Poder

Petrobras sob novo ataque

Em reunião do G20, Bolsonaro reitera as críticas à estatal. Ele elogiou ainda o acordo firmado com a OCDE que prevê um imposto mínimo global de 15% para multinacionais. Único chefe de Estado não vacinado, o presidente exaltou o programa de imunização

Fernanda Strickland
postado em 30/10/2021 23:37

Reunido em Roma para o encontro do G20, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse que a Petrobras é um “problema”. Ele ainda reclamou da imprensa e disse quê a economia brasileira vai muito, diferentemente do que indicam os mais recentes índices. Bolsonaro comentou sobre a Petrobras em conversa informal com o presidente da Turquia, Recep Erdogan.
Ao lado dos ministros da Economia, Paulo Guedes, e do Itamaraty, Carlos França, Bolsonaro disse que a economia brasileira vai bem, apesar do crescimento da inflação, do alto desemprego e da supervalorização do dólar. E reforçou as críticas à estatal. “A economia está voltando bem forte. A mídia como sempre atacando, estamos resistindo bem. Não é fácil ser chefe de Estado em qualquer lugar do mundo. Petrobras é um problema. Mas estamos quebrando monopólios, com uma reação muito grande. Há pouco tempo era uma empresa de partido político. Mudamos isso”, disse.
Parte do incômodo presidencial com a Petrobras decorre da alta dos combustíveis. “É muito fácil: aumentou a gasolina, culpa do Bolsonaro. Eu tenho vontade. Já tenho vontade de privatizar a Petrobras”, disse há poucos dias.
No discurso aos líderes do G20, Bolsonaro disse que ainda há desafios para o crescimento econômico. “Apesar de termos motivos para comemorar, ainda restam desafios para alcançarmos crescimento econômico mais estável e equitativo”, afirmou. Ele elogiou o acordo de tributação internacional firmado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e ainda reiterou o compromisso do governo com as reformas estruturantes.
No início do mês, a OCDE anunciou um acordo entre 136 países, entre eles o Brasil, para cobrar um imposto mínimo global de 15% das multinacionais a partir de 2023. A taxação vai realocar mais de US$ 125 bilhões de lucros, nas contas da organização. “O histórico acordo concluído pelo G20 e por outros países sobre tributação internacional, no âmbito da OCDE, é também uma contribuição significativa para a sustentabilidade fiscal e econômica”, disse Bolsonaro.
Indiciado pela CPI da Covid por nove crimes e único chefe de Estado do G20 que não se imunizou contra o novo coronavírus, Bolsonaro elogiou o programa de vacinação brasileiro. “O Brasil se comprometeu com um programa extensivo e eficiente de vacinação, em paralelo a uma agenda de auxílio emergencial e preservação do emprego para a proteção dos mais vulneráveis. [...] Gradualmente, nossas economias recuperam-se à medida em que a crise sanitária é superada”, disse. Depois afirmou que o grupo formado pelas 20 principais economias do mundo precisa adotar “esforços adicionais” para garantir a produção de vacinas contra a Covid. “Os esforços do G20 deveriam concentrar-se no combate à atual pandemia, que continua a assolar muitos países”, finalizou o discurso.
André César, cientista político e sócio da Hold Assessoria Legislativa, observou contradições na participação do presidente em Roma. “Bolsonaro diz que é responsável pelo avanço da vacina no Brasil, quando ele mesmo é avesso à vacinação”.

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Guedes fala sobre OCDE

O ministro da Economia, Paulo Guedes, destacou, em Roma, o esforço brasileiro em ser membro pleno da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), organismo internacional de assessoria financeira independente. “O Brasil quer ter acesso à OCDE. Somos uma das maiores economias do mundo. Eles pedem nossa colaboração para fazer um acordo de tributação global, nós fizemos; pedem nossa colaboração para entrarmos no programa de mudanças climáticas. Nós, por outro lado, queremos ter acesso ao clube para discutir os problemas mais importantes da economia mundial”, disse Guedes, em entrevista à TV Brasil.
Segundo o ministro, o secretário-geral da OCDE, Mathias Cormann, é um “amigo do Brasil”. O australiano, destacou Guedes, está desenvolvendo uma análise das economias mais avançadas do mundo considerando o fluxo anual de poluição. “O Brasil emite, por ano, 1,7% de carbono na atmosfera. A China [que não faz parte da OCDE] expele 30%. Os Estados Unidos, 15%. A União Europeia, 14%. Tenho certeza que o secretário Mathias Cormann é um amigo do Brasil e vai analisar nosso pleito com a devida atenção e sensibilizar os outros membros”, disse.

Novos acessos

A decisão para a entrada do Brasil na organização, no entanto, depende da aprovação dos outros 38 sócios. Para integrar o grupo formado por países como Estados Unidos, México, Canadá, Chile, Colômbia e Costa Rica, desde 2017 o Brasil cumpre diversas normas — chamadas de instrumentos de aderência — em relação ao comércio. “Dos 247 requisitos para entrar na OCDE, o Brasil já satisfez 100 e aplicou para mais 60”, ressaltou Guedes.
A expectativa é de que assim que for aberta a fila para novos acessos, o Brasil seja um dos primeiros a ingressar no grupo. “Por outro lado, o Brasil vai se engajar na agenda de mudanças climáticas, tendo também esse olhar especial que nos permita receber por pagamentos de serviços ambientais. Se o Brasil preservou a natureza, ele tem que receber pela preservação dos serviços ambientais. O secretário-geral está muito atento”, afirmou Guedes.
Especificamente sobre a reunião do G20, o ministro disse que o grupo tem três preocupações comuns: o acesso à vacinas no mundo; a recuperação da economia pós-crise; e a redução do uso de combustíveis de matrizes não renováveis, como petróleo e carvão, para preservar o meio ambiente. (Agência Brasil)

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