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Ex-ministro, Bento Albuquerque não contava mais com a confiança de Bolsonaro

Titular do Ministério de Minas e Energia é demitido após a confusa mudança de comando na Petrobras e as conversas que mantinha com políticos do Centrão sobre o projeto para a construção de gasodutos. Economista Adolfo Sachsida assume a pasta

A troca de comando no Ministério de Minas e Energia, com a demissão de Bento Albuquerque e a nomeação de Adolfo Sachsida — nome de confiança do ministro da Economia, Paulo Guedes —, surpreendeu a classe política e analistas econômicos por não mostrar sinais claros das intenções do presidente Jair Bolsonaro (PL). Em princípio, associou-se o troca-troca ministerial, anunciado na manhã de ontem, às últimas declarações do chefe do Executivo sobre o lucro recorde da Petrobras e os sucessivos aumentos de preço dos combustíveis anunciados pela estatal. Mas, ao longo do dia, essa percepção mudou. Bento Albuquerque não contava mais com a confiança do Palácio do Planalto desde o momento em que começou a enredar-se com questões políticas consideradas sensíveis ao governo.

Fontes do entorno de Bolsonaro, ouvidas pelo Correio, confirmaram que as últimas polêmicas envolvendo o agora ex-ministro ajudaram a isolá-lo. Dois fatos que se conectam foram apontados: a confusa mudança de comando na Petrobras e as conversas que ele mantinha com políticos do Centrão sobre o projeto que autoriza investimentos para a construção de gasodutos. Os recursos, que ultrapassam a casa dos R$ 100 bilhões, sairiam dos cofres da União e beneficiariam diretamente um dos maiores empresários do país, Carlos Suarez, que detém o controle de empresas de distribuição e transporte de gás nas regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste.

No caso da Petrobras, o problema foi a indicação do presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, e do consultor Adriano Pires para os cargos de presidente do Conselho de Administração da companhia e de presidente da estatal, respectivamente. Justamente por causa das ligações com Suarez — caracterizando conflito de interesses —, os dois desistiram do convite. Bento Albuquerque acabou indicando outro nome de confiança dele, o então secretário de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, general José Mauro Ferreira Coelho, para a presidência da Petrobras. Com a mudança no ministério, a situação de Coelho é incerta.

"O ministro (Albuquerque) estava flertando muito com a política", disse uma fonte do governo, referindo-se às articulações do Centrão com a pasta de Minas e Energia. Ante a troca, os temas sensíveis voltam ao controle do Planalto e da equipe econômica.

Um parlamentar influente do Centrão, ouvido pela reportagem também em condição de anonimato, confirmou que a demissão do ministro tem a ver com a atuação do MME. "Tem temas muito importantes e sensíveis na pasta e isso coloca em xeque qualquer pessoa que assuma o posto". Ele disse que "o presidente (Bolsonaro) queria alguém mais enérgico" para lidar com as questões mais sensíveis" envolvendo a Petrobras e admitiu que o ex-ministro já não atendia às expectativas do Planalto.

Dessa vez, nem os assessores fardados de Bolsonaro foram consultados. Apesar de o ex-ministro ser almirante, ele nunca foi associado ao grupo de militares que cerca o presidente e mantinha uma postura discreta nos compromissos governamentais.

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Blindagem

Outro interlocutor do Planalto inferiu que o chefe do Executivo atendeu ao desejo de Paulo Guedes de blindar o ministério não só em relação às pressões políticas, mas, também, às decorrentes dos aumentos de preço dos combustíveis. Antes de ser demitido, Albuquerque estava, justamente, avaliando propostas para evitar uma crise com os caminhoneiros autônomos, que ameaçam entrar em greve por causa do alto preço do óleo diesel (leia reportagem na página ao lado).

A mudança ministerial sinaliza, ainda, que haverá menos espaço para intervenção política na Petrobras, pois tanto Guedes quanto Sachsida já se manifestaram contra subsídios e controle de preços. No início de março, em entrevista coletiva, o agora ministro disse que medidas que geram dúvidas em relação à situação fiscal fazem com que o risco país suba, o real se desvalorize e o preço dos combustíveis aumente. "Começa com uma medida para reduzir o preço do combustível, mas é equivocada. Vai ter o resultado contrário", sustentou Sachsida, na ocasião. E completou: "Cabe a nós mostrar que não vai ter o resultado esperado".

Com relação ao projeto que autoriza investimentos públicos para construção de uma malha de gasodutos — estimados em mais de R$ 100 bilhões —, o tema ainda está na mesa do gabinete ministerial, à espera do novo ocupante. Lideranças do Centrão defendem que esse investimento saia dos recursos do pré-sal, mas articulam que a autorização ocorra por meio de uma emenda ao projeto de reestruturação do setor elétrico. Seria uma espécie de "atalho" para dar agilidade à aprovação da proposta, com o qual técnicos do Ministério de Minas e Energia não concordam.

Um parlamentar próximo ao presidente Jair Bolsonaro confirmou ao Correio, em caráter reservado, que as negociações com o governo relacionadas ao projeto do gasoduto "ainda estão ocorrendo". De acordo com o parlamentar, "essa articulação está aqui há bastante tempo. Mas não se trata só de um lado (o do empresário Carlos Suarez), é benefício para muitas pessoas".