legislativo

Compromisso com o Estado laico

Aos senadores, Mendonça diz que, apesar de religioso, pautará na Constituição as decisões como ministro do STF

André Mendonça foi sabatinado por mais de oito horas na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) antes de sua indicação ao Supremo Tribunal Federal (STF) ser levada à avaliação do plenário do Senado. No colegiado, ele fez acenos à classe política e defendeu o Estado laico, mas se distanciou de decisões e falas controversas do presidente Jair Bolsonaro (PL), que o escolheu para o posto. O ex-AGU iniciou o trâmite exaltando sua história no direito e citando sua religião.

Ele buscou superar a desconfiança de que se pautará pela religião nas demandas apresentadas ao Supremo. Enfatizou que seguirá usando a Bíblia como base para suas atitudes, mas sustentou que, enquanto ministro do Supremo, ter a Constituição como norte.

"Comprometo-me com o Estado laico. Considerando discussões havidas em função de minha condição religiosa, faz-se importante ressaltar a minha defesa do Estado laico", disse na comissão. "Na vida, a Bíblia; no STF, a Constituição."

Questionado sobre união homoafetiva e homofobia, Mendonça sustentou que agirá para fazer valer a Constituição e respeitará os direitos individuais da comunidade LGBTQIA . "Não se admite qualquer tipo de discriminação. É inconcebível qualquer ato de violência física, verbal e moral com relação a essa comunidade. Assim, meu comprometimento diante de situações como essa é de aplicar a legislação pertinente", pontuou.

Mendonça, que foi ministro da Justiça e Segurança Pública do governo Bolsonaro, esperou quase cinco meses para se tornar o novo ministro do Supremo — a indicação dele foi oficializada por Bolsonaro em 13 de julho, e a CCJ do Senado recebeu o documento em 18 de agosto.

A demora é creditada a uma manobra do presidente da CCJ, Davi Alcolumbre (DEM-AP), para tentar desgastar Mendonça e vê-lo reprovado no Senado. Apesar disso, o tratamento entre os dois, na sessão de ontem do colegiado, foi cordial e respeitoso.

Confiança

Antes da votação na CCJ, governistas já davam como certo o aval a Mendonça. "Nos últimos meses, nós temos trabalhado com todos os senadores (para viabilizar a aprovação de Mendonça). Não importa a religião do indicado, isso nunca foi tema de discussão de qualquer uma das indicações ao Supremo Tribunal Federal. O que nós fizemos questão de ressaltar aos senadores é o currículo e a carreira de dedicação de André Mendonça ao serviço público", disse o senador Carlos Viana (PSD-MG). "André Mendonça demonstra que tem a experiência, tem o respeito e a capacidade de entender o Brasil. A questão religiosa não o impede em momento algum."

Já o senador Marcos Rogério (DEM-MG) acredita que as resistências a Mendonça foram frutos de "preconceito". "Acho que essa indicação engrandece o papel da Corte constitucional e dá voz a uma parcela muito importante da sociedade brasileira", destacou.