Gigante no agronegócio, o Brasil ainda é dependente da importação de insumos para a produção, em especial de fertilizantes e defensivos. No caso do primeiro item, o país chega a comprar do mercado externo mais de 90% do total necessário para viabilizar a agricultura nacional. A fim de amenizar essa vulnerabilidade, o governo federal trabalha no novo Plano Nacional de Fertilizantes, que será lançado no final deste mês.
"O grande trunfo desse lançamento é o modelo de governança, que é um conceito transgovernamental. Nós criamos o Conselho Nacional de Fertilizantes, que vai ser formado por diversos ministérios e terá a missão de monitorar o Plano e, por meio de resoluções, indicar os melhores caminhos para o atingimento das metas", esclareceu o diretor de programas do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), Luiz Eduardo Rangel. Ele participou ontem do programa CB.Agro, uma parceria do Correio com a TV Brasília.
O especialista lembrou que o problema dos fertilizantes no Brasil é muito anterior ao conflito entre a Rússia e a Ucrânia. Segundo ele, a partir de 1997 o Brasil experimentou um crescimento "vertiginoso da curva" em termos de agropecuária. O desempenho levou o país a ser um dos maiores no setor, mas com uma produção nacional de fertilizantes estagnada.
Atualmente, informou Rangel, o Brasil tem três fábricas de fertilizantes — duas em funcionamento (em Sergipe e na Bahia) e uma inativa por falta de investimento (no Mato Grosso do Sul). Com a capacidade produtiva das duas fábricas, o país consegue 10% a 15% do necessário para abastecer a agricultura nacional.
Assunto estratégico
Em 2008, o Ministério da Agricultura tentou implementar um plano de fertilizantes, sem sucesso. Em 2019, após uma decisão do governo de fortalecer a Secretaria de Assuntos Estratégicos, o Ministério da Agricultura sugeriu novamente que a questão fosse discutida. O diretor de programas afirma que a entidade "rapidamente entendeu o risco que seria eventualmente uma ruptura dessa cadeia logística de produção de fertilizantes para o agronegócio brasileiro".
Ainda assim, como o processo é complexo, não foi concluído de imediato. "Um plano de base, de infraestrutura, visa muitos anos. Então algumas questões precisam ser muito bem diagnosticadas para que a gente possa criar objetivos estratégicos".
Segundo adiantou Rangel, o plano nacional de fertilizantes propõe ações como busca e fortalecimento de parcerias no exterior, desenvolvimento de fertilizantes nacionais e acompanhamento logístico das importações. Rangel adverte, no entanto, que as mudanças são visadas a longo prazo. "Propor um horizonte de 30 anos significa que vamos passar por vários governos, de diferentes ideologias. E a ideia do plano é que ele fosse de fato comum a todos os interesses, o interesse nacional", apontou.
"Países que têm a agricultura forte dependem também da importação de insumos, mas numa porcentagem muito menor do que a do Brasil. O problema não é depender eventualmente de um mercado internacional se ele for fluido, competitivo, mas é importante você ter seus instrumentos de soberania, suas chaves para poder acioná-las na medida da sua necessidade e com o tempo necessário para que você não tenha uma perda significativa de segmento econômico", finalizou o diretor do Mapa. (*Estagiária sob a supervisão de Carlos Alexandre de Souza)
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