INVESTIGAÇÃO

CPI da Covid: depoimentos vão focar na Precisa e nomes próximos a Bolsonaro

O vice-presidente da CPI da Covid defende ao menos mais duas semanas de trabalho, mas há senadores que preferem que o relatório seja antecipado para o próximo dia 24

Tainá Andrade
Rafael Felice
postado em 18/09/2021 06:00
Randolfe (de costas), Aziz e Renan: pressão para apresentar o relatório da CPI na próxima semana -  (crédito: Edilson Rodrigues/Ag?ncia Senado)
Randolfe (de costas), Aziz e Renan: pressão para apresentar o relatório da CPI na próxima semana - (crédito: Edilson Rodrigues/Ag?ncia Senado)

Fontes que acompanham o trabalho da CPI estimam que seriam necessárias mais 100 convocações para esgotar a investigação referente aos atos e omissões do Executivo em relação à pandemia. Para o senador Randolfe Rodrigues, três depoentes são considerados prioritários nesta fase final da apuração: “Danilo Trento (diretor da Precisa Medicamentos), Karina Kufa (advogada de Bolsonaro) e Ana Cristina (ex-mulher do presidente da República), nessa ordem. O mais importante é o Danilo”, disse o senador.

Danilo Trento seria ouvido na última quinta-feira, mas a CPI não conseguiu notificá-lo por endereços, telefone e nem por e-mail. Na tarde de ontem, o empresário, de 36 anos, havia entrado com pedido de habeas corpus no Supremo Tribunal Federal (STF) para ter o direito de ficar em silêncio, mas retirou a solicitação no início da noite, o que indica interesse em contribuir com as investigações. O depoente que iria substituí-lo, o diretor-executivo da Prevent Senior, Pedro Batista Jr, tampouco compareceu ao depoimento. A ausência foi justificada pelo prazo entre sua notificação e o horário marcado para a reunião. O vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues, afirmou que Batista estaria disposto a depor.

Karina Kufa entrou na mira da CPI após a quebra do sigilo telefônico do lobista Marconny Faria indicar uma série de diálogos entre os dois. As conversas, interceptadas pelo Ministério Público Federal do Pará, mostram discussões que envolvem a indicação de Márcio Roberto Teixeira Nunes para um cargo no Instituto Evandro Chagas, vinculado ao Ministério da Saúde. Márcio Nunes foi preso em outubro pela PF por suspeitas de desviar R$ 1,6 milhão.

A convocação de Ana Cristina Valle, ex-esposa de Jair Bolsonaro, também entrou para a lista porque trocas de mensagens revelaram seu envolvimento em tratativas políticas com Marconny Faria. Em requerimento, o senador Alessandro Vieira destaca que Marconny “entrou em contato com o Palácio do Planalto para exercer influência no processo de escolha do defensor público-geral federal junto ao então Ministro da Secretaria Geral da Presidência e atual Ministro do TCU, Jorge Oliveira”. O lobista também ajudou Jair Renan, filho de Bolsonaro e Ana Cristina, a abrir a empresa Bolsonaro Jr Eventos e Mídia, que está em investigação.

Outro nome no radar dos senadores é o do ex-presidente da CBF Marco Polo Del Nero. Banido do futebol pela Federação Internacional de Futebol (Fifa), por escândalos de corrupção, o dirigente pode ter informações sobre como opera o dono da Precisa, Francisco Maximiano. Em 2014, outra empresa de Maximiano, a Global, pagou R$ 7 milhões ao escritório Marco Polo Del Nero Advogados Associados, que tem como um dos sócios o próprio Del Nero.

Este não seria o primeiro inquérito a rondar Marco Polo Del Nero, intimado pelos senadores Romário (PL/RJ) e Randolfe Rodrigues a depor no inquérito em 2015 e 2016 na CPI do futebol. Há um mês, Randolfe havia manifestado interesse em convocar o dirigente, mas a iniciativa não prosperou. “Eu acho que tem que convocar, mas existe uma pressão para fechar o relatório. As informações que o Del Nero recebeu, recursos, e a relação dele com os lobistas da Precisa, não é dos argumentos mais fortes, mesmo assim acho que ele deveria ser convocado”, explicou Randolfe.

O vice-presidente da CPI da Covid defende ao menos mais duas semanas de trabalho, mas há senadores que preferem que o relatório seja antecipado para o próximo dia 24. Segundo o relator, senador Renan Calheiros (MDB/AL), a decisão será tomada em colegiado. “O relatório é o produto do que a comissão quer e pensa. A tarefa com que me honraram foi exatamente essa, e eu vou me adequar ao seu cumprimento”, enfatizou. 

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