Depois da Rússia, o presidente Jair Bolsonaro (PL) faz, hoje, uma visita ao primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán. Na agenda oficial, o chefe do Planalto busca ampliar a relação comercial com o país europeu, mas analistas acreditam que a comitiva tenha especial interesse no know how tecnológico.
Orbán é de extrema direita e vai disputar pela quarta vez consecutiva as eleições do país, marcadas para o início de abril.
Professor e pesquisador do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP), Pedro Feliú Ribeiro afirmou que a visita do presidente a Orbán é bem-vista pelos eleitores conservadores de Bolsonaro.
"A viagem é permeada por uma aliança ideológica com valores muito associados à extrema direita, movimento internacional capitaneado por alguns milionários e que tem a liderança do americano Steve Bannon, que é aliado reconhecido da família Bolsonaro", destacou.
Conforme o especialista, há interesses da delegação em conhecimento e negócios na área de tecnologia da informação. "Sem dúvida, essa pauta conservadora traz a certeza de como essa aliança pode auxiliar nas eleições. Eles estão fortalecendo uma rede que financia, produz, tem contatos para fazer disparos em redes sociais de uma maneira sigilosa para barrar efeitos de regulamentações", enfatizou.
Destruição
David Magalhães, coordenador do Observatório da Extrema Direita e professor de relações internacionais da PUC-SP, a Hungria, de Orbán, é o exemplo exitoso da ascensão da chamada "direita radical populista" no mundo. O primeiro-ministro húngaro conseguiu mudar todo o Poder Judiciário por meio de aposentadoria compulsória dos que lá estavam e controlou a imprensa local.
"Orbán construiu uma direita radical populista muito bem-sucedida no projeto de destruir a democracia liberal húngara. Ele conseguiu fazer uma terraplanagem nas instituições e em direitos de minorias para consolidar o que ele chama de 'democracia iliberal húngara'. É democrático no sentido de ter a maioria, mas é iliberal no sentido de que as minorias se submetam, percam direitos e não tenham voz", ressaltou Magalhães.
De acordo com o analista, "Orbán é o que Bolsonaro queria ser". "Jair Bolsonaro não conseguiu ter força política para fazer o que o Viktor Orbán fez na Hungria, que é passar o trator nas outras instituições e poderes", frisou. "Ele (chefe do Planalto) também fez discurso de que as minorias devem se adequar à maioria. Ambos são ultraconservadores, e o nacionalismo religioso-cristão de Orbán guarda muita semelhança com o tradicionalismo religioso do bolsonarismo, além de ambos serem governos por anticomunistas", comparou.
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