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Desafiado, Bolsonaro volta a atacar a Anvisa

Em resposta à dura carta do diretor do órgão, presidente afirma que não fez acusação de corrupção, mas levanta novamente dúvidas sobre as "segundas intenções" na liberação de vacina destinada a crianças de 5 a 11 anos

Jorge Vasconcellos
postado em 11/01/2022 00:01
 (crédito: Alan Santos/PR)
(crédito: Alan Santos/PR)

O presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou, ontem, a lançar dúvidas sobre a decisão da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) de autorizar a vacinação de crianças de 5 a 11 anos contra a covid-19. Ele ressaltou, entretanto, que não tem a intenção de acusar o órgão regulador de envolvimento em corrupção.

Bolsonaro falou à rádio Jovem Pan, quando repetiu os questionamentos que havia feito na semana passada e que levaram o diretor-presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, a desafiá-lo, por meio de uma nota, a apontar indícios de corrupção na agência.

"Repito: o que está por trás, quais as segundas intenções, quais outras intenções da Anvisa? Não houve, da minha parte, nenhuma acusação, a palavra corrupção não saiu em nenhum momento, e ele (Barra Torres) resolveu fazer uma nota bastante agressiva", disse o chefe do governo.

O mais novo atrito entre Bolsonaro e a Anvisa começou na quinta-feira, quando o presidente questionou, durante uma entrevista, "o que está por trás" da decisão da agência sobre a vacinação infantil. Na ocasião, ele também chamou os defensores da imunização de crianças de "tarados por vacinas".

No sábado, Barra Torres divulgou uma dura nota rebatendo as declarações de Bolsonaro. "Se o senhor dispõe de informações que levantem o menor indício de corrupção sobre este brasileiro, não perca tempo nem prevarique, senhor presidente. Determine imediata investigação policial sobre a minha pessoa, aliás, sobre qualquer um que trabalhe hoje na Anvisa, que, com orgulho, eu tenho o privilégio de integrar", disse o chefe da Anvisa, no comunicado.

O presidente da Anvisa, que é contra-almirante, acrescentou: "Agora, se o senhor não possui tais informações ou indícios, exerça a grandeza que o seu cargo demanda e, pelo Deus que o senhor tanto cita, se retrate. Estamos combatendo o mesmo inimigo, e ainda há muita guerra pela frente".

Na entrevista de ontem, Bolsonaro, mesmo negando ter feito acusações contra a Anvisa, voltou a associar o órgão a irregularidades. "Eu deixo claro: em novembro, a Polícia Federal foi à casa de diretores antigos da Anvisa. Então, nenhum órgão está livre de corrupção. Agora, eu não acusei a Anvisa de corrupção. Eu perguntei o que está por trás dessa gana, dessa sanha vacinatória, até porque eu, governo federal, compramos, até o momento, em torno de 400 milhões de doses de vacina", afirmou o titular do Planalto.

O presidente também lembrou ter partido dele a indicação do nome de Barra Torres para a Anvisa e frisou que, após a nomeação no cargo, o contra-almirante "ganhou luz própria". Bolsonaro também disse reconhecer que a agência "não sofre interferência, é um órgão independente", mas que "o trabalho poderia ser diferente".

Ele voltou a questionar os números do próprio Ministério da Saúde, que apontam para a ocorrência de mais de 300 mortes de crianças por covid-19 no Brasil. Destacou ter conversado sobre esse assunto com o diretor-presidente da Anvisa.

"Hoje (ontem), eu tive contato aí com um blog lá do Rio Grande do Sul, onde ele pegava dados do CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) americana, e, no Rio Grande do Sul, durante o ano de 20 e parte de 21, não morreu nenhuma criança de 5 a 9 anos", afirmou o presidente. "E eu questionei ele (Torres) no tocante por que liberar isso aí daí, daquela forma, sem jogar pesado na própria bula da Anvisa que falava das circunstâncias de efeitos colaterais. Inclusive, a própria Pfizer fala que alguns efeitos colaterais, teremos conhecimento em 22, 23, 24 e 25. A conversa foi nesse sentido."

General

Enquanto respondeu a Barra Torres, Bolsonaro, desistiu de pressionar o comandante do Exército, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, a recuar da recomendação para que a tropa se vacine contra a covid-19.

Na semana passada, Paulo Sérgio instruiu os integrantes da Força a retornarem ao trabalho presencial somente 15 dias depois de tomarem a segunda dose da vacina contra a covid-19.

A orientação do Exército, direcionada à tropa na semana passada, irritou o presidente, o que levou o ministro da Defesa, general Walter Braga Netto, a se reunir com os comandantes das Forças Armadas para discutir o assunto. O Exército chegou a cogitar a divulgação de uma nota de esclarecimento, mas essa possibilidade acabou não se concretizando.

No sábado, Bolsonaro disse que tinha se encontrado com o general Paulo Sérgio e que estava "tudo resolvido". "Na verdade, (a recomendação de vacinação) não foi do Exército, foi da Defesa (o ministério). Dava dúvida na questão de exigir ou não a vacina", disse o presidente, durante a festa de aniversário do advogado-geral da União, Bruno Bianco, em Brasília. "Não há exigência nenhuma. Eu sou democrata. Já tive notícias... Duas estatais que queriam já aplicar sanções em servidores que não fossem vacinados. Aí é simples", emendou.

Ele também negou que tenha pedido alterações no documento divulgado pelo Exército com a recomendação de vacinação. "Não tem mudança. Pode esclarecer. Hoje, tomei café com o comandante do Exército. Se ele quiser esclarecer, tudo bem, se ele não quiser, tá resolvido, não tenho que dar satisfação para ninguém de um ato como isso daí. É uma questão de interpretação", afirmou.

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