PEC

Decisão de levar voto impresso ao plenário tem jeito de 'enterro de luxo'

A reunião de segunda-feira, entre Lira e os líderes partidários, já dará a temperatura das bancadas em relação à PEC do voto impresso

A decisão do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), pode ser parte da estratégia para sepultar definitivamente uma agenda do presidente Jair Bolsonaro que, segundo analistas e interlocutores dos bastidores do Congresso, tem por único objetivo tumultuar o processo eleitoral de 2022, ante a hipótese de ser derrotado na corrida presidencial ainda no primeiro turno — conforme vêm apontando as recentes pesquisas de opinião. Uma vez derrubada pelo conjunto dos deputados, se daria um “enterro de luxo” à proposta de emenda constitucional apresentada pela deputada Bia Kicis (PSL-DF) e relatada pelo deputado Felipe Barros (PSL-PR), ambos bolsonaristas de primeira hora.

A reunião de segunda-feira, entre Lira e os líderes partidários, já dará a temperatura das bancadas em relação à PEC do voto impresso. Semanas atrás, 11 legendas fecharam questão contra a proposta e o cálculo político é de que esse número se mantenha inalterado nesse encontro que definirá o momento de o texto ir ao plenário. Algumas delas, inclusive, são parte da base bolsonarista, como o antigo partido do presidente, o PSL, o PP e o DEM. A certeza é de que, pelo menos esses três, marcharão divididos na votação — o primeiro por abrigar os mais ferozes apoiadores do presidente, os outros dois por terem ministérios no governo.

Nos bastidores, trabalha-se com a expectativa de que os integrantes do Centrão liberem a bancada, para que o deputado possa votar conforme a própria consciência. Mas, outros partidos do grupo dos 11, devem fechar questão pela derrubada da PEC, como PSDB, Solidariedade, Cidadania, MDB, Avante e PSD — e, além deles, representantes da esquerda, como PT, PSol e PCdoB.

Mesmo os mais otimistas defensores do voto impresso sabem que o sarrafo para a aprovação da PEC é alto: é preciso que o Palácio do Planalto obtenha 308 votos a favor, em dois turnos de votação. Nos bastidores, nem mesmo a exoneração temporária de deputados que atualmente são ministros, e voltariam à Câmara apenas para a votação, seria capaz de turbinar números favoráveis à proposta.

Reações
Enquanto parlamentares da base veem na decisão de Lira uma nova oportunidade de fazer passar a proposta, oposicionistas e independentes criticaram o presidente da Casa, sobretudo por justificar a decisão de que levar o tema ao plenário é “expressão da democracia”. A presidente nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), avaliou que o argumento traz efeito inverso. “Se está preocupado com a democracia, por que não leva o impeachment para o plenário decidir?”, questionou. São mais de 120 pedidos de afastamento acumulados na mesa da presidência da Câmara.

Líder do PSol da Câmara, a deputada Talíria Petrone (RJ) disparou indignada: “Lira e Bolsonaro são a mesma coisa”. A colega de bancada Sâmia Bomfim (SP) acusou Lira de mergulhar “no golpismo de Bolsonaro”. “É o momento de pressionar com firmeza os deputados para que possamos derrotar essa insanidade golpista de uma vez por todas”.

Defensor da PEC, o deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ) comemorou a decisão de Lira. “Esse é o momento de cobrar o seu deputado, para garantir um processo democrático limpo, transparente e pleiteado por nós”, publicou.

Outro bolsonarista, Marcio Labre (PSL-RJ), disse acreditar que com no plenário “existem chances reais de reversão” da decisão na comissão especial.