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Preocupação na Amazônia

Autoridades brasileiras procuram indigenista intimidado e jornalista inglês desaparecidos. PF ouve dois

Tainá Andrade
postado em 07/06/2022 00:01
 (crédito: Funai/Arquivo)
(crédito: Funai/Arquivo)

O indigenista Bruno Araújo Pereira, que desapareceu junto com o jornalista inglês Dom Phillips no trajeto entre a comunidade ribeirinha São Rafael e a cidade de Atalaia do Norte, no extremo oeste do Amazonas, vinha recebendo ameaças de morte por conta do trabalho que realizava junto às comunidades nativas do Vale do Javari. Por causa da possibilidade de terem sofrido alguma violência física, agentes da Polícia Federal (PF) detiveram, ontem à noite, dois pescadores identificados apenas pelos apelidos de "Churrasco" e "Jâneo".

Os dois foram levados para Atalaia do Norte e estão em poder da Polícia Civil para prestar esclarecimentos. As ameaças contra o indigenista tinham sido denunciadas à PF, ao Ministério Público Federal (MPF) e à Fundação Nacional do Índio (Funai), segundo Beto Marubo, um dos coordenadores da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja).

Conforme observou, as respostas dos órgãos federais às ameaças contra Bruno e aos membros da Univaja sempre foram protocolares. "A violência contra os nossos parceiros e os povos tem aumentado. A ameaça física (ao indigenista) era no sentido de inibir a atuação dele. Que não seja uma busca e salvamento apenas. Que haja um trabalho de investigação, porque acreditamos que a violência está relacionada com o desaparecimento", afirmou Marubo.

Bruno e Dom Phillips — veterano jornalista que colaborava com o The Guardian — desapareceram numa região entre as fronteiras de Peru, Colômbia e Brasil, conhecida pela presença de narcotraficantes e por garimpeiros e madeireiros que exploram ilegalmente a floresta. O repórter acompanhava o indigenista para realizar entrevistas com as comunidades nativas locais.

O percurso deles deveria ter sido feito em duas horas, mas os dois estão há quase dois dias desaparecidos. Bruno tinha uma reunião com o homem apelidado de "Churrasco" para fechar uma cooperação entre as comunidades ribeirinhas e os indígenas, a fim de tentarem impedir o avanço das invasões de garimpeiros e madeireiros. O encontro seria em São Rafael, mas o pescador não apareceu. Bruno e o jornalista seguiram para Atalaia — e desde então não foram mais vistos.

Buscas

A comunicação do desaparecimento foi feita, ontem, pela Univaja ao MPF do Amazonas. Em nota, o órgão informou que instaurou um procedimento administrativo para apurar o caso e acionou as polícias Federal, Civil, a Força Nacional, a Frente de Proteção Etnoambiental Vale do Javari e a Marinha. De acordo com o MPF, a força armada conduzirá as buscas por meio do Comando de Operações Navais.

A Funai informou que acompanha o caso, porém frisou que o indigenista estava licenciado da autarquia. Procurada, a Superintendência da Polícia Federal no Amazonas não se manifestou até o fechamento desta edição.

Em Brasília, o procurador-geral da República, Augusto Aras, se reuniu com o ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres, para discutir o caso. Já o presidente da Comissão de Direitos Humanos do Senado, Humberto Costa (PT-PE), oficiou à Funai, às polícias Federal e Civil do Amazonas para que deem esclarecimentos sobre os trabalhos.

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