Eleições 2022

Entusiasta do voto útil em 2018, Ciro agora dispara críticas ao movimento

Presidenciável reafirma sua candidatura e dispara críticas ao movimento pelo voto útil. Em 2018, porém, o pedetista usou esse expediente, sob a alegação de que era o único capaz de derrotar Bolsonaro no segundo turno

Victor Correia
Henrique Lessa
postado em 27/09/2022 04:00
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Em seu "manifesto à nação", Ciro diz ser vítima de "virulenta campanha nacional e internacional" para que desista da corrida eleitoral. - (crédito: ESTADÃO CONTEÚDO)

Pressionado pela campanha a favor do voto útil no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o ex-governador Ciro Gomes (PDT), também candidato ao Planalto, reafirmou que continuará na corrida eleitoral e se disse vítima de uma "virulenta campanha nacional e internacional" para que desista de concorrer ao pleito. Ele também voltou a criticar as campanhas que buscam virar o voto de seus eleitores. A postura do pedetista contrasta com a que adotou em 2018, quando pregou voto útil nele na disputa com Fernando Haddad (PT).

Cercado por apoiadores e aliados em seu comitê de campanha, ontem, na capital paulista, Ciro leu o que chamou de "manifesto à nação", que foi transmitido, ao vivo, em todas as suas redes sociais. Ele enfatizou que "o Brasil está na iminência de sofrer a maior fraude eleitoral de sua história". Criticou a polarização entre Lula e o presidente Jair Bolsonaro (PL), e criticou a polarização entre Lula e Jair Bolsonaro (PL).

"Lula e o PT passaram 14 anos no poder e deixaram o Brasil com os mesmos problemas que encontraram. A prova disso é a rápida evaporação dos efeitos da fugaz benesse que conseguiram produzir, impulsionada por ciclos favoráveis de commodities", discursou. "Bolsonaro, sua cria maligna, seguiu parte dessa cartilha, aliando-se ao Centrão e rendendo-se à corrupção e ao clientelismo. E acrescentou, sem dúvida, conteúdos gigantescamente mais pavorosos: o desrespeito às instituições e crimes contra a humanidade", atacou.

Ciro acusou Lula e Bolsonaro de se aliarem aos mesmos envolvidos em escândalos de corrupção no passado, a quem chama de "corja que saqueou o país", e disparou contra as investidas para virar votos de seus eleitores. "Na reta final da campanha mais vazia da história, embalam tudo no falso argumento do voto útil. Com essa pregação, querem eliminar a liberdade das pessoas de votarem, no regime de dois turnos", disse o presidenciável. "Querem calar as vozes das dissidências e submetê-las, sob o regime do medo e do terror velado, a dois blocos rivais que se escondem no maniqueísmo e no personalismo para disfarçar as profundas e definitivas semelhanças."

Ao fim do pronunciamento, Ciro deixou claro que não cederá à pressão para desistir da candidatura. "Por mais jogo sujo que pratiquem, eles não me intimidarão. Não fugirei do verdadeiro embate democrático e não compactuarei com essa farsa. Tenho compromisso de vida e de morte com a luta por um Brasil melhor e nada me amedrontará nem irá me deter", destacou.

O pedetista é alvo prioritário da campanha pelo voto útil em Lula. Entre os que viraram o voto estão, por exemplo, artistas como Caetano Veloso e Tico Santa Cruz. Na semana passada, uma ala do próprio partido de Ciro publicou manifesto defendendo o voto no petista e ressaltou que a candidatura do pedetista é "inviável". Uma das críticas sofridas pelo presidenciável é que seu comportamento, extremamente crítico a Lula, favorece Bolsonaro. Foi o que enfatizou, por exemplo, a carta aberta assinada por políticos e intelectuais da América Latina, divulgada na semana passada. O grupo dizia que o pedetista não tem chance de vencer as eleições e, ao manter a candidatura, estaria facilitando a vitória de Bolsonaro.

Alternativa

Se hoje Ciro Gomes condena as campanhas para virar voto e chama Lula e o PT de "nazistas" — como fez na sabatina do Correio, na semana passada —, em 2018, quando figurava em terceiro lugar nas pesquisas de intenção de voto, fez um forte movimento pelo voto útil, sob a alegação de que era a alternativa para derrotar o candidato da extrema-direita. Isso porque os levantamentos mostravam que ele era o único com possibilidade de vencer o então candidato Jair Bolsonaro (PSL, na época), no segundo turno.

Naquela eleição, Lula estava preso na carceragem da Polícia Federal (PF), em Curitiba, e seu vice na chapa, Fernando Haddad, o substituiu na corrida eleitoral. Na ocasião, o discurso de Ciro em relação ao ex-presidente era respeitoso. Na sabatina da TV Globo, disse: "Para mim, Lula não é um satanás como certos setores da imprensa e da opinião brasileira pensam". "Conheço o Lula há 30 anos. Ele foi um presidente que eu tive a honra de servir como ministro e foi um presidente que fez muito coisa boa para muita gente do Brasil", acrescentou.

A campanha dele demonstrava interesse em atrair o eleitorado fiel a Lula e evitar a transferência de votos para Haddad. No movimento pelo voto útil, apoiadores do pedetista usavam o termo "poste do Lula" para definir o candidato petista e apresentavam as pesquisas eleitorais com suas projeções do segundo turno entre Ciro e Bolsonaro e as comparava com as projeções de Haddad e Bolsonaro. Em levantamentos da época, apenas o pedetista ganhava de Bolsonaro — o Ibope mostrava 45% a 39%; e o Datafolha, 46% a 42%. Após apresentar os números, Ciro pediu voto útil. "Preciso do seu voto, já no primeiro turno. Não vote contra ninguém, vote a favor do Brasil", pregava.

"#TiraGomes"

No mesmo dia em que Ciro Gomes fazia o pronunciamento, viralizou um vídeo em que Caetano Veloso prega o voto útil em Lula. "(Leonel) Brizola dizia que artista não dá voto. Mas tira. Então…", diz o cantor na postagem, referindo-se ao fundador do PDT. Logo depois aparecem hashtag "#TiraGomes", com um fundo vermelho.

 

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