Eleições

Na expectativa de concorrer ao Planalto, Leite deixa governo do RS

Governador tucano se despede do Palácio Piratini no próximo dia 2 de abril, mas afirmou que segue no PSDB

Tainá Andrade
Taísa Medeiros
postado em 29/03/2022 06:00 / atualizado em 29/03/2022 09:09
 (crédito: Maicon Hinrichsen / Palácio Piratini)
(crédito: Maicon Hinrichsen / Palácio Piratini)

O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), anunciou na segunda-feira (28/3) que renunciará ao cargo no estado para "se apresentar" [para ser útil nesse momento histórico da política]. Leite tem a convicção de que deve participar "ativamente" desse momento. O comunicado foi feito em coletiva de imprensa com ares de lançamento de pré-campanha. Leite deixará o governo no próximo dia 2 de abril, data limite dada pela Justiça Eleitoral para desincompatibilização. Em seu lugar ficará o vice-governador, Ranolfo Vieira Junior (PSDB).

"Aos gaúchos entendo que vão entender meu gesto. Não estou saindo, estou me apresentando", declarou, dirigindo-se aos sul-rio-grandenses. O chefe do Executivo gaúcho também afirmou, na coletiva, que ficará no PSDB. Nas últimas semanas foi ventilada a saída de Leite da legenda para concorrer à Presidência pelo PSD, partido comandado por Gilberto Kassab, o que não se confirmou.

O governador do Rio Grande do Sul disse, ainda, que está em contato com o candidato eleito democraticamente pelas prévias do PSDB, João Doria (SP). Segundo ele, o governador paulista está alinhado com os "mesmos sentimentos" em relação a uma viabilidade de alternativa para o Brasil. Isso significa que ele aceitará a melhor escolha para o país em prol de um projeto maior.

A atitude de permanecer na legenda sugere que Leite ainda acredita numa "virada de jogo" no tucanato para assumir a candidatura presidencial do partido no lugar de Doria. Além disso, ser tachado como "traidor" por seus colegas da sigla não o ajudaria com uma campanha mais robusta, em busca de uma possível candidatura ao Planalto.

Prévias do partido

Para Leite, as prévias deram um "candidato ao partido e não um partido para um candidato". Nessas eleições, segundo ele, o importante é se manter em harmonia e isso envolve estar acima das prévias e, até mesmo, dos partidos.

"Não adianta querer se apresentar nessa eleição sendo nem um, nem outro. Não vamos conseguir virar esse jogo se ficarmos enfrentando um ao outro. Temos um que representa o passado, outro que representa o presente, falta alguém que fale de futuro. Uma democracia não é apenas a oportunidade do voto, é, depois do voto, ter a capacidade do diálogo, de novas percepções, de decisões. Há um grupo representativo de pessoas que entende que o melhor nome sou eu. Se houver uma maioria que apoie, serei eu", explicou.

O governador declarou que respeita o processo, mas que agora há novos atores nesse jogo eleitoral — se referindo às conversas que estão acontecendo entre União Brasil, MDB e a federação entre PSDB e Cidadania.

"Estaremos diante de uma discussão que envolve outros partidos políticos, de forças que vão se alinhando, buscando um caminho comum para que se entenda qual o caminho que iremos seguir juntos. Não para dividir, dispersar as forças", assegurou.

Na tarde de ontem, após o anúncio de Leite, o pré-candidato tucano, João Doria, afirmou a jornalistas, quando deixava um evento público em São Bernardo do Campo (SP), que Eduardo Leite "tomou a decisão certa" de permanecer no PSDB.

Nos bastidores do partido, há unanimidade no desejo de que Leite continue no ninho tucano. No entanto, aliados a Doria confirmam que não há hipótese de o governador de São Paulo retirar a candidatura do PSDB para ser substituído pelo gaúcho.

Por outro lado, há a confirmação de que Doria tem mantido conversas com os líderes dos partidos da coligação — a pré-candidata Simone Tebet, o presidente nacional do MDB, Baleia Rossi, e o presidente do União Brasil, Luciano Bivar.

Ainda paira a dúvida das motivações de Eduardo Leite ter renunciado ao governo. A ala tucana pró-Leite, encabeçada por Aécio Neves, seguido dos senadores José Aníbal e Tasso Jereissati, há semanas tenta articular a permanência do gaúcho em alinhamento com a disputa presidencial. O convencimento começou a acontecer por conta do baixo desempenho de Doria nas pesquisas.

Segundo fontes do PSDB, espaços importantes estão sendo abertos para Leite, inclusive a presidência nacional da frente que está se formando com os outros partidos. Enquanto isso, aliados a Doria se questionam sobre o real motivo, pois garantem que ele não sairá. Acreditam que "não tem sentido". Procurada pelo Correio, a assessoria afirmou que ele está focado em entregar os projetos do seu governo e não irá comentar sobre o assunto.

Tom de campanha

Um vídeo exibido no início da coletiva, que ocorreu no Palácio Piratini, em Porto Alegre (RS), dá pistas sobre o teor do que poderia ser o direcionamento da campanha eleitoral que Leite fará em 2022. Trazendo a sua idade como um trunfo — já que conquistou espaço na política com uma média de idade menor que a maioria dos nomes conhecidos —, Leite direcionou a sua fala à juventude.

"Eu sou jovem e não abro mão de sonhar. Vão dizer que é mais um sonho impossível, mas é com os jovens que o impossível se torna possível", frisou em um trecho do vídeo. "Por isso, nas próximas semanas, eu vou viajar pelo Brasil convocando os jovens a se engajarem na política pelo voto, para transformarem a política e o futuro, para transformarem o Brasil. Mais do que nunca a gente precisa dos jovens para construir uma alternativa, algo de diferente para o Brasil", completou.

Na conclusão do vídeo e durante toda a coletiva, Leite afirmou que para mudar o cenário de polarização estabelecido no país não se pode "desperdiçar votos". Ao citar as falas de Bolsonaro, de que a "luta não é da direita contra a esquerda, mas do bem contra o mal", em evento do Partido Liberal (PL), no domingo passado (27/3), Leite disse que o Brasil não precisa de um candidato que declare guerra interna no país.

Mudanças na Esplanada

A proximidade da data limite para a desincompatibilização de cargos públicos para os aspirantes a candidatos nas eleições de outubro próximo, marcada para 2 de abril, já movimenta a Esplanada dos Ministérios. Ontem, a ministra da Mulher, da Família e Direitos Humanos, Damares Alves, anunciou que deixará a pasta até sexta-feira (1º/4). A data é a limite da janela partidária para troca de partido.

Questionada por jornalistas, durante a chegada no Congresso Nacional, onde participou de uma audiência na Comissão de Direitos Humanos, sobre até quando será ministra, Damares respondeu: "Até o dia 31, 23 horas e 59 minutos. No dia 1º (de abril), a ministra já não é mais ministra", informou.

Apesar de confirmar a filiação ao partido Republicanos, Damares não indicou se disputará as eleições de 2022. "Mas não sei se serei candidata e não sei aonde serei candidata. Já tenho um partido e este é o primeiro grande passo", disse.

No entanto, a ministra já havia sinalizado a intenção de se candidatar a uma cadeira no Senado. Porém, o estado pelo qual disputaria a vaga ainda é uma incerteza. Inicialmente, seria o Amapá, pelo qual teria preferência.

Dentre as unidades federativas citadas por Damares estavam, também, Roraima, Sergipe e São Paulo. Contudo, após conversas com a cúpula do partido no Distrito Federal, também cogitou-se uma candidatura pelo DF.

Defesa

Outra saída esperada para os próximos dias é a do ministro da Defesa, Braga Netto, que deixará a pasta para ser vice na chapa de Jair Bolsonaro (PL) à reeleição, conforme o próprio chefe do Executivo tem acenado. Durante reunião no Palácio do Planalto ontem, o presidente se encontrou com os comandantes das Forças, o general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira (Exército Brasileiro), o almirante de esquadra Almir Garnier Santos (Marinha do Brasil), o tenente-brigadeiro do ar Carlos de Almeida Baptista Júnior (Aeronáutica) e o auxiliar Pedro Cesar Sousa, subchefe para Assuntos Jurídicos da Secretaria-Geral da Presidência.

Na mesa, foram discutidos os detalhes para que o atual comandante do Exército, Paulo Sérgio de Oliveira, assuma o comando do Ministério da Defesa na quinta-feira (31), no lugar de Walter Braga Netto. Já o posto do comando do Exército ficará a cargo do general Marco Antônio Freire Gomes, em solenidade também prevista para o próximo dia 31.

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