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Radicais tentam invadir STF

Grupo de bolsonaristas continua acampado na Esplanada, com discursos exaltados contra o Supremo. Após pronunciamento de Luiz Fux, ensaiaram depredar a sede do Judiciário. Mais cedo, hostilizaram jornalistas, que se refugiaram no Ministério da Saúde

» Luana Patriolino » Cristiane Noberto
postado em 09/09/2021 00:13
 (crédito: Minervino Júnior/CB)
(crédito: Minervino Júnior/CB)

Centenas de apoiadores de Jair Bolsonaro que vieram para a manifestação do 7 de setembro e continuam acampados na Esplanada dos Ministérios, tentaram invadir o Supremo Tribunal Federal, ontem, atendendo ao chamamento do presidente — que várias vezes, antes do ato de apoio a ele e ao governo, falou em destituir os ministros da Corte. O vandalismo foi depois que o presidente do STF, Luiz Fux, fez um duro pronunciamento em resposta a Bolsonaro. Uma barreira policial impediu que os manifestantes chegassem próximo à sede do Judiciário.


Os ânimos ficaram exaltados sobretudo porque Fux afirmou que não mais toleraria movimentos golpistas e intransigência. E ainda frisou que as ameaças de Bolsonaro, se colocadas em prática, configuram “crime de responsabilidade”, o que pode levá-lo ao impeachment.


Um carro de som no canteiro central da Esplanada tornou-se palco dos apoiadores do presidente, que se revezavam em discursos. Um dos manifestantes bradava contra os ministros do Supremo. “Urubus, vocês não são supremos. Nós vamos derrubar vocês”, ameaçou.


Já um dos bolsonaristas afirmou, também do alto do carro de som, ter em mãos uma carta para entregar ao presidente com reivindicações como a aprovação da PEC 103, que trata do voto impresso — sepultada pelo plenário da Câmara em julho —, a auditoria das eleições — que já são auditadas —, além de recolhimento dos passaportes e prisão dos 11 ministros do STF.

Solidariedade

Os manifestantes ainda prestaram solidariedade ao cantor e ex-deputado Sérgio Reis, ao presidente do PTB, Roberto Jefferson — preso por incitação à violência contra os membros do Supremo — e ao caminhoneiro Marcos Antônio Pereira Gomes, o Zé Trovão, que está com prisão preventiva decretada pelo ministro Alexandre de Moraes, mas está foragido desde 3 de setembro.


Os governistas anunciaram que protocolaram um pedido de prisão contra Moraes, na noite de ontem — mas não disseram onde. As justificativas do documento são “crimes de tortura” e “decisões inconstitucionais”, e teria sido assinado pela Ordem dos Advogados Conservadores do Brasil e pela Marcha da Família. O grupo também pendurou várias faixas com dizeres antidemocráticos e uma delas pede o fechamento do Congresso e a instauração de um regime militar, atos considerados criminosos pela Constituição. “Exigimos a imediata destituição de todos os ministros do STF e a criminalização do comunismo”, propõe uma delas.


Mais cedo, esse mesmo grupo de radicais tentou agredir um grupo de jornalistas, que precisou se abrigar na sede do Ministério da Saúde — que fica próximo ao acampamento dos bolsonaristas. Em nota, o Sindicato de Jornalistas do Distrito Federal afirmou que os profissionais ficaram dentro da sede da pasta. Já a Polícia Militar informou ao Correio que se tratava de uma “confusão” entre os manifestantes e a imprensa — mas ninguém saiu ferido ou escoltado.


O ministério confirmou a tentativa de invasão. “O pessoal (bolsonarista) tentou entrar, mas os seguranças não deixaram”, disse uma nota da assessoria de comunicação.

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Deputado: atos foram antessala do golpe

O teor das manifestações de 7 de setembro significam a preparação para um golpe, sobretudo porque, durante os atos, o presidente Jair Bolsonaro fez, mais de uma vez, ameaças às instituições e estimulou desobediência às decisões do Supremo Tribunal Federal (STF). A análise é do deputado Professor Israel Batista (PV-DF) e expressada na edição de ontem do CB.Poder — realização do Correio Braziliense em parceria com a TV Brasília.


Para o parlamentar, a incitação promovida por Bolsonaro deixam nítidos crimes cometidos pelo chefe do Executivo, algo que embasaria a abertura de um processo de impeachment. “O que muda, essencialmente, é que, antes, as falas do presidente permitiam debate entre os juristas. Porém, o discurso de Bolsonaro em São Paulo não permite mais que juristas discordem sobre o crime de responsabilidade e o ataque às instituições”, disse. E acrescentrou: “Não podemos desconsiderar que o estresse das instituições nunca foi tão grande desde a redemocratização”.


Batista considera pequena, mas barulhenta, a quantidade de apoiadores de Bolsonaro, mas nem por isso menos perigosa. “Apesar de o presidente ter apoio de uma parte minoritária da população, que acredita ser maioria, essa parcela está radicalizada, já definindo seus adversários — que infelizmente são instituições democráticas, sobretudo o Supremo Tribunal Federal. Ele constrangeu o Supremo abertamente, citando o ministro Alexandre de Moraes”, salientou.
O deputado considera que as instituições não estão dando uma resposta à altura que o momento exige. Segundo Batista, “estão trabalhando com o cenário de respeito às regras do jogo, trabalham com um político que pretende disputar eleições. Mas Bolsonaro mostrou que as eleições são um detalhe no projeto de tomada do poder”.


Essa fraqueza institucional, de acordo com Batista, pode ser observada no pronunciamento do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL): “Ele ainda não está entendendo que o momento não é de normalidade e acredita na possibilidade de se abrir diálogo. Mas Bolsonaro não quer diálogo”, sintetizou.

*Estagiário sob a supervisão de Fabio Grecchi

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