Defesa da cloroquina e aplausos de médicos

Em reunião na sede do Conselho Federal de Medicina (CFM), em Brasília, o presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a defender medicamentos sem comprovação científica contra o novo coronavírus, como a cloroquina, e disparou críticas a senadores da CPI da Covid.

Os alvos foram Omar Aziz (PSD-AM), Renan Calheiros (MDB-AL) e Randolfe Rodrigues (Rede-AP). Quando Bolsonaro ironizou os parlamentares, os médicos riram e aplaudiram.

"Eu podia ter acabado com a CPI da Pandemia rapidamente. Com a emenda do honestíssimo Omar Aziz e do Ronildo Calheiros, irmão do honestíssimo Renan Calheiros, cujo relator era especialista em medicina intergaláctica, o Randolfe 'Fala Fino' Rodrigues. Teve emenda deles permitindo que prefeitos e governadores comprassem vacina em qualquer lugar do mundo sem certificação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e sem licitação", afirmou. "Quem ia pagar a conta era eu. Como não aceitei isso, me acusaram, no final, de charlatanismo. Eu que tomei cloroquina. Com todo respeito, eu estudei. Se foi em função disso ou não, para mim, foi. Aqui no Brasil foi praticamente proibido falar de tratamento precoce", emendou.

No relatório final, a CPI da Covid imputou a Bolsonaro nove crimes, mas, na última segunda-feira, a vice-procuradora-geral da República, Lindôra Araújo, pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) o arquivamento de investigações contra o presidente.

À plateia de médicos, o chefe do Executivo relatou, também, que nunca se vacinou contra a doença. "Compramos vacina para todo mundo, de forma voluntária. Nunca exigi passaporte vacinal nem cobrei nada de ninguém, até porque, eu nunca me vacinei. Entendo que isso é liberdade e democracia. É um direito meu. E estou vivo até hoje", alegou.

Bolsonaro voltou a dizer que a liberdade é mais importante do que a vida e pediu indiretamente voto de confiança da categoria nas eleições de outubro. "Seremos julgados pelo que fizemos aqui na Terra, bem como por aquilo que poderíamos fazer e não fizemos. A omissão, no meu entender, é tão grave quanto uma ação malfeita", frisou.

Sem citar nomes, o presidente aproveitou para alfinetar o Judiciário. "A pandemia foi um exemplo para todos nós de como devemos ter cada vez mais zelo com a política. Nossa vida passa pelo Parlamento, pelo Executivo e passa por outro Poder, que está legislando bastante nesses últimos três anos", alfinetou.

O sistema eleitoral foi novamente alvo do chefe do Executivo. "Tudo evolui, exceto as urnas das seções eleitorais, elas não precisam evoluir", disse. "Não vamos tocar nesse assunto aqui. Mas dizer aos senhores que, modestamente, dou o melhor de mim, ouço as pessoas. Estamos há três anos e meio sem denúncia de corrupção, a não ser da Covaxin (vacina), que eu não comprei e foi arquivada", justificou.

O encontro de ontem não estava previsto na agenda de Bolsonaro. Segundo a assessoria de campanha, o presidente foi ao local ouvir as demandas da classe médica.

Na pandemia, o CFM se alinhou a Bolsonaro e se absteve de condenar os discursos dele em defesa da cloroquina e da hidroxicloroquina.

Após o encontro, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, classificou o evento como "excelente". "Oportunidade de discutirmos as políticas públicas de saúde que têm sido feitas pelo Ministério da Saúde, a pandemia de covid-19, a importância do Sistema Único de Saúde e o compromisso perene de sermos um sistema de saúde mais forte e resiliente, capaz de atender às justas expectativas da população brasileira", pontuou.