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Verba para ciência cai 87%

Recursos para investimento em estudo e pesquisa descem de R$ 690 milhões para R$ 89 milhões, por indicação do Ministério da Economia, que promete devolver o dinheiro. Entidades alertam que supressão dessa magnitude prejudica o desenvolvimento do país

A área de pesquisa no país sofreu mais um duro golpe: um corte de 87% no repasse da verba destinada ao Ministério da Ciência e Tecnologia. A notícia pegou o setor de surpresa, pois muitos estudiosos e acadêmicos contavam com a verba para continuar desenvolvimentos em diversas áreas. A decisão, que partiu do Ministério da Economia, fez com que o orçamento da pasta dirigida pelo coronel Marcos Pontes caísse de R$ 690 milhões para apenas R$ 89 milhões — a equipe de Paulo Guedes, porém, afirma que a proposta orçamentária para 2022 devolverá os recursos.

Diante do impacto da supressão quase completa de recursos, entidades ligadas à pesquisa e à ciência — entre elas a Academia Brasileira de Ciência, a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) e o Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap) — encaminharam ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), nota conjunta de protesto contra a decisão da Economia, que teria proposta por Guedes. “A modificação do PLN 16, feita na última hora, pela Comissão Mista do Orçamento do Congresso Nacional, atendendo a ofício enviado ontem pelo ministro da Economia, subtrai os recursos destinados a bolsas e apoio à pesquisa do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovações e impossibilita projetos já agendados pelo CNPq. É um golpe duro na ciência e na inovação, que prejudica o desenvolvimento nacional. E que caminha na direção contrária da Lei 177/2021, aprovada por ampla maioria pelo Congresso Nacional”, cobraram as entidades de pesquisa.

Na noite de quinta-feira, Pontes marcou presença na tradicional live de Bolsonaro. Na oportunidade, afirmou que a área é essencial para o desenvolvimento econômico e social de qualquer país, e que é exatamente esse setor que diferencia as nações daquelas que estão em estágio mais avançado. Disse, ainda, que algumas áreas precisavam de um maior investimento e chegou a fazer um pedido ao presidente, em tom bem-humorado, para que liberasse mais recursos para área.

“Gostaria de contar com a sua ajuda, presidente”, disse, tímido. Bolsonaro apenas riu e acrescentou que Pontes estava “aprendendo a virar político”. Os dois novamente estiveram juntos, ontem, na 1ª Feira Brasileira de Nióbio, em Campinas (SP), onde o presidente foi hostilizado também por ter vetado o trecho do projeto de lei que propunha a distribuição de absorventes higiênicos para mulheres carentes.


Mourão mostra dados incompletos


O vice-presidente Hamilton Mourão novamente apresentou um cenário incompleto para defender a atuação do governo na preservação da Floresta Amazônica, criticada no exterior e por especialistas em meio ambiente. Foi na 3ª Cúpula Presidencial pela Amazônia, ocorrida ontem, de modo virtual. Ele voltou a dizer que o desmatamento na região caiu 32% em agosto de 2020, na comparação anual, mesmo número apresentado pelo presidente Jair Bolsonaro na 76ª Assembleia-geral das Nações Unidas (ONU).

No entanto, a maior floresta tropical do mundo perdeu 1.606 km² de vegetação naquele mês, alta de 7% em relação ao 2020, de acordo com dados de satélite monitorados pelo Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon). Ainda assim, o vice-presidente defendeu a política de preservação da floresta. E ainda ressaltou sua proposta de um “desenvolvimento harmônico e sustentável” — ou seja, que considere a questão econômica e a necessidade de “melhores oportunidades de emprego e renda” para a população local.

“Estamos comprometidos com o bem-estar de toda a população amazônica, desde comunidades indígenas tradicionais até trabalhadores urbanos. Discutir política de preservação para a Amazônia é um exercício complexo”, salientou Mourão.