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Com oposição dividida, atos contra Bolsonaro têm baixa adesão

Entoando "Fora Bolsonaro" e pregando o respeito às instituições, manifestantes foram às ruas em 15 capitais, como Brasília, São Paulo e Rio, neste domingo, em defesa da democracia e pelo impeachment do presidente

Fernanda Fernandes  
postado em 13/09/2021 06:00 / atualizado em 13/09/2021 07:16
 (crédito: Bárbara Cabral/Esp.CB/D.A Press)
(crédito: Bárbara Cabral/Esp.CB/D.A Press)

O domingo (12/09) foi marcado pelas manifestações contra o presidente Jair Bolsonaro, convocadas em 15 capitais. Os protestos, organizados pelo Movimento Brasil Livre (MBL) e pelo Vem Pra Rua (VPR), a princípio, mantinham o slogan “Nem Bolsonaro, nem Lula” e tinham apoio apenas de partidos liberais, que buscam pela terceira via para as eleições de 2022. Após os atos pró-Bolsonaro no feriado da Independência, os grupos resolveram convidar a esquerda para unir forças pelo impeachment do presidente.

Logo pela manhã, os atos contra o governo começaram no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte. Ao mesmo tempo, em Brasília, ainda ocorria movimento pró-Bolsonaro, com baixa adesão da população. À tarde, foi a vez de a oposição se reunir na Esplanada dos Ministérios, na capital federal, e na Avenida Paulista, em São Paulo. Apesar de o número de participantes ter sido bastante inferior ao visto em 7 de setembro, a diversidade de espectros políticos entre os manifestantes foi o que chamou a atenção.

Mauro Vinícius da Silva, membro do Comitê Regional do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e secretário-geral da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), afirmou que não é de hoje que o PCdoB defende a unificação das vozes contra o atual governo. “Há bastante tempo a gente defende que apenas uma frente ampla, que una não só a esquerda, mas todos os democratas e patriotas, é capaz de derrotar o Bolsonaro e o fascismo”, afirmou o bancário e sociólogo, durante o ato em Brasília.

A unificação, apesar da baixa adesão, foi confirmada neste domingo, quando a pluralidade política e a ideológica se misturaram entre as bandeiras nas ruas. O verde e amarelo e o vermelho conviveram entre faixas e camisetas com frases em defesa da democracia e contra o autoritarismo de Bolsonaro. Muitos optaram pelas vestimentas brancas, como forma de mostrar imparcialidade.

Uma dessas pessoas foi Rodrigo Galletti, servidor público, de 45 anos, que participou dos protestos de forma apartidária. “Estou focado no Fora, Bolsonaro”, disse. “O país de Bolsonaro é um país armado, misógino e preconceituoso, baseado em um cristianismo distorcido. Não é o país que quero para mim, nem no presente, nem no futuro”, desabafou. Sobre a escolha da cor branca, completou: “Tomaram posse da nossa bandeira e das nossas cores”.

Omissão criticada

A bancária Keila Rocha e o marido, Dayberth Gottschalk, mandaram confeccionar camisetas personalizadas contra o presidente Bolsonaro. “Os ataques à democracia jogam fora opinião partidária, colocam em risco qualquer ideologia partidária. O importante, neste momento, é que a gente está vivendo um governo omisso, com desemprego, falta de vacina, pandemia gritante, miséria latente, e todos que são contra essa situação e que estão vivendo isso devem se unir para que não se repita o que ocorre hoje, em 2022”, afirmou a moradora de Brasília.

Segundo Silva, o partido tem esperanças de ver um movimento muito maior em 2 de outubro. “Não houve da parte do PT, PSol ou do Fora Bolsonaro nenhum ataque. A gente quer que todos estejam juntos em 2 de outubro, não para fazer campanha eleitoral, mas para garantir que as eleições de 2022 aconteçam e sejam válidas”, disse o militante do PCdoB.

O protesto de 2 de outubro citado por Silva foi convocado pelo PT que, ao contrário de PDT, PCdoB e PSB, se recusou a participar das mobilizações deste domingo, sendo seguido pelo PSol na decisão. Um dos motivos para a resistência dos principais líderes de esquerda em apoiar o movimento é o fato de os dois grupos organizadores das manifestações terem encabeçado os protestos que levaram à derrubada da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), em 2016.

Também presente nos atos em Brasília, o presidente regional do Cidadania, Chico Andrade, lamentou a ausência do PT e PSol. “Isso aqui é só o começo, as pessoas estão se dando conta. Foi uma pena terem se negado (PT e PSoL), a gente teria botado muito mais gente na rua”, afirmou. Andrade mantém a esperança de que o movimento ganhará força e de que a pauta do impeachment ganhará adesão no Congresso Nacional. “(Essa manifestação) representa o sentimento de 70% da população, isso é o início, crescerá a adesão pelo impeachment dentro do Congresso. Vamos nos unir para tirar Bolsonaro. Ou todo mundo se une, ou briga por mais dois anos. E ele vai tentar golpe mais uma vez”, alertou o representante do Cidadania. Até o momento, nenhuma Polícia Militar dos estados ou organizadores divulgaram a estimativa de público das manifestações.

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Ato em apoio ao presidente reúne público pequeno na Esplanada

A reportagem identificou um grupo com cerca de 30 pessoas, na Esplanada dos Ministérios

 (crédito: Bárbara Cabral/Esp.CB/D.A Press)
crédito: Bárbara Cabral/Esp.CB/D.A Press

A manifestação de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro, que começou às 9h e terminou por volta das 14h deste domingo (12/09), também teve baixo movimento. A reportagem identificou um grupo com cerca de 30 pessoas, na Esplanada dos Ministérios, onde eles percorreram com um carro de som desde o Museu Nacional até a Avenida José Sarney, paralela à Avenida das Bandeiras.

Durante a maior parte da manhã, a Polícia Militar contou com dois carros no bloqueio feito próximo à Rodoviária do Plano Piloto. Por volta das 10h20, um carro de uma motorista de Goiânia, em visita a Brasília, foi liberado para passar pelo bloqueio policial, pois precisava ir no sentido Asa Sul. Um policial explicou que autorizaram a passagem dela pelo fato da mulher não “saber andar muito bem na cidade”. A princípio, as vias S1 e N1 teriam de ficar bloqueadas para o trânsito de veículos.

A aposentada Ivone Luzardo, 62 anos, veio do bairro Jardins Mangueiral para a manifestação. “Estamos em um grupo pela liberdade de expressão e pelo passaporte sanitário, porque não concordamos que as pessoas percam o direito de decisão e a liberdade de expressão, de ir e vir. Nosso presidente já fez o que era necessário fazer, que é a carta. Os grandões não queriam sair humilhados, mas ele se humilhou”, diz a mulher, ao se referir à carta de harmonia entre os Poderes, enviada por Bolsonaro.

O grupo também protestou contra a obrigatoriedade de vacinação. “Também não somos contra as pessoas que tomam a vacina, mas não podemos permitir o abuso de governo, que impõe a obrigatoriedade, haja vista as vidas ceifadas. Não ao passaporte sanitário”, protestou.

A moradora de Limeira (SP) Arlete Estrella Camargo, 60, explica que a manifestação de ontem foi apenas para marcar presença. “Viemos mais para marcar presença contra os manifestantes de esquerda, e destacar que somos contra o passaporte de vacinação, que tira a liberdade das pessoas. Acredito que daqui para frente, os impactos políticos estão sendo colocados e aprovados. O nosso presidente precisa de cada um de nós”, comentou.

O casal de namorados Luana Carollyne, 22, e Ítalo Cardozo Rodrigues, 23, vieram de Samambaia Norte para vender água, refrigerante e cerveja ao longo das duas manifestações de ontem. Pela manhã, ficaram espantados com a pouca quantidade de manifestantes bolsonaristas. “Assim que a gente olhou, ficamos espantados achando que não vai vir tanta gente. Viemos para ficar o dia todo e vender na outra manifestação também”, diz Ítalo. Mesmo com o baixo movimento, o comerciante acredita que as vendas vão ajudar na renda familiar. “Além dos custos com combustível e comida, tenho uma parcela de moto que eu pago também. A venda de terça-feira foi boa também. Sobrou só um engradado de água”, recorda.

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