cúpula

No discurso, a favor da democracia

Em evento do presidente dos EUA, chefe do Planalto diz ser defensor dos valores democráticos e dos direitos humanos

INGRID SOARES CRISTIANE NOBERTO
postado em 11/12/2021 00:01
 (crédito:  Reprodução/TV Brasil)
(crédito: Reprodução/TV Brasil)

O presidente Jair Bolsonaro se disse defensor da democracia e dos direitos humanos e enfatizou que seu governo não tem corrupção. As declarações foram feitas num vídeo exibido na Cúpula da Democracia, um evento virtual organizado pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, com mais de 100 governantes. Segundo o chefe do Executivo, "proteção dos direitos humanos é valor inerente ao governo brasileiro". Ele também alegou que o Brasil está "há quase três anos sem corrupção, ao contrário do que ocorria em anos anteriores".

Bolsonaro ressaltou que o mundo pode contar com o Brasil para o fortalecimento da democracia e que o governo tem o "mais ambicioso e abrangente plano anticorrupção da história do país". "Reitero nosso compromisso de continuar promovendo uma administração pública transparente e responsável, mediante políticas transversais de integridade pública", disse. "Contem com o Brasil para contribuir para o fortalecimento da democracia no mundo, com pleno respeito à soberania e à independência das nações."

O líder do Executivo também defendeu a liberdade de expressão, principalmente na internet, e cumprimentou o democrata Joe Biden pela iniciativa de organizar a cúpula. "No Brasil, nossa Constituição Federal estabelece a dignidade humana e a democracia como princípios fundamentais da República", frisou. "Temos trabalhado com determinação para forjar uma cultura de diálogo, liberdade e inclusão social. Estamos empenhados em assegurar as liberdades de pensamento, associação e expressão, inclusive na internet, algo essencial para o bom funcionamento de uma democracia saudável", acrescentou ele, que tem criticado prisão de aliados, desmonetização de páginas bolsonaristas e processos no Supremo Tribunal Federal por causa de fake news.

"Valorizamos os direitos de todos de expressarem suas opiniões e de serem ouvidos. Nos últimos anos, trabalhamos com afinco na proteção e promoção dos direitos humanos no Brasil", destacou. "Reafirmo nossa determinação de proteger e respeitar os direito humanos e as liberdades fundamentais de todos os brasileiros, independentemente de origem, raça, sexo, cor, idade, religião, sem qualquer forma de discriminação."

Apesar do discurso, Bolsonaro faz reiterados ataques ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e colocou em dúvida a segurança das urnas eletrônicas. Por causa disso, é alvo de um inquérito na Corte e no Supremo Tribunal Federal (STF). Ele também participou de um ato pró-governo, no feriado de 7 de setembro, em que fez ameaças golpistas ao Supremo.

Ele também é investigado no STF por suposto crime da prevaricação no caso da compra da vacina indiana Covaxin. A CPI da Covid, no Senado, levantou suspeitas de corrupção na negociação para a compra de 20 milhões de doses do imunizante. Depois que o episódio veio à tona, o governo suspendeu o contrato.

Além disso, Bolsonaro comentou, no último dia 6, que não podia assegurar não haver corrupção na sua gestão. "Não vou dizer que meu governo não tem corrupção porque a gente não sabe o que acontece muitas vezes", apontou, na ocasião.

Ele também é alvo de apuração no STF por divulgar fake news. Numa transmissão pelas redes sociais, em 22 de outubro, associou a vacinação contra a covid-19 a um risco maior de desenvolver aids.

Homofobia

O discurso de luta contra a discriminação também não se sustenta. Bolsonaro, frequentemente, faz comentários de cunho homofóbico. No último dia 7, reprovou o que chama de "linguagem neutra dos gays". O chefe do Executivo citou como exemplo uma questão da prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), de 2018, e reclamou que a utilização dos termos neutros "estraga a garotada". Na linguagem neutra, os pronomes contemplam pessoas de gênero não binário, no lugar de "ele/ela". No mesmo dia, disse que atualmente está "um vale-tudo terrível".

O diplomata Paulo Roberto de Almeida afirmou que o discurso de Bolsonaro à cúpula não retrata a realidade. "Não tem nada a ver com a prática dele. O presidente é mentiroso, mas isso o mundo já sabe: ele não defende a democracia, só defende a liberdade de mentir. Não tem absolutamente nada a ver com a realidade, suas palavras são totalmente contrárias à sua prática efetiva", criticou. "A defesa da liberdade só existe para propagar fake news, como seu mentor e ídolo, Donald Trump (ex-presidente dos Estados Unidos), assim como defende a liberdade dos membros do seu gabinete do ódio."

Günther Richter Mros, professor de relações internacionais da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), observou que Bolsonaro direcionou suas declarações à base eleitoral. E que, com o tema anticorrupção, sinalizou temer a perda de seguidores para o ex-juiz Sergio Moro (Podemos), postulante ao Planalto em 2022.

"Ele usou o momento mais para acenar para a base do que para falar com outros presidentes. O uso da ênfase no combate à corrupção dialoga com a entrada de Moro na disputa eleitoral, pois leva consigo bandeira de combate à corrupção", disse o especialista. "Ao mesmo tempo, dialoga com aqueles que têm algum receio de o PT ganhar eleições e trazer de volta casos de corrupção."

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