Ações específicas para fisgar os fiéis

Correio Braziliense
postado em 24/12/2021 00:01
 (crédito:  Alan Santos/PR)
(crédito: Alan Santos/PR)

A pouco mais de nove meses para as eleições, os concorrentes ao Palácio do Planalto mantêm estratégias específicas para o eleitorado evangélico. Segundo analistas ouvidos pelo Correio, será bem sucedido aquele que tiver melhores propostas de cunho social.

No fim de novembro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou de um encontro nacional virtual, que reuniu 800 evangélicos, entre pastores e fiéis. Ao lado da ex-governadora do Rio de Janeiro e evangélica Benedita da Silva (PT), Lula creditou sua chegada à presidência "à mão de Deus". Além de lembrar aos participantes que "governou para todos".

De acordo com Geter Borges de Souza, um dos coordenadores do núcleo evangélico do PT, o tema central do ex-presidente para o plano de governo tem sido o combate à fome. "O foco dele é que o PT tenha um projeto democrático popular, por isso todo mundo que quiser contribuir e somar será bem-vindo. Os evangélicos passam fome, querem comer e querem que o PT volte com o programa fome zero, geração de emprego e renda", detalhou.

Bolsonaro também tem se movimentado. O trunfo de maior evidência é a chegada de André Mendonça ao Supremo Tribunal Federal. Pastor batista licenciado, Mendonça se tornou ministro após meses de intensos embates entre evangélicos e o senador Davi Alcolumbre (DEM-AP). Nesse período, Bolsonaro sempre deixou público seu apoio ao ex-colaborador do governo. O episódio Mendonça reforça a boa relação entre o presidente e as lideranças evangélicas e serve de trunfo na manga do presidente para a reeleição.

Cezinha de Madureira (PSD-SP), apoiador de Bolsonaro na Câmara dos Deputados, vice-presidente da Frente Parlamentar Evangélica e pastor da Assembleia de Deus, avalia que o conceito de Bolsonaro entre evangélicos continua em alta. "Para as pautas mais conservadoras, ele tem tido muita coragem. Pegue, ainda, os dois anos de pandemia, nos quais os governadores seguiram João Doria, que virou ditador, fechando templos", compara o deputado.

"[Bolsonaro] Já tinha [apoio] e consolidou um pouco mais agora, com o cumprimento da palavra com o André Mendonça. Classifico, hoje, com a pacificação muito grande, de 80 a 90% [do eleitorado] com o Bolsonaro", apostou. O culto de ação de graças, realizado em seguida à posse de Mendonça no Supremo, reuniu ao menos mil pessoas em uma igreja evangélica na Asa Sul.

Ana Carolina Evangelista define a ocasião de apoio a Bolsonaro com um comportamento que tem se tornado comum entre os evangélicos. "São espaços institucionais que querem ter influência na política, como qualquer outro grupo de interesse souberam se organizar dentro do sistema político brasileiro. Desde a Constituinte de 1986 os evangélicos elegem os chamados candidatos oficiais das igrejas, tendo uma entrada mais sistemática na política. Continuarão fazendo isso, com aliados, inclusive, do campo não religioso", detalhou a especialista.

Em campanha

Moro traçou uma estratégia na qual começará, após a virada do ano, a priorizar a aproximação com as igrejas históricas ou protestantes tradicionais, pentecostais, mórmons, os pastores influenciadores e as escolas confessionais. Tentativas de encontros com líderes da Igreja Internacional da Graça de Deus, dirigida por RR Soares, e da Igreja Universal do Reino de Deus, do bispo Edir Macedo, estão na lista também. Outra estratégia será atrair neopentecostais, atualmente aliados a Bolsonaro.

Já o presidente da República continua apostando em aparições e discursos em cultos, como no culto de ação de graças dedicado ao novo ministro André Mendonça. Lula, por sua vez, tem feito visitas a antigos aliados religiosos do seu governo, com o intuito de resgatar as alianças. Um exemplo foi o encontro com o bispo primaz Manoel Ferreira, também do ministério Madureira, congregação criada na região da Central do Brasil, no Rio de Janeiro.

Nessa relação com os possíveis candidatos, os evangélicos atuam como outros eleitorados: buscam identificar caminhos para fazer prevalecer suas convicções. Essa preferência, portanto, pode mudar ao longo dos meses. "O jogo é a proximidade com o poder para fazer valer os seus interesses. Na falta de um representante evangélico, se voltam para o candidato que tenha mais chances de vitória. Ainda tem praticamente um ano de mandato [de Bolsonaro], então eles estão 'presos'", acredita Alexandre Landim, sociólogo e cientista social pela Universidade de São Paulo (USP) e doutorando na Universidade Federal do Ceará (UFCE).

O especialista considera improvável que os evangélicos definam o voto com antecedência. "Na campanha eleitoral, eles vão levar até o último momento, não vão abandonar com muita antecedência, porque existem interesses econômicos, principalmente nos meios de comunicação. Mas, nas vésperas, se estiver mal nas pesquisas, pode ter certeza que vai ocorrer uma migração, com qualquer justificativa", explica Landim.

Landim lembra que, em 2014, Silas Malafaia apoiava o Pastor Everaldo até acontecer o acidente aéreo que matou o pré-candidato a presidente Eduardo Campos. A partir disso, Malafaia seguiu publicamente com o voto em Everaldo, mas apenas no primeiro turno e por uma questão de honra. Ele dizia que sua candidata era Marina Silva, à época vice de Campos, portanto no segundo turno iria nela.

O especialista ressalta, porém, que essas mudanças de voto entre as lideranças não representa necessariamente o posicionamento dos fiéis. "As lideranças evangélicas nem sempre coincidem com o posicionamento dos fiéis, então, as lideranças podem ter candidatos favoritos e eles não se traduzirem nos votos", apontou.(TA)

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