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Ameaças e ofensas em reuniões

Áudios mostram xingamentos e intimidações de Guimarães contra funcionários. Caixa anuncia auditoria externa para apurar denúncias

LUANA PATRIOLINO CRISTIANE NOBERTO
postado em 01/07/2022 00:01
 (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)
(crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)

Envolvido em um escândalo de assédio sexual contra funcionárias da Caixa Econômica Federal, o agora ex-presidente do banco estatal Pedro Guimarães está no centro de outras acusações, desta vez, de coação moral. Áudios enviados em grupos de colaboradores no WhatsApp, aos quais o Correio teve acesso, revelam intimidações e xingamentos do executivo a subordinados.

Em um deles, gravado durante reunião, Guimarães pede a Celso Leonardo Derziê, vice-presidente, para anotar os CPFs de todos os que estavam presentes, com o objetivo de puni-los com a perda de cargo, caso vazasse o teor do encontro. "Quem for responsável vai deixar de ser: ou o vice-presidente ou o diretor ou o superintendente nacional ou o gerente nacional. Então, Celso, é pra você essa, porque o Vreco é p* mole. Eu quero isso no detalhe, eu quero o CPF de todo mundo", disse o então presidente do banco estatal.

Outra gravação mostra Guimarães esnobando a opinião dos demais gestores e funcionários do banco. "Não é aceitável. E, de novo, caguei para a opinião de vocês, porque é eu (sic) que mando. Isso aqui não é uma democracia. É a minha decisão", declarou.

Conforme mais um áudio, Guimarães intimida funcionários subordinados e insinua perda de cargos. "Vocês só têm a perder. Cara, são malucos, não tem que ligar para ninguém. Se eu não dei o ok, não dei o ok, e acabou. É não. Por que vocês vão tomar o risco de perder a função, cara, por uma coisa que eu não autorizei?", questiona.

Guimarães já foi alvo de processo de assédio moral coletivo por ter obrigado funcionários do banco a fazer flexões durante uma confraternização de fim de ano da instituição em um hotel em Atibaia (SP), em dezembro de 2021.

Além do assédio moral, Guimarães foi citado em relatos de insinuação sexual. Desde a última terça-feira, se tornaram públicos relatos de funcionárias que acusam Guimarães de assédio sexual. Elas contam, por exemplo, que o ex-gestor da Caixa as chamava para o quarto dele em hotéis durante viagens oficiais, pedindo que levassem remédios ou carregador de celular. Quando chegavam, ele aparecia com trajes inadequados. As funcionárias relatam, ainda, abraços forçados, insinuações frequentes e toques nas partes íntimas.

As denúncias resultaram na abertura de investigação do Ministério Público Federal (MPF) sobre a conduta do ex-presidente da Caixa e elevaram a pressão para que ele deixasse a gestão do banco, o que ocorreu na última quarta-feira.

Investigação externa

O Conselho de Administração da Caixa Econômica Federal (CEF) decidiu, em reunião realizada ontem, contratar uma empresa terceirizada independente para fazer uma investigação complementar à que ocorre na Corregedoria do banco.

"Em razão dos fatos, o Conselho, reunido nesta data em sessão extraordinária, não somente determinou o prosseguimento da apuração pela Corregedoria, como deliberou pela contratação de uma empresa independente para promover investigações complementares", diz a nota do colegiado.

Segundo o comunicado, as apurações têm o intuito de resguardar a integridade de todos os denunciantes e serão acompanhadas pelo Comitê de Auditoria e reportadas ao Conselho, "de forma tempestiva, para que novas providências delas decorrentes sejam adotadas, seja no âmbito preventivo, seja no punitivo".

A proposta foi apresentada pela única mulher funcionária do banco eleita para compor o colegiado, Maria Rita Serrano. Ao Correio, ela disse que a questão pode se tratar de um "assédio institucionalizado". "Isso (a investigação paralela) vai conferir idoneidade e garantia às denunciantes, porque, caso comprovado, são várias pessoas comprometidas, ou por forma direta, ou omissão", afirmou.

O Conselho ainda destacou que vai agir firmemente em relação às denúncias de assédio. "Condutas ilícitas não são toleradas, em especial as de assédio sexual ou de qualquer natureza, e, se comprovadamente praticadas por agentes da instituição, receberão o devido tratamento previsto na legislação e nas normas internas da empresa", acrescenta a nota, sem mencionar o nome de Guimarães.

Na avaliação do presidente da Associação Nacional dos Advogados da Caixa Econômica Federal (Advocef), Marcelo Quevedo, as denúncias demonstram a necessidade de ações preventivas. "Medidas que evitem esse tipo de ocorrência numa empresa estatal do porte da Caixa e garantam a devida punição dos infratores", frisou.

Quevedo destacou o empenho da Advocef no amparo aos funcionários. "A associação está preparada para apreciar os fatos relatados e oferecer todo o suporte às vítimas. Assim como outras entidades representativas de funcionários da Caixa, está à disposição para representar os associados nas hipóteses de violações de direitos", acrescentou.

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