Eleições 2022

4 razões que explicam por que candidatura de Ciro não decolou

Ciro ficou em quarto lugar com 3,05% dos votos enquanto teve, nas eleições para presidente de 2018, um resultado melhor, anotando 12.47% dos votos

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postado em 02/10/2022 23:43 / atualizado em 02/10/2022 23:43
 (crédito: CARL DE SOUZA/Getty Images)
(crédito: CARL DE SOUZA/Getty Images)

O candidato Ciro Gomes (PDT) encerrou sua participação na disputa presidencial no domingo (02/10), ficando em quarto lugar, com 3,05% dos votos, atrás da candidata Simone Tebet (MDB), que concorreu à Presidência pela primeira vez e terminou com 4,18%.

Nas eleições para presidente de 2018, Ciro conseguiu um resultado melhor, anotando 12.47% dos votos.

A BBC News Brasil conversou com cientistas políticos que elencam os possíveis motivos que fizeram não só a candidatura de Ciro não decolar, como ter um desempenho pior do que na última disputa.

1. Cálculo sobre adversários

"O Ciro tem um histórico na política brasileira, é um candidato importante. Tem disputado periodicamente, resultando na terceira ou quarta grande força. Mas neste ano ficou em uma posição muito difícil, que o impediu de avançar para o segundo turno", afirma Eduardo Miranda, doutor em Ciência Política e professor da Escola de Educação e Humanidades da PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná).

Na análise do professor, Ciro inicialmente projetou sua candidatura para um cenário no qual o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não fosse candidato e que o PT tivesse menos força eleitoral.

"Então, nesse momento, ele tentou atrair o eleitor de esquerda, foi bastante crítico a (Jair) Bolsonaro. Mas Lula foi candidato e ocupou o campo da esquerda e também o da centro-esquerda", complementa o cientista político Carlos Melo, professor do Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa).

2. Ataque a ambos os lados

Melo aponta que, sem conseguir conquistar a ala da esquerda, o espaço da "terceira via" que Ciro tentou ocupar foi sendo esvaziado.

"Aí ele parece ter feito outros cálculos. Considerando que Bolsonaro pudesse chegar muito enfraquecido na eleição,começou a se colocar como o 'anti-Lula'. Mas Bolsonaro tem uma fatia cativa do eleitorado."

"A Simone Tebet (MDB), por exemplo, optou pela candidatura do centro. Não fez esses movimentos de 'bater' em um ou em outro para tentar cativar eleitores de diferentes lados. Já o Ciro oscilou muito em termos de posicionamento político ideológico. Isso faz com que em um determinado momento ele acabe agregando muito pouco na disputa", diz Melo.

Na avaliação da professora Maria do Socorro Braga, que leciona Ciência Política na UFSCar, o movimento de isolar-se com ataques fortes aos dois oponentes que representam, mais fortemente as alas ideológicas da direita e da esquerda, faz com que Ciro mantenha sua coerência, mas pode ter causado confusão na mente de um eleitor menos politizado, que poderia ter sido conquistado pelo político, mas que não conseguiu acompanhar seus movimentos.

"Além disso, ele não conseguiu fazer alianças com outras forças políticas e partidárias, minando a capacidade de ampliação territorialmente."

3 - Polarização do país

A professora Maria do Socorro Braga aponta a "polarização" da política brasileira como um dos principais motivos para a candidatura de Ciro não ter alcançado resultados melhores.

"É uma disputa resiliente, que não surgiu agora, entre dois lados que incitam emoções fortes no eleitorado. Esse cenário foi tão acirrado, que, em certo ponto, antecipou a disputa do segundo turno para o primeiro. Isso criou grandes desafios para outras candidaturas, não só do Ciro."

Ciro Gomes
CARL DE SOUZA/Getty Images

4. Voto útil

O voto útil, feito quando um eleitor abre mão de votar no seu candidato preferido e opte por outro para evitar um segundo turno, contribuiu para que Ciro Gomes perdesse ainda mais força na reta final, na opinião dos especialistas entrevistados pela BBC News Brasil.

"O eleitor que não queria nem Lula, nem Bolsonaro, existe, mas a maioria só carrega essa escolha até um determinado ponto. Quando essa pessoa percebe que um daqueles candidatos que ela rejeita pode ganhar, vem um outro cálculo: não gosto de um, mas o outro não quero de jeito nenhum — e assim ela encontra o mal maior, e usa seu voto para ir contra ele."

Um retrato disso vinha sendo mostrado pelas pesquisas eleitorais nos últimos tempos: Ciro chegou a alcançar 9% das intenções de voto em uma pesquisa do DataFolha divulgada no início de setembro, e Simone Tebet, quarta colocada, tinha 5%. No fim do primeiro turno, eles tinham, respectivamente, 3,05% e 4,18%.

O futuro de Ciro Gomes na política

Ciro sai das eleições, na visão dos especialistas, enfraquecido. "Ele apostou para manter sua coerência, mas politicamente isso não o beneficiou", afirma Braga.

A professora avalia que o político se aproximou sutilmente da direita na reta final das eleições, mostrando mais cordialidade — ou menos ataques diretos — a Bolsonaro do que a Lula.

"Não dá para afirmar categoricamente o que vai acontecer, mas caso o apoio a Bolsonaro permaneça, isso poderia, inclusive, criar problemas para ele dentro do PDT, forçando uma possível mudança de partido se ele quiser continuar no jogo político."

Para Eduardo Miranda, da PUC-PR, Ciro é um quadro fundamental da política brasileira e seu destino dependerá das movimentações que fará pós-eleição.

"Ele é um dos mais, se não o político mais tecnicamente preparado que disputou essa eleição — com propostas mais bem desenhadas para saúde, educação, e na questão fiscal. É estudioso, preparado, mas acho que do ponto de vista político ele é muito novo. Poderia ter se projetado como um pós-Lula, se aliar com a esquerda que voltou a ser forte no país, mas escolheu outro caminho."

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