Poder

Entre "liberdade" e "socialismo"

Em evento promovido por Eduardo Bolsonaro, Donald Trump Jr., filho do ex-presidente dos EUA, minimiza as mortes por covid e afirma que o Brasil enfrenta polarização intensa. Também convidado, Jair Bolsonaro renova críticas ao Judiciário

Cristiane Noberto Fernanda Strickland
postado em 05/09/2021 00:24 / atualizado em 05/09/2021 01:54
 (crédito: Terça Livre TV/YouTube)
(crédito: Terça Livre TV/YouTube)

No segundo dia da Conferência de Ação Política Conservadora Brasil 2021 (CPAC Brasil 2021), realizada em Brasília, os participantes receberam uma mensagem direto dos Estados Unidos. “O que vimos no meu país é só uma planta do que vai acontecer no Brasil”, avisou Donald Trump Jr, filho do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump. Convidado para participar do evento, Trump Jr. ficou perto de embarcar rumo ao Brasil. Mas o furacão Ida, que está devastando a costa leste norte-americana, impediu o executivo de viajar. Assim, o filho do republicano enviou um vídeo para o encontro.

Trump Jr. vê um cenário decisivo para o Brasil nas eleições de 2022. Ele afirma que o país enfrentará, no próximo ano um cenário político similar ao dos EUA. “Vocês têm dois opostos muito grandes, acho que até maior do que a loucura que vimos aqui nos EUA no ano passado. [...] Vocês vão no caminho do socialismo ou permanecem fortemente para a liberdade? Para mim, não há nem o que pensar, mas não podemos cometer o erro de presumir que estamos em uma luta justa”, alertou.

O executivo disse não existir um país no mundo que tenha uma experiência eficiente com o socialismo e exaltou o presidente brasileiro Jair Bolsonaro. “Olhe a Venezuela, olhe Cuba, eles começaram esses experimentos, 30 a 40 anos atrás, e onde isso os levou? No Brasil, vocês têm uma coisa muito parecida com os Estados Unidos. Vocês têm alguém que acredita na liberdade, na independência, no livre arbítrio. Lutem pela liberdade, vocês só vão perdê-la se ficarem em seus sofás sem fazer nada”, disse.

O herdeiro de Donald Trump aproveitou o espaço para reforçar o discurso criado pela extrema-direita na América do Norte. E endossou falas negacionistas sobre a covid-19. “Nos EUA, se você disser que o vírus chinês poderia ter se originado de um laboratório, você pode ser punido. É uma tirania”, protestou. Sem citar a doença, o executivo minimizou a gravidade do coronavírus, dizendo que a enfermidade tem “99,997% de índice de sobrevivência após a infecção. Quem disse que os 0,003% restantes não tinham condições pré-existentes? Impediram crianças de ir à escola e famílias de ir à igreja. Tomaram a liberdade. Por isso, é preciso estarmos atentos a quem vamos colocar no poder”, afirmou o norte-americano.

Donald Trump Jr era a principal atração do evento ultraconservador promovido pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que começou na sexta (2). Mas o executivo não conseguiu chegar ao Brasil. Ele explicou que o motivo foram as panes elétricas no avião, causadas pelo furacão Ida. “Eu queria muito estar aí, mas não consegui. Mesmo com várias tentativas e novo adiamento, não daria mais tempo”, lamentou.

“Tom errado”
Jair Bolsonaro chegou ao final do evento. O mandatário discursou por cerca de 15 minutos e foi ovacionado a cada ataque que fazia aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), mesmo sem citar nomes. O chefe do Executivo afirmou que todos estão passíveis a erros, porém, uma virtude, é reconhecer e voltar atrás. “Mas, infelizmente temos um ministro no Supremo que está dando um tom totalmente errado”, acusou Bolsonaro.

Mesmo sem citar nomes, Bolsonaro fez referência ao ministro Alexandre de Moraes, que determinou na sexta (3) a prisão do blogueiro bolsonarista Wellington Macedo e do caminheiro Marcos Antônio Pereira, o Zé Trovão, que está foragido. Lá [no STF] todos devem zelar pela Constituição. Este ‘um’ está contaminando a nossa democracia, está simplesmente ignorando vários incisos do art. 5 da Constituição. Está ignorando um outro dispositivo da nossa Constituição que fala sobre liberdade de expressão”, ressaltou o presidente.

Críticas ao TSE
O mandatário afirmou que o Sete de setembro será uma data fundamental e enviará um recado ao STF. “O retrato que nós queremos nesse dia é um retrato de vocês. Uma imagem vale mais que um milhão de palavras. Essa imagem é o nosso passaporte para mostrar àqueles pouquíssimos que ousam brincar com a Constituição Federal, com nossos direitos, e falar: não vai ficar fazendo gracinha, nem prender gente que, segundo eles, extrapolou a liberdade de expressão”, disse.

Bolsonaro destacou que “ninguém irá ao 7 de setembro para elogiar ou idolatrar político ou parlamentar. Nós vamos todos juntos falar que com a nossa liberdade, não. Eu jurei dar a minha vida pela pátria, vocês juraram pela liberdade”, acrescentou o presidente, sob aplausos da plateia.

O chefe do Executivo ainda dirigiu críticas ao ministro Luis Felipe Salomão, integrante do Tribunal Superior Eleitoral e corregedor-geral da Justiça Eleitoral. Bolsonaro referiu-se à decisão da corregedoria eleitoral de interromper a monetização de páginas na internet que veiculam desinformação. “Não podemos continuar aceitando que um ministro do TSE, conhecido como um pessoa pacata, de fala mansa. Alguém que nunca vi sendo acusado de nada. De repente, se agiganta e começa a desmonetizar páginas por aí. Se ele pode fazer isso no TSE, os corregedores dos tribunais regionais também poderão fazê-lo. Daqui a pouco vira a casa da mãe joana”, disparou.

 

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