O presidente Jair Bolsonaro (PL) aproveitou a viagem aos Estados Unidos para abastecer a campanha à reeleição, na avaliação de analistas ouvidos pelo Correio. A participação na Cúpula das Américas, incluindo o encontro com o presidente norte-americano Joe Biden, será utilizada como um trunfo eleitoral. Durante a visita, Bolsonaro, apoiador de Donald Trump, procurou mostrar a boa relação com Biden. A aproximação com o democrata é uma tentativa de reverter os danos causados à imagem internacional do Brasil.
Somado ao trabalho na diplomacia, a viagem presidencial teve objetivos de campanha. A motociata em Orlando não ocorreu por acaso. O estado da Flórida concentra grande parte dos brasileiros que moram nos Estados Unidos e foi importante reduto do bolsonarismo no exterior em 2018. Juntas, Orlando e Miami concentraram 91,04% dos votos válidos para Bolsonaro no segundo turno.
O encontro com Biden foi oferecido pela própria Casa Branca ao presidente Bolsonaro, durante o processo de convencimento para que ele participasse da Cúpula das Américas. Desde a posse do presidente americano, em janeiro de 2021, nunca houve conversa direta entre os dois chefes de Estado. Analistas avaliam que o período eleitoral pode ter influenciado para Bolsonaro aceitar o convite.
"É uma estratégia eleitoral. Bolsonaro joga para a comunidade internacional que está aberto ao diálogo, quando já houve outras oportunidades, e ele não o fez", afirma a professora de Ciência Política da Universidade Federal de Alagoas Luciana Santana. "Considerando a posição do Brasil sobre determinados temas, a aproximação com o Biden ocorre de forma bastante oportunista", acredita.
Política externa costuma ser um tema secundário nas eleições brasileiras. Bolsonaro, porém, precisa reverter desgastes com líderes dos Estados Unidos, da China e da França, entre outros países. Esse é um diferencial importante em relação ao seu principal adversário, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) - que lidera as pesquisas. Entrevistado pela revista Time recentemente, o petista costuma ser lembrado pela boa relação com outros líderes mundiais.
"Lula era muito bem recebido nos países que visitava. Ele tinha um grande apreço do presidente Barack Obama. Obviamente que isso pode ser usado contra Bolsonaro", avalia o cientista político André Rosa. "Bolsonaro entrou na onda trumpista de se voltar contra as grandes potências. Mas o Brasil não é os Estados Unidos", completa.
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