Especialistas veem impacto na campanha à reeleição

Para André César, cientista político da Hold Assessoria, a situação dos filhos do presidente Jair Bolsonaro é uma controvérsia permanente para o governo e terá impacto nas eleições deste ano. "Isso vai ser muito frisado ao longo da campanha. Bolsonaro, em 2018, se apresentou como uma novidade, agora, não é mais. Ele vai ser cobrado, e uma das mais fortes cobranças será nessas relações, no mínimo, polêmicas entre o Planalto e os filhos do presidente", destaca.

Na opinião do cientista político Cristiano Noronha, da Arko Advice, há uma estratégia de defesa política, mas sob o argumento de que, se eventualmente há acusação, quem tem de responder são os filhos, não necessariamente o presidente. "Diretamente, se for um assunto ligado a ele, aí não tem como fugir. Bolsonaro tenta se afastar, obviamente, desses problemas pontuais que alguns filhos enfrentam e não quer nenhum tipo de envolvimento direto com essa questão, ao menos publicamente. Ele acha que, como presidente, não tem que responder sobre ações que não o envolvam diretamente", avalia. "Acredito que está querendo evitar entrar nessa seara porque os filhos têm, inclusive, mandatos (à exceção de Jair Renan), então, cada um responde pelos seus atos."

Vera Chemim, mestre em direito público pela Fundação Getulio Vargas (FGV), frisa que o calcanhar de aquiles de Bolsonaro são os filhos, razão pela qual ele tem agido no sentido de protegê-los. "Tem sido esse o contexto que vem norteando parte das condutas do presidente, junto ao Legislativo e, de modo especial, no Judiciário: ora cooptando os principais partidos políticos por meio da concessão de emendas parlamentares, ora ajuizando demandas junto ao STF para tentar, a qualquer custo, defender os seus filhos", afirma. "Exemplos disso são a demanda para a manutenção de foro privilegiado, a sanção de vários dispositivos legais que infirmaram (enfraqueceram) e continuam infirmando a quase extinta Operação Lava-Jato."

A especialista lembra que "Bolsonaro tem ojeriza a participar de debates, cujo potencial é suficientemente significativo para prejudicá-lo do ponto de vista eleitoral". "Acrescentem-se temas como a apatia no combate ao coronavírus e a compra tardia de vacinas. Tudo isso remete à queda de sua popularidade e credibilidade política", acrescenta.

Outros problemas

Na avaliação de Raquel Borsoi, analista de risco político da Dharma Politics, as eleições de 2022 serão marcadas pela polarização, incerteza e tumulto. Ela diz, no entanto, ser pouco provável que as acusações contra os filhos do presidente atinjam a popularidade dele. "O maior impacto na popularidade de Bolsonaro tende a vir de problemas como inflação, desemprego e fome", ressalta. "Bolsonaro possui uma estratégia bem consolidada de comunicação junto à sua base mais fiel, via canais não oficiais de comunicação, que mitigarão os efeitos dessas acusações, além de contar com aliados na PGR e no STF."

Cientista político da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), Ricardo Ismael defende que o debate central para a população serão tópicos econômicos e sociais. "Houve o agravamento de pobreza e da fome, questões relativas à educação, à moradia e à saúde. Evidente que a vacinação deu outra dinâmica, mas a questão da saúde pública vai merecer ainda mais a atenção dos candidatos", sustenta. "E, nesse quesito, a avaliação do governo não é boa. O desafio vai ser a redução do prejuízo acumulado até agora, principalmente nos grupos de menor renda."

O sociólogo e analista político Pedro Celio salienta que Bolsonaro está sendo avaliado ainda pelas promessas de campanha, especialmente em relação ao compromisso de combater a corrupção. No entanto, a condução da pandemia será um fator preponderante. "Denúncias graves apareceram, com malversação de recurso no Ministério da Saúde. Essas questões vão aparecer, e a população vai querer ouvir dele uma manifestação mais convincente do que tem dado, que é quase que nenhuma", comenta. (IS)