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Arcebispo faz apelo contra armamento

Em missa no Santuário Nacional de Aparecida, Dom Orlando Brandes afirma que, "para ser pátria amada", Brasil "não pode ser pátria armada". Bolsonaro participa de celebração no templo e ouve gritos de apoio e de xingamentos

Israel Medeiros
postado em 12/10/2021 23:28 / atualizado em 12/10/2021 23:29
 (crédito: Bruno Castilho/Estadão Conteúdo)
(crédito: Bruno Castilho/Estadão Conteúdo)

Na visita ao Santuário Nacional de Aparecida, ontem, o presidente Jair Bolsonaro ouviu recados contundentes do arcebispo de Aparecida (SP), Dom Orlando Brandes, foi saudado pelo público com gritos de “mito”, mas também virou alvo de xingamentos, como “lixo” e “genocida”.


Na principal missa do dia, Brandes fez pregação contra o armamento da população, defendido por Bolsonaro. “Vamos abraçar nossos pobres e abraçar também nossas autoridades para que juntos construamos, então, um Brasil, pátria amada. E para ser pátria amada não pode ser pátria armada. Para ser pátria amada, seja uma pátria sem ódio. Para ser pátria amada, uma República sem mentiras e sem fake news. Pátria amada sem corrupção e pátria amada com fraternidade”, enfatizou.


O arcebispo também lembrou que o Brasil está enlutado pelas mais de 600 mil mortes na pandemia e se disse grato pela volta da esperança, com a chegada das vacinas. “Mãe Aparecida, muito obrigado porque na pandemia a senhora foi consoladora, conselheira, mestra, companheira e guia do povo brasileiro, que hoje te agradece de coração porque vacina, sim, ciência, sim, e a Nossa Senhora Aparecida junto salvando o povo brasileiro”, destacou.


Ele também cobrou a preservação da Amazônia. Citando a visita do Papa Francisco ao Brasil, em 2013, pediu um abraço aos índios, aos negros, às crianças, aos pobres. Questionado, depois da cerimônia, se suas palavras se referiam a Bolsonaro, o religioso disse que a mensagem se dirigia a todos os brasileiros. “Devemos respeitar as autoridades, mesmo discordando”, afirmou.


Bolsonaro não estava presente no momento da celebração. Ele assistiu a uma missa à tarde, ao lado dos ministros Marcos Pontes (Ciência, Tecnologia e Inovações) e João Roma (Cidadania). Na homilia, o padre José Ulysses da Silva, porta-voz do santuário, também fez referência indireta à postura armamentista do governo. “Se conseguíssemos abraçar a proposta de Jesus, nós seríamos um povo mais desarmado e fraterno”, disse.


O padre afirmou que “a vida é um valor que deve prevalecer sobre todo e qualquer outro valor, sobre nossos interesses políticos, econômicos e até religiosos”. Ele citou, ainda, o desemprego e as sequelas da covid-19. Segundo destacou, além do “dragão da pandemia”, há o “dragão da ganância”, que suga a vida de quem mais precisa.

Aglomeração

Durante a missa, Bolsonaro e ministros usaram máscara, embora a direção do santuário já tivesse decidido permitir a participação presidencial na celebração mesmo sem a proteção facial. Fora do santuário, porém, o chefe do Executivo dispensou o item de proteção. Ele causou aglomeração de apoiadores, que se espremeram nas grades de proteção para vê-lo. Houve, no entanto, manifestações contrárias. Embora a maioria dos presentes nas ruas fosse pró-governo, o chefe do Executivo ouviu gritos de “ladrão” e alguns opositores fizeram menção ao ministro da Economia, Paulo Guedes, alvo do megavazamento Pandora Papers, que revelou a existência de offshores de propriedade do ministro em paraísos fiscais.


Bolsonaro também foi chamado de “lixo” e “genocida”, e um chinelo foi arremessado do meio do público, mas não acertou o presidente. Após a passagem por Aparecida, ele retornou ao Forte dos Andradas, em Guarujá (SP), onde estava hospedado. Hoje, o chefe do Executivo continua no interior paulista, onde participa da entrega de títulos de regularização fundiária. (Com Agência Estado)

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