Entrevista | Juliano Medeiros | presidente nacional do PSol

Presidente do PSol: Lula não vence no 1º turno

Para o dirigente, trata-se de uma perigosa ilusão acreditar que o petista derrota Jair Bolsonaro com a larga vantagem que é apontada pelas pesquisas de opinião. Mas tem certeza de que o atual governo é o maior cabo eleitoral do ex-presidente

A meta para o PSol nas próximas eleições é derrotar o presidente Jair Bolsonaro (PL) e todos os candidatos que ele apoiar nos estados. A afirmação é do presidente nacional do partido, Juliano Medeiros. Ele adiantou que é forte a tendência de a legenda não ter candidato na corrida ao Palácio do Planalto para apoiar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) — considera que "não é conveniente" que o petista tenha como vice na chapa o ex-governador Geraldo Alckmin, pois o ex-tucano não acrescentaria "nada" no plano para um eventual futuro governo. Medeiros também é cético sobre uma vitória de Lula ainda no primeiro turno, conforme vêm apontando as pesquisas de opinião. Para ele, trata-se de uma "perigosa venda de sonhos". Confira a seguir os principais trechos da entrevista.

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O possível apoio do PSol a Lula nas eleições é uma forma de juntar as esquerdas para derrotar Bolsonaro? É a primeira vez que o partido não lança candidatura. O mesmo deve ser feito no Rio de Janeiro, por exemplo. É pela mesma razão?

A prioridade do PSol é derrotar Bolsonaro e temos a consciência que sozinhos não temos força para isso. Aí vem o papel da unidade. É uma necessidade para aqueles que defendem a democracia e sabem que precisam juntar forças para afastar qualquer chance de vitória de Bolsonaro. É nesse contexto que a gente debate, dentro do PSol, a possibilidade de apoio ao presidente Lula, e não termos candidato ao Planalto pela primeira vez. É claro que a gente vai negociar; não vai ter uma adesão do PSol à candidatura do Lula de forma acrítica. A gente vai debater o programa de governo. Somos críticos à possibilidade de ter o Geraldo Alckmin como vice de Lula. Queremos debater composições nos estados. Há um conjunto de temas que vão estar na mesa para negociação com PSol e PT.

O senhor falou sobre a possível formação da chapa Lula-Alckmin. O ex-tucano pode ser um José Alencar 2.0 ou Michel Temer 2.0?

Muita gente no PT têm feito comparações entre a parceria de Lula com o José Alencar, mas não dá para comparar. O Alencar era um nacionalista, um empresário que defendia o capital produtivo, um sujeito de centro. O Alckmin defendeu toda a agenda neoliberal do governo Michel Temer, a reforma trabalhista, a lei das terceirizações, a mudança do marco legal do pré-sal, os crimes defendidos pela Operação Lava-Jato. Alckmin, ao contrário do José Alencar, está orgânicamente vinculado às agendas da direita. Acho que o Alckmin está muito mais para Temer do que para José Alencar.

A candidatura com o Alckmin não cativaria as legendas de centro e centro-direita?

Fora o simbolismo de construir uma frente mais ampla do que seria uma frente com outro vice-presidente de esquerda, acho que o Alckmin não agrega nada. Do ponto de vista eleitoral, não é conveniente. Não traz um partido a mais para a coligação, não traz peso eleitoral no estado de São Paulo porque, lá, Lula tem força. Do ponto de vista da renovação e novas agendas, também não traz novidades. Por isso, acho que essa pressão (contra a chapa Lula-Alckmin) vai fazer com que haja uma reflexão pelo ex-presidente e seu grupo mais próximo para que o Alckmin não seja candidato a vice.

E a federação com a Rede?

Estou otimista, acho que é possível chegar a um entendimento. Hoje, o debate com a Rede envolve candidaturas nos estados, o que é sempre delicado, e o debate sobre a questão presidencial. Outro ponto importante seria a posição da federação sobre a disputa presidencial e, obviamente, o tema programático da federação: propostas de política econômica, combate à desigualdade, proteção ao meio ambiente. Se fosse considerar uma corrida de 100 metros sobre a conclusão positiva da federação, acho que teríamos percorrido uns bons 50 metros.

Foi falado sobre alianças entre Rede, PSB, PT, PCdoB, mas, e o PDT? Até que ponto o racha Ciro-Lula atrapalha a boa relação na esquerda?

Na relação entre os dois se acumularam ressentimentos de natureza pessoal. Respeito a candidatura do Ciro e não há debate no PSol para um possível apoio a ele. Mas acho que ele é um homem de ideias que tem um projeto para enfrentar a crise do país. Concordo com alguns pontos do projeto, discordo de outros, mas tem conteúdo. Acho que em um projeto das esquerdas, como vice ou mesmo se Lula não fosse candidato, o Ciro poderia ser um nome para unir as esquerdas. Acontece que Lula tem muito mais força eleitoral e capacidade muito maior de agregar partidos de esquerda. A gente senta e conversa com o PDT e Ciro, Lula e PT, com PCdoB e PSB, Rede. Temos boa relação.

Lula tem chances de vencer no primeiro turno?

Independentemente de fazer ou não uma aliança com todos os partidos de esquerda no primeiro turno, vai ter segundo turno. Não acredito na vitória de Lula no primeiro. Acredito que quem está alimentando essas ideias de que vai ser fácil ganhar do Bolsonaro está vendendo ilusões. Isso é uma percepção perigosa das eleições deste ano. Bolsonaro é o presidente do Brasil, país com maior PIB da América Latina, rico com um Estado muito forte. De forma alguma eu subestimo a capacidade de Bolsonaro trazer dificuldades para o processo eleitoral e de promover um segundo turno.

E no segundo turno?

De um lado, você tem o presidente da República, que encarnou parte do descontentamento político em 2018 e que se tornou o grande nome da extrema direita latino-americana. De outro, tem o ex-presidente que promoveu mudanças importantes e foi vítima de um processo de perseguição jurídico-politica, o que me leva a acreditar que é possível ele não só ir para o segundo turno, como vencer as eleições. O governo Bolsonaro é um desastre em todos os aspectos: não gerou emprego, não combateu a pandemia adequadamente, não retomou o crescimento econômico, não combateu violência. Nesse ponto de vista, ele é o maior cabo eleitoral que o Lula poderia ter.