Delegado: ex-ministro sabia de operação da PF

O delegado federal Bruno Calandrini, responsável pela investigação sobre o gabinete paralelo de pastores no Ministério da Educação (MEC), disse acreditar que houve vazamento do inquérito.

"Os indícios de vazamento são verossímeis e necessitam de aprofundamento diante da gravidade do fato aqui investigado", escreveu, em manifestação enviada na sexta-feira à Justiça Federal em Brasília.

Calandrini cita ligações do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro, interceptadas na apuração. Para o delegado, as conversas "evidenciam" que ele "estava ciente" de que seria alvo de buscas. O documento diz, ainda, que o ex-ministro demonstrou "extrema preocupação" com os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura, apontados como lobistas no MEC.

"Nos chamou a atenção a preocupação e fala idêntica, quase que decorada, de Milton com Waldemiro e Adolfo e, sobretudo, a precisão da afirmação de Milton ao relatar à sua filha Juliana que seria alvo de busca e apreensão, informação supostamente obtida através de ligação recebida do presidente da República", explica o delegado.

Em uma das conversas, Ribeiro indicou ter recebido um alerta do presidente Jair Bolsonaro (PL) sobre o risco de abrirem buscas contra ele. "Ele (Bolsonaro) acha que vão fazer uma busca e apreensão em casa", afirma. No dia da ligação, o chefe do Executivo estava viajando com o ministro da Justiça, Anderson Torres, a quem a Polícia Federal (PF) transmite informações diárias de suas missões.

A ligação não é a única que acendeu o alerta sobre uma possível interferência. No dia da operação, a mulher do ex-ministro, Miryan Ribeiro, que também foi grampeada, disse a um interlocutor que o marido "já estava sabendo", da operação.

O Ministério Público Federal (MPF) também apontou indícios de vazamento da operação policial e pediu investigação para saber se houve violação de sigilo e favorecimento pessoal.

Após a Operação Acesso Pago, Calandrini já havia dito que não tem "autonomia investigativa e administrativa" para conduzir o inquérito com "independência e segurança institucional". Em mensagem enviada a colegas, afirmou que a apuração foi "prejudicada" pelo "tratamento diferenciado concedido pela PF" em São Paulo a Ribeiro.

O ex-ministro foi preso preventivamente em Santos (SP) e deveria ter sido levado a Brasília, mas a Superintendência da Polícia Federal em São Paulo alegou questões logísticas e não fez a transferência. Ribeiro acabou recebendo habeas corpus do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) e foi solto antes de ser ouvido pelo delegado.