC) explicasse quanto seria o capital social máximo de micros, pequenas, médias e grandes empresas no Brasil.
“E de uma big empresa de R$ 7,5 bilhões em capital?”, indagou Aziz.
“Isso vende a cura para qualquer doença”, rebateu Jorginho.
Mas, independentemente, das ironias, o depoimento de Ramos Júnior também foi um rosário de contradições. Primeiramente negou conhecer o advogado Marcos Tolentino — supostamente dono do FIB Bank e amigo do líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR) — e que se apresentava como dono da empresa, mas, depois, recuou. Afirmou que era procurador de uma das acionistas, a Pico do Juazeiro, e que trabalharam juntos em um projeto em outra instituição.
A CPI, porém, confirmou que o endereço e o telefone da Pico do Juazeiro era o mesmo do escritório do advogado. “Ele seria o verdadeiro dono do FIB Bank, sendo uma espécie de sócio oculto da empresa e, por ser amigo de Ricardo Barros, teria facilitado a emissão da carta de fiança em favor da Precisa”, acusou Calheiros.
As irregularidades com os acionistas do FIB Bank continuaram sendo levantados pela CPI. O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) trouxe à tona a transação entre uma empresa, MP Guaçu — cujos sócios já teriam morrido — e a firma que Ramos Júnior dizia representar. “O problema não é eles estarem mortos, faz parte da vida morrer. O problema é que eles fizeram movimentações junto à FIB Bank no dia 13 de agosto de 2021”, mostrou o senador.
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Para Celina, Congresso é moderador
Diante dos repetidos ataques do presidente Jair Bolsonaro ao Supremo Tribunal Federal (STF) e à Justiça Eleitoral, a deputada federal Celina Leão (PP-DF) defendeu que o Congresso deve intermediar o diálogo entre os Poderes. Foi durante entrevista, ontem, ao CB.Poder, parceria entre o Correio Braziliense e a TV Brasília. “O Congresso tem sido o fiel da balança nessa questão da manutenção da democracia, na construção de diálogo. Meu sentimento hoje é de que o Ccongresso é quem tem trazido estabilidade ao país”, observou. Questionada sobre as ameaças do presidente, Celina defendeu o papel de intermediador do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), nessa queda de braço: “O Arthur é muito equilibrado. Ele sabe que essa guerra não é boa para ninguém, nem para o presidente, nem para o Supremo, nem para o país”.