O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) respondeu, ontem, aos ataques de Jair Bolsonaro, que na live da última quinta-feira mais uma vez tentou desqualificar a Corte e o processo de votação, além de dar a entender que o Exército praticou uma espécie de intervenção para que o pleito de outubro seja "limpo". Segundo o presidente da República, foram encontradas "vulnerabilidades" nas urnas eletrônicas pelos militares.
"As declarações que têm sido veiculadas não correspondem aos fatos nem fazem qualquer sentido", rebateu o TSE, sem citar o nome de Bolsonaro. O comunicado ressalta, ainda, que "cabe destacar que são apenas pedidos de informações, para compreender o funcionamento do sistema eletrônico de votação, sem qualquer comentário ou juízo de valor sobre segurança ou vulnerabilidades".
Na apresentação pelas redes sociais, Bolsonaro deu a entendeu que as Forças Armadas tinham exigido do TSE para as supostas falhas encontradas no sistema eleitoral. "Nosso pessoal do Exército, da guerra cibernética, buscou o TSE e começou a levantar possíveis vulnerabilidades. Foram levantadas várias, dezenas de vulnerabilidades. Foi oficiado o TSE para que pudesse responder às Forças Armadas. Passou o prazo e ficou um silêncio", acusou.
O TSE informou que recebeu "dezenas de perguntas de natureza técnica, com certo grau de complexidade". Em nota, a Justiça Eleitoral disse que o representante das Forças Armadas na Comissão de Transparência Eleitoral protocolou pedidos de informação "próximo do recesso" de fim de ano, "quando os profissionais das áreas técnicas fazem uma pausa". "Após este período, o conteúdo começou a ser elaborado e será encaminhado nos próximos dias", informou o TSE. "Tudo está sendo respondido, como foi devidamente comunicado ao referido representante."
Indagações
Segundo oficiais da ativa da Força, o Exército fez questionamentos técnicos ao TSE sobre o funcionamento e a cadeia de custódia das urnas eletrônicas, para tentar subsidiar com melhorias de segurança. Os quesitos foram enviados por escrito, elaborados pelo Centro de Defesa Cibernética — o teor é sigiloso. Entre eles, há indagações sobre como onde ficam armazenadas as urnas antes da distribuição aos locais de votação, que tipo de conectividade elas têm, que pessoas têm acesso, e como e onde é feita a totalização dos votos.
A participação das Forças Armadas na preparação das eleições, desta forma na Comissão de Transparência, é inédita e se dá a convite do TSE. Os militares sempre prestaram apoio logístico e segurança à votação, mas não participaram, no ano passado, de uma rodada de testes das urnas. O general e comandante de defesa cibernética Heber Portella foi indicado pelo ministro da Defesa, Walter Braga Netto, para atuar junto ao TSE.
Fontes do tribunal avaliam que a Corte tenta se precaver à ameaça de Bolsonaro não reconhecer o resultado, caso seja derrotado em outubro — sobretudo se for para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que lidera todas as pesquisas de intenções de voto realizadas até agora e pode levar o pleito no primeiro turno.
Segundo o cientista político e diretor da Dominium Consultoria, Leandro Gabiati, com a retomada dos questionamentos à lisura das eleições, Bolsonaro faz uma tentativa de adequar seu discurso para agradar seu eleitorado.
"Ele usa de oscilação política, mas depois do que foi feito, ele não pode dizer para o eleitor dele que confia nas urnas eletrônicas. Então, ele adequa essa narrativa de acordo com sua conveniência. Ele quer dizer aos seus eleitores que o processo eleitoral é seguro não por causa do tribunal, mas, sim, por causa dos militares", frisou.
Desde o começo do governo, Bolsonaro lança suspeitas sobre as urnas eletrônicas, sem, porém, jamais ter provado coisa alguma. Chegou até mesmo a dizer que ganhou as eleições presidenciais de 2018 no primeiro turno, porém nunca mostrou nada que confirmasse isso. No ano passou, empenhou-se pela adoção do voto impresso, cuja proposta de emenda constitucional foi sumariamente rejeitada pelo plenário da Câmara dos Deputados. (Com Agência Estado)
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