RACISMO

Vereador de SP é acusado de fala racista em sessão: 'Coisa de preto, né?'

Áudio vazado durante uma sessão da CPI dos Aplicativos da Câmara Municipal de São Paulo interrompeu o encontro. Camilo Cristófaro (PSB) já foi acusado de racismo outras duas vezes por colegas da Casa

Uma fala racista supostamente proferida por um vereador de São Paulo interrompeu a sessão desta terça-feira (3/5) da Câmara Municipal da cidade. Camilo Cristófaro (PSB) acompanhava a reunião da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Aplicativos de forma remota quando o áudio dele vazou no plenário. “Não lava nem a calçada. Coisa de preto, né?”, disse. Veja:

Após a fala ser ouvida pelos parlamentares, o presidente da CPI, vereador Adilson Amadeu (União Brasil), pediu que os técnicos fechassem o áudio de Camilo, mas a parlamentar Luana Alves (Psol) pediu que a sessão fosse interrompida. “Não dá, vereador, já está registrado. Sessão suspensa por 5 minutos”, declarou.

Após o prazo, a sessão foi reiniciada e a vereadora comunicou que a fala não passaria sem punição. “Infelizmente a gente tem o início dessa sessão completamente tumultuado por um áudio que aparentemente tem a voz do vereador Camilo Cristófaro, que acaba de proferir uma fala extremamente racista. Eu queria não acreditar que essa fala existiu, mas infelizmente existiu”, iniciou.

“Conversamos lá atrás e queria pedir para a Secretaria da Mesa as notas taquigráficas, pois ficará registrado, foi acordado lá atrás, e também foi acordado que todos aqui são testemunhas para todas as ações posteriores que venham decorrer dessa fala se infelizmente essa fala for do vereador Camilo Cristófaro, como parece ser”, informou.

Em seguida, Camilo pede a palavra, que foi vetada pelo presidente da CPI, que o aconselhou a ir presencialmente até a casa. No entanto, o vereador continua a falar e diz que “a vereadora Luana está confundindo as coisas”, aos gritos.

O microfone de Camilo é silenciado e Adilson diz que continuará a sessão. “No momento, vamos continuar a sessão porque temos convidados e respeito a essas pessoas aqui”, disse Adilson.

Camilo já foi acusado de racismo outras duas vezes

Se a suspeita desta terça-feira for confirmada, não será a primeira vez que o vereador Camilo Cristófaro tem falas racistas. Em setembro de 2019, ele usou o plenário da Casa para criticar a atuação de Fernando Holiday (MBL) e o chamou de “macaco de auditório".

“Gostaria de falar que lamentavelmente o senhor Fernando Holiday usa as redes sociais, que ele é o grande macaco de auditório das redes sociais”, disse na ocasião. Holiday também disse que Camilo disse a ele que precisava “comer banana”. À Folha, Camilo se defendeu e disse que ele se referia a um “macaco de auditório do Chacrinha”. “Só quer aparecer. Racista? Ele diz isso para aparecer”, disse.

Pouco mais de um ano antes, em junho de 2018, foi a vez do vereador George Hato (MDB) fazer uma denúncia de racismo contra Camilo. Ele chegou a pedir a cassação do colega por injúria racial, após o vereador do PSB gravar um vídeo em que critica Hato e puxa os olhos com as mãos, em um gesto pejorativo para ofender pessoas de origem asiática. “É um cara que faz assim, ó”, diz Camilo no vídeo enquanto puxa os olhos.

Ao BuzzFeed News, à época, Camilo repudiou a denúncia. “Se puxar o olho é racismo, então o que que virou o mundo agora? É tudo preconceito, racismo”, disse. Em dezembro de 2018, o vereador chegou a ser cassado por ser acusado de fraudar a prestação de contas das eleições de 2016, mas foi reconduzido ao cargo elo ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Edson Fachin

O que dizem as partes sobre o episódio na CPI dos Aplicativos

O presidente da Câmara Municipal de São Paulo, vereador Milton Leite, emitiu nota sobre o ocorrido momentos após o ocorrido, na tarde desta terça-feira (3/5). Ele diz estar com uma “indignação imensa” e que lamenta por ter sido registrado “mais uma denúncia de episódio racista” dentro do espaço legislativo, “local democrático, livre e que acolhe todos”.

“Como negro e presidente da Câmara, tenho lutado com todas as forças contra o racismo, crime que insiste em ser cometido dentro de uma Casa de Leis e fora dela também”, pontuou. De acordo com o presidente, o caso será apurado pela Corregedoria da Casa.

A vereadora Luana Alves também informou que entrará com representação na Corregedoria da casa. “Racistas não passarão!”, declarou nas redes sociais.

O Correio entrou em contato com o vereador Camilo Cristófaro, mas não obteve resposta até a última atualização desta matéria. O espaço permanece aberto para eventuais manifestações.

 

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