Protesto contra homofobia

Depoimento do empresário Oscar Fakhouri à CPI da Covid confirma que ele fez pregação contra a vacina e a medidas de proteção durante a pandemia. Mas também expôs o nível dos ataques contra o senador Fabiano Contarato, que o repreendeu duramente

» Tainá Andrade » Raphael Felice
postado em 30/09/2021 23:47 / atualizado em 30/09/2021 23:47
 (crédito: Credito:Edilson Rodrigues/Agência Senado)
(crédito: Credito:Edilson Rodrigues/Agência Senado)

O depoimento de Otávio Fakhouri, ontem, à CPI da Covid, expôs as conexões do investidor bolsonarista com a rede de disseminação de desinformações sobre a pandemia do novo coronavírus. Ao afirmar que não vacinou nem a si nem à família por serem as vacinas “experimentais” — no que foi desmentido imediatamente pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que divulgou vídeo afirmando que toda a documentação dos medicamentos foi analisada para que pudesse ser aplicada na população —, apenas confirmou que espalhou mentiras nas redes sociais a título daquilo que ele acredita ser “liberdade de expressão”. Mas não ficou apenas nisso: Fakhouri foi cobrado pelos senadores pelas permanentes mensagens de ódio que compartilha, pelos posts agressivos nos quais tenta desqualificar medidas de contenção ao avanço da covid-19 e, sobretudo, comentários preconceituosos contra políticos que fazem oposição ao governo Jair Bolsonaro — que negou conhecer pessoalmente.


A homofobia do empresário foi exposta logo no começo da oitiva. O senador Fabiano Contarato (Rede-ES) cobrou de Fakhouri um comentário que fizera contra ele — que é homossexual assumido — por ter errado a grafia de uma palavra. Foi colocado no comando da sessão pelo presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), que lhe cedeu a cadeira.


“O senhor retrata muito bem esse presidente da República, que fala na família tradicional. Mas a minha família não é pior do que a sua. Porque a mesma certidão de casamento que o senhor tem, também tenho! Que fala na pátria, que fala na legalidade, que fala moralidade. Mas o senhor é o principal violador dessa legalidade e moralidade. Nada vai tirar a dor que o senhor me causa. O senhor nunca me viu, nunca conheceu minha família, não conheceu meus filhos. Nada dá direito de fazer o que o senhor fez, porque essa dor é incomensurável. Não tem dinheiro que pague isso. Estou expondo minha família, meus filhos, meu esposo para que outras pessoas não passem pelo que eu passei”, desabafou Contarato, que obteve a solidariedade de todos os senadores presentes ao depoimento.


Depois da descompostura, Fakhouri, constrangidamente, se desculpou e atribuiu o comentário preconceituoso a uma “brincadeira” de mau gosto. “Realmente, o meu comentário foi infeliz, em tom de brincadeira. Porém é uma brincadeira de mau gosto. Declaro que meu comentário não teve a intenção de ofender, e sei que, se ofendi, foi profundamente”, disse.

Venda de vacina

O empresário, porém, foi confrontado pelos senadores com suas atuações nas redes sociais e em defesa do governo Bolsonaro. Incluído em dois inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF) — o das fake news e o das milícias digitais que atacaram ministros e pediram o fechamento da Corte —, foi levado a explicar seu envolvimento com o Instituto Força Brasil, cuja página na internet faz vigorosa defesa de pautas inconstitucionais e também desinforma sobre a vacina contra a covid-19 e a doença. Fakhouri teve de se justificar por que é vice-presidente de uma entidade que tentou intermediar venda de vacinas para o Ministério da Saúde se não acredita nelas. O IFB é comandado pelo coronel da reserva do Exército Hélcio Bruno de Almeida, que se calou no depoimento à CPI e se apresentou como representante da Davati Medical Supply, que teria “acesso” a imunizantes da AstraZeneca e da Janssen.

“Eu não participava da gestão, não tenho nenhum ato de gestão ali”, disse Fakhouri, acrescentando desconhecer a venda de vacinas e acrescentando que investiu no Força Brasil por “filantropia”. “Tivemos uma reunião onde está sendo deliberada se vai trocar a diretoria toda, se vai entrar pessoas novas ou se vai ser extinto. Estamos tendo uma discussão se vai ser extinto ou não”, salientou.

Ao ser questionado sobre a disseminação de informações falsas sobre o uso de máscaras e por defender o ineficaz “tratamento precoce”, o empresário afirmou que fazia uso da “liberdade de expressão”. Os senadores, porém, o retificaram apontando que ele cometia crime, pois usava as redes sociais para induzir pessoas a conceitos errados.

“O senhor tem liberdade de expressão, a Constituição lhe assegura, mas, durante uma crise sanitária, quando as pessoas estão morrendo, advogar por imunidade de rebanho, financiar isso, não é liberdade de expressão. É crime tipificado no código penal”, afirmou o vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP). (Colaborou Fabio Grecchi)

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MP denuncia Maximiano por corrupção

O Ministério Público Federal (MPF) ofereceu denúncia por organização criminosa, corrupção e lavagem de dinheiro contra o empresário Francisco Maximiano, dono da Precisa Medicamentos por participação em um suposto esquema que teria favorecido a empresa Global Gestão em Saúde em um contrato com os Correios. A investigação aponta o pagamento de R$ 2,5 milhões em propinas pela empesa, entre 2011 e 2014, em troca da venda de um serviço de seguro para remédios aos funcionários da estatal.


De acordo com as apurações, o convênio com a Global Saúde foi fechado através da Fentect, entidade privada que recebe recursos dos Correios, para burlar a necessidade de licitação. Em um primeiro momento, a adesão ao plano por parte dos trabalhadores era voluntária. Na fase inicial, Maximiano pagaria uma propina de R$ 50 mil mensais para Romano e Freitas. Em 2013, foi criada a Postal Saúde, entidade sem fins lucrativos que passou a ser responsável pela gestão de saúde dos funcionários dos Correios, incluindo o contrato com a Global.


No ano seguinte, a adesão ao Vale Medicamento passou a ser obrigatória, o que fez com que o faturamento da Global Saúde pulasse de aproximadamente R$ 800 mil para R$ 3,2 milhões, segundo a investigação. Como resultado, o valor das propinas pagas também quadruplicou, passando de R$ 50 mil para R$ 200 mil mensais, de acordo com o MPF.

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