ELEIÇÕES 2022

Análise: a vitória de Lula ou Bolsonaro significará o ápice da nossa mediocridade

Não merece melhor destino um país que repete e se recusa a aprender com os erros, analisa Ricardo Kertzman

Ricardo Kertzman - Estado de Minas
postado em 21/01/2022 08:44 / atualizado em 21/01/2022 08:56
 (crédito: Ricardo Stuckert/Instituto Lula e Clauber Cleber Caetano/PR)
(crédito: Ricardo Stuckert/Instituto Lula e Clauber Cleber Caetano/PR)

O Brasil é um triste campeão em alguns dos piores índices e indicadores econômicos e sociais. Matamos como ninguém, roubamos como ninguém, não ensinamos na escola como ninguém e gastamos dinheiro como ninguém.

Num vai e vem interminável, alternamos ciclos de pequeno ou nenhum crescimento e recessão. Produzimos inflação e desemprego em série. Somos um dos países mais desiguais do mundo. E tudo só piora a cada década.

Não por acaso sermos completamente ignorados pelo planeta. Só se lembram de nós por causa da Amazônia, do futebol e do carnaval. Ok, vá lá! Por causa de nossas commodities agropecuárias e minerais também.

Sem conserto

Faz tempo que o mundo desistiu do Brasil. Não temos relevância no comércio exterior e somos insignificantes na geopolítica. Ninguém se importa com o que achamos e queremos. Somos simplesmente nada.

A culpa é de Portugal, da escravidão, da República, de Vargas, da ditadura, da Constituição de 88, de Sarney, de Collor, de FHC, de Lula, de Dilma, de Temer, de Bolsonaro, da saúva, enfim, de Deus e o mundo.

Como sociedade, produzimos as piores elites possíveis: empresários corruptos, advogados cúmplices, imprensa a soldo, artistas oportunistas e uma casta de políticos semelhantes a parasitas insaciáveis.

Ciclo do mal

Falta de saneamento básico e condições mínimas de saúde, moradia e alimentação, além de um sistema público de educação incapaz de ensinar a ler e escrever, transformam as crianças em adultos improdutivos e violentos.

O Brasil criou para si um ciclo perverso, em que o ruim produz o péssimo e ambos se alimentam do pouco que há de bom por aqui: riquezas naturais e capital humano (idade, força de trabalho, etc.) abundante.

Após a redemocratização, para piorar de vez, entramos de cabeça, corpo e alma em um processo de degradação moral amplo, geral e irrestrito, que draga do mais simples lavrador ao mais poderoso ministro do Supremo.

Erros sucessivos

Impichamos um ‘coronel’ corrupto, que simplesmente sequestrou o dinheiro de todos os cidadãos e empresas. Mas antes, suportamos um velhaco da pior qualidade, que criou o centrão e emplacou na política boa parte da corja atual.

Suspiramos ao rejeitar um operário incendiário e eleger um intelectual - indiscutivelmente o menos pior de todos. Mas a mosca azul o fez comprar uma reeleição e dar início ao novo ciclo de horrores que permanece até hoje.

Elegemos, então, um ex-operário radical e pretenso estadista. O cara entrou, e de cara subornou o Congresso, inaugurando o período mais corrupto da história nacional, que culminou com a própria prisão.

Herança maldita

Não satisfeito, o maior ladrão do Brasil deixou como herança uma pobre coitada incapaz de pronunciar frases simples e fazer contas básicas. O saldo: a maior recessão que já tivemos e um novo impeachment.

Surgiu, então, um grão-mestre do centrão. Fez, em dois anos, o que não foi feito em vinte. Mas ‘quem sai aos seus não degenera’, e logo caiu em desgraça e também terminou preso. Hoje, é conselheiro do presidente que aí está.

Falando nele, Bolsonaro é, disparado, o pior que nos aconteceu em todos os tempos. Perto dele, Lula e Dilma não são nada em matéria de desastre. Sua única vantagem é ser ladrão de galinhas, o que ajuda um pouco a diminuir o estrago.

Eleições


Em pleno 2022, há pouco menos de um ano das próximas eleições, eis que discutimos - e torcemos, quase nos matando - a opção ou por um líder de quadrilha ou por um rachador homicida para presidente da República.

O STF pode dizer o quanto quiser que os processos do meliante de São Bernardo estão anulados e devem recomeçar do zero. Mas jamais poderá dizer que o mesmo não é um corrupto, condenado em três instâncias.

Lula pode dizer o quanto quiser que Sergio Moro é suspeito e blá blá blá, mas jamais terá como negar o sítio, o tríplex, a planilha amigo, as centenas de testemunhas, os bilhões de reais recuperados pela Lava Jato.

Não acabou!


Muito menos o bilontra terá como negar o enriquecimento dos filhos; a prisão de três ou quatro tesoureiros (PT) de suas campanhas; as confissões de Palocci, Duda Mendonça, Marcelo Odebrecht e João Santana.

Já Bolsonaro poderá acusar, com razão, o lulopetismo, mas não poderá se defender das rachadinhas — suas e de seus filhos —, das mansões milionárias, dos "micheques" na conta de sua esposa; da sua ligação com as milícias.

Poderá o verdugo maldizer as esquerdas o quanto quiser, mas carregará para sempre o carimbo de 630 mil mortes por COVID-19; 13 milhões de desempregados; 10% de inflação; gasolina a R$ 8 e dólar a R$ 6 — sem falar do Queiroz.

Degradação total

Mas, pior ainda, a história o terá como aquele que, do primeiro ao último dia de mandato, conspirou contra a democracia, atentou contra as instituições e tentou incansavelmente emplacar um golpe de Estado.

Lula e Bolsonaro, cada um a seu modo, são fétidos e pestilentos. Significam o que há de pior na nossa política, e caso eleitos — um ou outro — reduzirão a zero qualquer chance de melhora ou esperança em um País melhor.

Acordar em 2023 e ter um destes dois como presidente eleito será o fundo do poço da sociedade brasileira. Na verdade será como abrir a tampa do alçapão do poço, e daí em diante, conheceremos o que há de pior em nós mesmos.

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