escândalos no mec

Prefeitos confirmam cobrança de propina

Três gestores relatam no Senado que pastores pediam dinheiro para liberar recursos

RAPHAEL FELICE TAÍSA MEDEIROS
postado em 06/04/2022 00:01
 (crédito: Geraldo Magela/Agência Senado)
(crédito: Geraldo Magela/Agência Senado)

Em audiência na Comissão de Educação do Senado, três prefeitos confirmaram denúncias de corrupção no Ministério da Educação. Eles relataram ter recebido pedidos de propina dos pastores Arilton Moura e Gilmar Santos para liberar verbas do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).

O prefeito de Luís Domingues (MA), Gilberto Braga, afirmou que, em 7 de abril de 2021, Arilton Moura pediu R$ 15 mil para protocolar demandas do município no ministério. O pastor também teria exigido 1kg de ouro quando a verba fosse liberada.

Segundo Braga, o fato ocorreu em almoço após reunião no MEC. "Ele perguntou sobre minhas demandas, e eu apresentei. Ele me disse: 'Você vai me arrumar os R$ 15 mil para protocolar suas demandas e, depois que seu recurso estiver empenhado, como sua região é de mineração, você vai me trazer 1kg de ouro'. Eu não disse nem que sim, nem que não e me afastei da mesa", contou.

Aos senadores, o prefeito José Manoel de Souza (PP), de Boa Esperança do Sul (SP), relatou que foi a um almoço com os pastores em um hotel de Brasília. No local, segundo ele, Arilton Moura disse: "Prefeito, você bem sabe como funciona né?". Eu respondi que não", contou. "Ele disse: 'Prefeito, o Brasil é muito grande, nós temos mais de 5.600 municípios. Não dá para ajudar todos os municípios'. Eu falei: 'Não dá, pastor?'. Ele respondeu: 'Mas eu consigo te ajudar'".

Souza afirmou ter perguntado como seria a "ajuda". Segundo ele, o religioso acenou com uma escola profissionalizante. "(o pastor teria dito) 'Você assina um ofício, eu já coloco no sistema e, em contrapartida, você deposita R$ 40 mil na conta da Igreja Evangélica'. Foi onde (sic) eu bati nas costas dele e falei: 'Pastor, muito obrigado, mas para mim não serve'", relatou.

Kelton Pinheiro (Cidadania), prefeito de Bonfinópolis (GO), também declarou que Arilton Moura cobrou R$ 15 mil para destravar os recursos, durante um almoço em restaurante de Brasília. O encontro teria ocorrido em 11 de março de 2021, e o pedido foi presenciado por Gilmar Santos.

"Quando chegou o pastor Arilton na minha mesa e me abordou de uma forma assim muito abrupta e direta, dizendo: 'Olha, prefeito, vi aqui que o seu ofício está pedindo a escola de 12 salas. Essa escola aí deve custar uns R$ 7 milhões o recurso para ser liberado, mas é o seguinte: eu preciso de R$ 15 mil na minha mão hoje'", contou.

De acordo com o prefeito, Arilton Moura pediu "uma transferência" imediata para sua conta, porque "esse negócio de para depois, isso não cola comigo, não". Kelton Pinheiro contou que o religioso reclamou da classe política. "(Arilton Moura teria dito) 'Vocês políticos são um bando de malandros, não têm palavra. Se não pegar antes, não paga ninguém'. Aquilo me deu ânsia de vômito", frisou.

Outros dois prefeitos, Calvet Filho, de Rosário (MA), e Hélder Aragão, de Anajatuba (MA), negarem ter recebido pedido de propina.

"Todos que revelaram terem sido achacados não receberam empenho de recursos, mas os que dizem não ter recebido pedido de propina receberam obras e negam ter pago alguma propina. Isso chama a atenção", ressaltou o presidente da comissão, Marcelo Castro (MDB-PI). (Com Agência Estado)

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