PODER

Entrevista de Bolsonaro e Guedes traz calma relativa ao mercado

Entrevista de Bolsonaro e Guedes aplacou a turbulência dos últimos dias, agravada pela debandada de integrantes da equipe econômica. Mas especialistas e operadores alertam que, com o anúncio do furo no teto de gastos, tensão sobre futuro das contas do país se mantém

Fernanda Strickland
Gabriela Bernardes*
postado em 23/10/2021 06:00 / atualizado em 23/10/2021 07:51
A calma relativa se deve ao anúncio da ampliação do teto de gastos, que manteve a tensão no ar -  (crédito: Pixabay/Divulgação)
A calma relativa se deve ao anúncio da ampliação do teto de gastos, que manteve a tensão no ar - (crédito: Pixabay/Divulgação)

A cena do presidente Jair Bolsonaro e do ministro da Economia, Paulo Guedes, lado a lado, na coletiva de ontem à tarde, trocando votos de confiança mútua, serviu para levar uma calma relativa ao mercado financeiro depois de uma semana de turbulências — agravada, sobretudo, pela saída de quatro integrantes da equipe econômica, na última quinta-feira. Isso deu forças para uma recuperação mínima, com o dólar em baixa de 0,71%, fechando a R$ 5,6273. Já a Bolsa brasileira (B3) estancou parcialmente as perdas, em queda de 1,34%, aos 106.269,18 pontos, após subir mais de 4%. Ainda assim, no acumulado dos últimos cinco dias, o Ibovespa teve perda de 7,28% — a pior semana em dois anos.

A calma relativa se deve ao anúncio da ampliação do teto de gastos, que manteve a tensão no ar. Tanto que bancos e operadoras preveem um novo aumento na taxa Selic — o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) se reúne nas próximas terça e quarta-feiras. O Crédit Suisse deu o alerta em seu briefing diário: “Não tem almoço grátis: fim do teto de gastos vai afetar o PIB e a inflação”, afirmou.

“O rompimento do teto foi bem precificado, e a aparição de Bolsonaro e Guedes juntos traz um pouco mais de tranquilidade, embora ninguém tenha gostado dessa notícia da semana, a ruptura do teto, uma medida populista, 100% voltada para eleição”, criticou Viviane Vieira, operadora de renda variável da B.Side Investimentos.

Segundo Leonardo Milane, sócio e economista da VLG Investimentos, “a debandada no Tesouro foi uma sinalização ruim, deixando Paulo Guedes isolado, o que explica a reação negativa, estressada, do mercado”. Para ele, a “poeira não está baixando”, com outros fatores de risco ainda pendentes no curto prazo, como a possibilidade de paralisação de caminhoneiros. “O estouro do teto mostra que o Guedes não está mais lá para impedir que seja furado”, observa.

Já o cientista político Nauê Bernardo Pinheiro ainda avalia como negativa a reação dos investidores, “mas é possível que a maior parte do mercado tenha percebido que a questão não é o ministro da economia, mas sim a falta de sinergia entre esse ministério e a ala política do governo”.

“Devem ter percebido que o problema não é Paulo Guedes, mas o governo como um todo”, salientou.
André Braz, economista da Fundação Getúlio Vargas, considera que a volatilidade cambial tem a ver com o clima de incerteza política e fiscal. “Após o pronunciamento, o que restou foi o agravamento das questões fiscais. Isso deve manter o ambiente de incerteza, que mantém o real desvalorizado, forçará a inflação e exigirá maior esforço da política monetária”, apontou.

A economista-chefe do Banco Ourinvest, Fernanda Consorte, ressalta que a percepção de risco segue alta.

“O dólar no patamar atual sugere que o mercado não gostou das mudanças fiscais, que ainda são vistas como ‘pedaladas’. Devemos ver ainda bastante volatilidade”, alertou. (Com Agência Estado)

*Estagiária sob a supervisão de Fabio Grecchi

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação