ELEIÇÕES

Brasil ganha mais 2 milhões de eleitores entre 16 e 18 anos, diz TSE

O crescimento coincide com a campanha da Justiça Eleitoral e o engajamento de artistas como a cantora Anitta e os atores de Hollywood Leonardo diCaprio e Mark Ruffalo

O Brasil ganhou 2.042.817 novos eleitores entre 16 e 18 anos, segundo o balanço do cadastro eleitoral do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), divulgado ontem. O presidente da Corte, ministro Edson Fachin, comemorou o resultado.

"É com muito orgulho e satisfação que anuncio, agora, o resultado parcial de todo esse esforço, que superou todos os recordes já registrados pela Justiça Eleitoral", disse.

Segundo o ministro, o contingente de novos eleitores provém do empenho da sociedade em favor da democracia. "Vimos, como há muito não se via, um país unido pelo bem e fortalecimento da democracia. Por isso, agradeço a cada um, influenciador ou não, famoso ou não, brasileiro ou não, jovem ou não, que criou conteúdos nas redes sociais para chamar a atenção de todos para a regularização do título", disse.

O crescimento coincide com a campanha da Justiça Eleitoral e o engajamento de artistas como a cantora Anitta e os atores de Hollywood Leonardo diCaprio e Mark Ruffalo, por exemplo, além da divulgação de vídeos nas redes sociais.

A adesão de novos eleitores representa um aumento de 47% em relação ao pleito de 2018. Há quatro anos, o TSE registrou, entre janeiro e abril, 1.387.765 novos eleitores jovens.

Na avaliação do cientista político Paulo Fabio Dantas Neto, professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), apesar de ser um crescimento expressivo, esse público não representa, necessariamente, um fator decisivo na disputa eleitoral.

"Não creio que, do ponto de vista numérico, tenha uma força decisiva, a ponto de ser determinante do resultado eleitoral, por dois motivos. Além de não representar um percentual tão expressivo sobre o eleitorado total, não deve se comportar numa única direção, como de resto nenhum outro segmento se comportará", explicou o especialista.

Mesmo assim, o novo eleitorado atrairá o interesse dos candidatos, particularmente em um contexto polarizado, na avaliação do professor. "Errará quem subestimar a capacidade de animação política que esse segmento possui, pela sua disposição para uma mobilização efetiva e para cobrar da política uma maior conexão com valores e não só com a lógica dos interesses, ainda que não possa nem deva ignorá-los também", concluiu.

O estudante Ítalo de Sales, 17 anos, morador do Grande Colorado, em Brasília, faz parte dos mais de 2 milhões que tiraram o título de eleitor neste ano. O jovem está empolgado para votar pela primeira vez. "Acredito que, como forma de responsabilidade e representando o patriotismo, é importante que eu vote para um representante. Dizem que os jovens são o futuro do país, portanto, é bom colocar desde já essa responsabilidade em prática", contou.

Augusto Alves, 17 anos, morador de Santa Maria, também citou o desejo de fazer parte da escolha dos governantes em outubro. "Sempre quis tirar o título antes dos 18 anos, quase que sem parar para pensar no porquê, mas acho que esse ano eu estava mais motivado ainda, pois a próxima eleição, ao meu ver, será particularmente importante", disse o estudante.

Para o advogado Fernando Neisser, sócio da Neisser e Bernardelli Advocacia; Membro da Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político (Abradep) e do Instituto Paulista de Direito Eleitoral, a mobilização em torno do alistamento eleitoral dos jovens de 16 e 17 anos foi exemplar. “A campanha ampliou a conscientização quanto à importância do voto em uma faixa etária que nos últimos anos distanciou-se da política”, destacou. “Mais do que isso, mostrou que a Justiça Eleitoral, ao menos desde a gestão do ministro Luís Roberto Barroso, teve um salto de qualidade em sua comunicação”, concluiu.

O advogado Belisário dos Santos Júnior, ex-secretário de Justiça do Estado de SP, avalia que o índice de abstenção juvenil seria alto, caso a campanha não tivesse acontecido. “E poderia traduzir o que é fatal para qualquer nação: o desinteresse da juventude pelos rumos do país. O TSE e a sociedade se dedicaram com empenho e surge o resultado digno de comemoração: mais de 2 milhões de novos eleitores apenas na faixa dos 16 e 17 anos, recorde histórico”, disse.

“Importante registrar o engajamento maciço da classe artística, inclusive estrangeiros, no sentido de conscientizar a juventude da importância de uma participação política ativa na escolha de nossos governantes, diante de uma apatia registrada nos últimos anos, decorrente da deterioração da imagem da política, consequência de escândalos envolvendo políticos de todas as matizes ideológicas, e da extrema polarização que vigora no país, especialmente, desde a última eleição presidencial”, destaca a advogada Fátima Cristina Pires Miranda, sócia do escritório Vilela, Miranda e Aguiar Fernandes Advogados.

 

*Estagiário sob a supervisão de Carlos Alexandre de Souza 

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