Após a escalada de tragédias ocorridas no Brasil motivadas por violência política, o Alto Comissariado da Organização das Nações Unidos (ONU) para Direitos Humanos, em Genebra, fez um alerta para a escalada de violência política que vem ocorrendo no Brasil às vésperas das eleições do próximo domingo (2/10). A porta-voz da ONU para direitos humanos, Ravina Shamdasani, manifestou preocupação com as eleições brasileiras.
"Estamos cientes dos informes sobre a violência política e estamos fortemente preocupados com o relato de violência contínua que envolve partidos políticos, apoiadores e candidatos", disse a porta-voz.
No último fim de semana, eleitores de Lula e Bolsonaro foram mortos por violência política que partiu de discussões sobre os dois candidatos. Além das vítimas fatais, houve uma tentativa de atentado ao deputado Paulo Guedes (PT-MG) e uma confusão envolvendo militantes do candidato a deputado federal pelo PSOL, Guilherme Boulos e um integrante do MBL, um jovem de 15 anos, que foi agredido pelos apoiadores do político.
Além de manifestar preocupação com os casos mais extremos de violência, Shamdasani também defendeu que as autoridades brasileiras criem um clima de segurança para o eleitor manifestar seu direito ao voto, pois é “uma obrigação do estado”.
Sem citar o nome do presidente Jair Bolsonaro (PL), a porta-voz criticou candidatos que tentam “descredibilizar” o processo eleitoral. O presidente da República é um crítico constante das urnas eletrônicas, mesmo sem provas ou indícios de fraude nos equipamentos de votação.
“Deve-se criar um ambiente em que possa haver uma troca saudável de ideias e que a imprensa possa agir livremente, checando e veiculando os resultados do processo eleitoral, também notamos que tem havido repetidas tentativas de descredibilizar o processo eleitoral e ameaças a não respeitar o resultado das eleições. Isso também representa um sério risco ao processo democrático”, disse Ravina.
Violência política
Na avaliação do diretor executivo do Instituto Global Attitude, Rodrigo Reis, o principal ponto de violência política do país, historicamente, foi justamente a facada recebida pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), enquanto candidato nas eleições de 2018. O especialista menciona ainda atentados como o sofrido pelo jornalista Carlos Lacerda, em 1954 e a morte de João Pessoa, em 1930, quando candidato a vice de Getúlio Vargas. Pessoa foi assassinado pelo adversário político João Duarte Dantas.
Apesar de ter sido alvo de um atentado em 2018, o discurso do próprio Bolsonaro possui o poder de incitar reações agressivas em seus apoiadores e eleitores, diz Reis.
"Em relação aos últimos casos, acredito que parte do discurso do presidente Jair Bolsonaro fomenta e atiça diferentes níveis de reação da população. De certa maneira não são somente catalisadores, mas as diferentes ações e falas do presidente tem o poder de incitar direta ou indiretamente uma emoção e uma certa reação dos seus candidatos e seguidores. Com o tempo, isso vem se tornando muito aparente", explicou Rodrigo Reis.
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