No Brasil, o estrago dos desastres climáticos é ainda potencializado pela falta de políticas públicas de infraestrutura que permitam que o cidadão habite áreas seguras e protegidas. Para o especialista em projetos de infraestrutura, Eduardo Padilha, o erro consiste na ocupação urbana. Na visão dele, é uma ocupação desordenada e "sempre que há invasão de áreas proibidas, é muito difícil retirar as pessoas", explica.
O analista ressalta, ainda, que esse contexto está diretamente relacionado ao zoneamento, caracterizado pela aplicação de um sistema legislativo que regula o uso e ocupação do solo por parte dos agentes de produção do espaço urbano, e à falta de oportunidades. Normalmente, a ocupação em áreas inapropriadas para a habitação ocorre pela falta de recursos para a habitação em locais regulados.
"Por exemplo, às margens do rio, é sempre necessário espaço para o rio descansar, ou seja, para ele crescer quando a chuva vem. Porém, devido à ocupação dessas áreas ao redor do rio, ele transborda quando chove muito. No Brasil, nós temos uma ocupação caótica dessas áreas, além de uma tolerância muito grande das autoridades e controle muito baixo desses problemas", avalia o especialista.
Em nota, o Instituto de Arquitetos do Brasil reforça que não faltou alertas para a tragédia ocorrida em Petrópolis. "Toda área é de risco. O que se anuncia, há tempos, já está aí. O território, espoliado, maltratado, exaurido, não suporta o que nele colocamos à força — gentes, coisas — ou retiramos a fórceps — matas, minérios, águas. Os rios não têm onde alargar sua corrente, como é seu direito nas cheias, o solo não absorve as chuvas, que chegam torrenciais, as encostas devastadas não se seguram. Sabendo tudo isso, não mudamos um milímetro o que realmente é a causa: o modo como o capital trata o território", informa.
O documento conclui que "se não tomarmos o pulso as reformas urgentes — agrária, urbana, tributária — se não recuperarmos direitos e investimentos no que importa — saúde, educação, moradia, trabalho —, se não escolhermos governos que se contraponham a esse sistema de exploração, toda área será inócua". (MEC, GB e GC)
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