ELEIÇÕES 2022

Ameaças de bolsonarista a Ciro elevam a tensão na disputa eleitoral

Lisandro Vargas Vila Nova chegou a agredir integrantes da equipe do candidato do PDT. Policiais federais que cuidam da segurança do pedetista retiraram o agressor do local "para que nada mais grave pudesse acontecer"

Tainá Andrade
postado em 11/09/2022 03:55
 (crédito: Divulgação/campanha de Ciro Gomes)
(crédito: Divulgação/campanha de Ciro Gomes)

Depois do assassinato de um petista por um bolsonarista na semana passada, novos atos de intolerância política voltaram a assombrar a disputa eleitoral pelo país. Desta vez, um dos presidenciáveis foi o alvo. Ciro Gomes (PDT) e equipe foram intimidados por Lisandro Vargas Vila Nova, que se identificou como apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL) e disse estar armado. O episódio ocorreu enquanto a comitiva caminhava pelo Acampamento Farroupilha, tradicional feira da cultura gaúcha, em Porto Alegre. Lisandro chegou a agredir integrantes da equipe do ex-ministro e foi retirado do local pelos policiais federais que fazem a segurança de Ciro.

"O homem, apoiador de Bolsonaro, disse estar armado e tentou causar confusão durante a passagem da comitiva de Ciro pelo acampamento. Os policiais federais que faziam parte da equipe de segurança de Ciro precisaram retirar o agressor do local para que nada mais grave acontecesse. A equipe jurídica de Ciro já registrou boletim de ocorrência para que o caso seja apurado e as medidas legais contra o agressor sejam cumpridas", informou a campanha, por meio de nota. Além dessas providências, a brigada militar do Rio Grande do Sul registrou ocorrência no local. Após ser revistado, nenhuma arma foi encontrada com o agressor.

Simone Tebet (MDB) reagiu ao ataque a Ciro. A candidata ao Planalto usou as redes sociais para cobrar de Bolsonaro uma atitude em relação ao que classificou como "escalada de violência política". "Bolsonaro, que foi vítima de um lobo solitário, não pode assistir em silêncio essa escalada de violência política. É uma omissão covarde", frisou. Até o fechamento desta edição, os outros candidatos não haviam se manifestado sobre qualquer um dos casos.

Outro ataque

Do lado petista, nem a morte do trabalhador rural e apoiador de Lula, em Confresa, Mato Grosso, conteve outros ataques políticos à apoiadores do ex-presidente e líder nas pesquisas eleitorais. Ontem, Guilherme Boulos (PSol-SP), aliado de Lula, também foi intimidado enquanto fazia panfletagem, em uma rua de São Bernardo do Campo (SP), por um apoiador de Bolsonaro que dizia portar uma arma. "Durante uma caminhada de campanha em que estávamos eu e Ediane Maria, um homem esbravejou 'aqui é Bolsonaro', ao recusar o panfleto de nossas mãos. Em seguida, disse estar armado e colocou a mão na cintura, no cabo da arma", relatou. A campanha do candidato a deputado federal informou que entrou com ação no Ministério Público Eleitoral (MPE).

Boulos informou que prosseguirá com a campanha nas ruas, dialogando com a população e virando votos. "Eleição não se ganha falando alto nem com armas. Eleição se ganha no voto. A turma do Bolsonaro não vai nos intimidar. Seguiremos firmes na rua lutando e dialogando", assegurou. Mais tarde, no evento Ato pela democracia, na Avenida Paulista, o político enfatizou que manterá a mobilização. "Hoje, a gente veio dar uma mensagem e um legado simbólico de que aqui tem um povo sem medo, de que aqui tem um povo que vai ficar na boa nas próximas três semanas. Por mais que eles ameacem, por mais que mostrem arma, como fizeram comigo e com a Ediane ontem em São Bernardo, da rua a gente não sai", declarou.

Soraya Thronicke (União Brasil) afirmou que o objetivo das eleições se tornou secundário "frente à barbárie" que se instalou. "Não precisa que algo aconteça comigo diretamente para eu entender que já passamos do limite do razoável. Um mês atrás, uma morte. Ontem, mais uma morte, além de ataque a Guilherme Boulos. Hoje, um ataque a Ciro Gomes. A atividade fim das eleições virou secundária", escreveu. Para Felipe D'Ávila (Novo), candidatos que incentivam "medo e divisão" não merecem ser escolhidos, porque "quando a política é tomada pela violência, significa que caminhamos rumo à barbárie."

Olhar social

O defensor público federal e especialista em direitos humanos, inclusão social e economia sustentável André Naves destaca que a ordem no Judiciário é de não estigmatizar nenhum dos dois lados da polarização política, pois o entendimento é de que a violência está de ambos os lados. "Estamos atuando nesse momento para punir algum crime e jogar água na fervura, não estigmatizar nenhum dos dois lados", esclareceu. Ele relembra que a polarização é um novo fenômeno ampliado pela desigualdade em que o Brasil se encontra.

"A polarização se retroalimenta com a desigualdade e a piora, porque os setores sociais e políticos se veem mais como adversários e não querem mais colaborar em si para a construção de políticas públicas inclusivas, justas. Não buscam mais a construção de igualdade de oportunidades para o povo brasileiro, trabalham em cima de conquista de privilégios, onde cada um defende o seu", detalha.

"Temos 33 milhões de pessoas abaixo da linha da pobreza e isso está acontecendo com a maior parte da população. Subemprego aumentando, informalidade acontecendo, isso gera uma certa violência nas pessoas. Por serem de classes sociais tão distantes, elas perdem a conexão umas com as outras, perdem as conexões de nação, não se sentem parte de um mesmo corpo. Nesse sentido, elas buscam eliminar o outro, percebem que no outro estão as causas do problema e não o contrário. Por isso, esses discursos de violência e atos crescem", sugere o defensor.

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