ELEIÇÕES 2022

'Fazer cartinha todo mundo faz', diz Bolsonaro sobre USP e Febraban

Em conversa com representantes de bancos e instituições financeiras, presidente de novo ataca documento que cobra compromisso com a democracia e diz que foi elaborado para defender retorno de adversário político à Presidência

Em reunião com mais de 30 representantes dos bancos, ontem, o presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou que "quem é democrata não precisa assinar cartinha". A crítica refere-se à Carta às Brasileiras e Brasileiros em Defesa do Estado Democrático de Direito, organizada pela Universidade de São Paulo (USP) — e da qual a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) é signatária —, que será lida no próximo dia 11.

"Quem quer ser democrata, não tem que assinar cartinha, não. Se tiver que assinar que sou honesto, 'assina aí que eu sou honesto', todo mundo vai assinar que é honesto. Democracia tem que sentir o que a pessoa está fazendo. Falar todo mundo fala. Fazer cartinha todo mundo faz", afirmou, no encontro que reuniu representantes da Febraban e da Confederação Nacional das Instituições Financeiras (CNF), em São Paulo. O presidente classificou os signatários do documento como "caras de pau" e "sem caráter".

Para Bolsonaro — que disse que não assinará o documento, que já reuniu mais de 800 mil assinaturas —, o importante nesse momento é ver o conjunto de medidas tomadas pelo seu governo. "Vocês têm que olhar na minha cara, ver as minhas ações e me julgar por aí. Não vou assinar cartinha. Uma carta (cujo) objetivo é voltar o país para as mãos daqueles que fizeram malfeitos", disse, insinuando que o documento defende a volta de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à Presidência. O petista não é citado em momento algum do texto.

Na semana passada, Bolsonaro cancelou a ida à sabatina da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) por temer ser constrangido a assinar a carta que foi elaborada conjuntamente pela USP e pela entidade empresarial.

Bolsonaro citou o indulto concedido ao deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ), condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por estimular atos antidemocráticos, e desafiou: "Me aponte uma palavra minha contra a democracia".

"Todo o Foro de São Paulo tem que ser convidado para assinar a carta pela democracia. 'Vamos tirar o Bolsonaro dali. É melhor um democrata na corrupção do que um honesto num regime forte'. Qual regime forte o meu? Me aponte uma palavra minha contra a democracia. Eu mandei prender algum deputado? Agora, quando condenaram a nove anos de cadeia o deputado, falei: 'Vai sair amanhã'. E saiu. É ser machão? Não, é não trair a minha consciência", justificou-se.

Saiba Mais

Ataque ao Supremo

Como tem sido praxe, Bolsonaro voltou a atacar o Supremo Tribunal Federal (STF) ao citar o inquérito das Fake News, cujo relator é o ministro Alexandre de Moraes. "O que é fake news? Não está tipificado. Como é que alguém pode ser julgado por fake news? Que país é esse? Onde está a ditadura? Está no Executivo ou está em alguns poucos de outros poderes?", questionou.

O presidente também apelou para que os bancos reduzam os juros do crédito consignado para quem recebe o Auxílio Brasil e o Benefício de Prestação Continuada (BPC) — a Lei 14.431 foi aprovada no último dia 4 e a pessoa pode comprometer até 40% dos valores recebidos mensalmente. Os grandes bancos, porém, não vão oferecer o serviço aos beneficiários dos programas do governo federal.

"Faço um apelo a vocês: vai entrar o pessoal do BPC no empréstimo consignado. Isso é garantia, desconto em folha. Se puderem reduzir ao máximo possível (os juros) porque estamos no final da turbulência", observou.