precatórios

Lira quer fatiamento da PEC dos Precatórios

Presidente da Câmara diz que vai propor ao Congresso a promulgação parcial da proposta aprovada pelo Senado

Jorge Vasconcello
Cristiane Noberto
Raphael Felice
postado em 03/12/2021 05:57 / atualizado em 03/12/2021 05:58
Com modificações, a PEC dos Precatórios passou com folga, ontem, pela rodada dupla de votação no Senado -  (crédito: Waldemir Barreto/Agência Senado)
Com modificações, a PEC dos Precatórios passou com folga, ontem, pela rodada dupla de votação no Senado - (crédito: Waldemir Barreto/Agência Senado)

Após a aprovação da PEC dos Precatórios no Senado, ontem, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), detalhou como será a nova tramitação da matéria entre os deputados. Ele afirmou que os pontos do texto que forem consenso nas duas Casas poderão ser desmembrados e promulgados ainda neste mês pelo Congresso. As demais partes, explicou, deverão tramitar normalmente pelas comissões antes de irem ao plenário da Câmara.

A PEC dos Precatórios é a aposta do governo para viabilizar o Auxílio Brasil de R$ 400, em substituição ao Bolsa Família. Segundo estimativas do Ministério da Economia, a proposta poderá abrir um espaço fiscal de R$ 106 bilhões no Orçamento de 2022. Para isso, o texto muda o cálculo do teto de gastos e adia o pagamento de parte dos R$ 89 bilhões que estão previstos para serem quitados no ano que vem na forma de precatórios — dívidas da União reconhecidas pela Justiça.

A PEC foi aprovada, ontem, em dois turnos no Senado, com placares folgados. No primeiro, foram 64 votos a 13; no segundo, 60 a 10. Esse resultado foi alcançado depois que o relator da proposta, senador Fernando Bezerra (MDB-PE), líder do governo na Casa, promoveu alterações no parecer, a pedido de vários partidos.

Em uma das mudanças, o relator deu caráter permanente ao Auxílio Brasil, que tinha vigência apenas até dezembro de 2022, conforme previa o texto originalmente aprovado pela Câmara. Bezerra também concordou em vincular todo o espaço fiscal aberto pela PEC ao pagamento do novo programa e das despesas da Seguridade Social — Saúde, Previdência Social e assistência social. Entre outras mudanças, o senador antecipou, de 2036 para 2026, a revisão do subteto para pagamento de precatórios. Em razão dessas alterações, a matéria retorna para nova análise da Câmara.

Comissões

Lira comentou sobre os próximos passos da tramitação da PEC. "Qualquer alteração muito substancial, nós não temos a condição legislativa de trazer para o plenário. Então, vamos ver o texto comum das duas Casas. Esse texto comum deve ser promulgado pelas duas Mesas, e o que sobrar terá de ir para a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), terá de ter admissibilidade, ir para a comissão especial para voltar ao plenário por duas votações", listou. Ele acrescentou não crer "que, este ano, o que não for comum possa ser votado".

O deputado assegurou "o máximo esforço para que o texto comum das duas Casas seja promulgado o mais rapidamente possível, para permitir que mais de 20 milhões de famílias brasileiras recebam o auxílio, para permitir que o orçamento do governo federal não seja totalmente utilizado pelos precatórios no ano de 2022".

O presidente da Câmara ressaltou ser comum o desmembramento de propostas de emenda à Constituição. "É muito normal, já aconteceu diversas vezes, que textos comuns entre as duas Casas possam ser, logicamente, promulgados, e o que não for possível nem entendido como emenda de redação tem de ter uma avaliação. O fato de aprovar ou não é uma questão superveniente", declarou.

Ele assegurou, ainda, que não há qualquer tipo de supremacia entre as duas Casas do Congresso. "Nós deixamos o Senado legislar, como é regimental, e vamos agora fazer o máximo de esforço possível para conhecer quais são as alterações — porque, definitivamente, nós não conhecemos — para analisarmos juntos", frisou Lira, que ontem tinha agendada uma reunião sobre o assunto com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

Preocupação

No Senado, é grande a preocupação com a possibilidade de os deputados retomarem o texto original da PEC. Para o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), a expectativa é de que a Câmara aproveite o trabalho feito pelo Senado em parceria com o governo. "Temos convicção de que o texto melhorou e, mesmo discordando no mérito, na forma escolhida pelo governo para viabilizar o Auxílio Brasil, foi possível construir um bom texto, com votos suficientes a favor. Não dá para prever mais gastos fora do teto", sustentou Vieira.

Segundo o parlamentar, vincular qualquer sobra de orçamento, até 2026, para as famílias carentes garante que não tenha espaço para "manobras eleitoreiras". "Não tem nenhum tipo de privilégio, benefício setorial, emendas parlamentares. O que precisamos é nos concentrar no momento que a gente vive, na fome das pessoas. O texto preenche bem isso e gera conforto para os deputados votarem também", enfatizou.

Na avaliação de Juliana Damasceno, economista da Tendências e pesquisadora associada do FGV IBRE (Instituto Brasileiro de Economia), houve uma mudança de percepção sobre a PEC. "No início, a proposta foi recebida com bastante desconfiança por parte do mercado, porque oficializou o rompimento do teto (de gastos). Aprovação de medidas especialmente em caráter eleitoral, falta de explicações do governo de como ia manter o Auxílio, mesmo sem recursos, ou procurar algum tipo de brecha para viabilizar, tudo gerou insegurança", destacou. "Com a PEC dos Precatórios, o rombo era conhecido e, aí, passou a ser recebida com relativo otimismo, porque com ela já tem expectativas mais ancoradas, mesmo que não tivesse plano B."

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.