ELEIÇÕES 2022

Veja quais políticos escolheram a neutralidade no 2º turno das eleições

Filiados de seis partidos estão liberados para votar em Lula ou Bolsonaro no segundo turno. Cinco ainda anunciarão suas posições. A polarização também leva lideranças políticas para o voto nulo ou branco

Vinicius Doria
Taísa Medeiros
postado em 08/10/2022 03:55
 (crédito:  Ed Alves/CB)
(crédito: Ed Alves/CB)

Na eleição mais polarizada da história, em que praticamente não houve espaço para a chamada terceira via, políticos e partidos que não se alinham a Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ou a Jair Bolsonaro (PL) nem pretendem apoiá-los no segundo formam, agora, o "bloco da neutralidade". Divergências ideológicas, disputas locais e até um bárbaro assassinato são os motivos apontados por quem não pretende se aliar a nenhuma das duas candidaturas à Presidência da República. Nessa conta estão, por enquanto, seis partidos. Cinco ainda não anunciaram qual o caminho que seguirão.

Entre os políticos com algum protagonismo no primeiro turno, quatro candidatos que disputam governos estaduais em segundo turno, uma candidata à Presidência e uma a vice-presidente também anunciaram distanciamento da polarização, assim como lideranças partidárias importantes, como o ex-presidente Michel Temer (MDB) e o ex-governador de São Paulo João Doria (PSDB).

Depois de apoiar Jair Bolsonaro em 2018, a senadora Soraya Thronicke (União Brasil-MS) virou oposição ao governo e declarou que votará em branco no segundo turno. "A maioria dos brasileiros é contra a polarização e, em respeito, irei me abster. Não apoio nenhum dos candidatos que estão no 2° turno. Silêncio também é liberdade de expressão", escreveu Soraya no Twitter.

Na mesma linha do voto em branco seguirá Mara Gabrilli (PSDB-SP), vice na chapa de Simone Tebet (MDB). "No 2° turno, opto pelo voto em branco. Não dou meu voto para nenhum dos dois. Fico ao lado dos brasileiros e apoiarei o governo que defender meus ideais de país. Serei oposição sensata", postou a senadora por São Paulo em suas redes sociais.

O ex-governador João Doria, que teve sua pretensão de chegar à Presidência abatida em pleno voo pelos seus pares do PSDB, tem outra postura em relação à neutralidade: decidiu anular o voto em 30 de outubro. "Nem Lula nem Bolsonaro. Meu voto será o da neutralidade, será nulo", disse ele, em entrevista ao Portal Uol.

Já o ex-presidente Temer, sondado por aliados de Bolsonaro para apoiar a campanha da reeleição, não revelou como votará, apenas disse que ficará neutro. "Aplaudirei a candidatura que defender a democracia, cumprir rigorosamente a Constituição, promover a pacificação, manter as reformas já realizadas no meu governo e propor ao Congresso Nacional as reformas que já estão na agenda do país", declarou, em nota, sem citar os nomes de Lula ou Bolsonaro.

Geopolítica estadual

Dos onze partidos que não se alinharam a nenhuma das duas candidaturas à Presidência, seis liberaram seus filiados: União Brasil, MDB, PSD, PSDB, Novo e DC. Cinco ainda não se pronunciaram — Podemos, Patriota, PRTB, PCO e Unidade Popular —, mas anunciarão suas decisões na semana que vem.

O Novo decidiu liberar os filiados e recomendou que votem "com sua consciência e com os valores e princípios partidários", em uma nota oficial com viés declaradamente antipetista. "O partido se vê na obrigação de reforçar seu posicionamento institucional histórico, totalmente contrário ao PT, ao lulismo e a tudo o que eles representam", declarou a agremiação.

A decisão dá suporte para o governador reeleito pelo partido em Minas Gerais, Romeu Zema, apoiar o presidente Jair Bolsonaro no segundo turno sem comprar briga com correligionários que votaram em Lula, principalmente, no interior do estado.

Nos partidos maiores, a neutralidade se impôs por causa dos cenários estaduais, que envolvem a disputa de segundo turno. É o caso de MDB, União Brasil, PSD e PSDB. Em São Paulo, maior colégio eleitoral do país, o PSD compõe chapa com o ex-ministro Tarcísio de Freitas (Republicanos) na disputa com o petista Fernando Haddad. O presidente do PSD, Gilberto Kassab, defende a presença da agremiação na base de apoio de um futuro governo Lula, mas, por causa de São Paulo, vai manter-se à distância da polarização.

No Rio Grande do Sul, o PSDB precisa dos votos petistas se quiser vencer o ex-ministro Onyx Lorenzoni (PL), que venceu o primeiro turno. Apesar de ter declarado voto no presidente em 2018, Leite, agora, tenta se manter afastado da disputa presidencial. "Não vou abrir meu voto para presidente para não contaminar o debate e não deixar que se discuta apenas o Brasil e não o Rio Grande", disse, ontem, em entrevista.

No Nordeste, o medo de espantar o eleitor de Lula — amplamente vitorioso na Região — impede uma aliança formal com Bolsonaro. É o cenário da Bahia, com ACM Neto (União Brasil); da Paraíba, com Pedro Cunha Lima (PSDB); e de Alagoas, com Rodrigo Cunha (União Brasil). Os três disputam contra adversários identificados com o ex-presidente e precisam do voto lulopetista se quiserem ganhar as eleições.

Pedro Cunha Lima, que disputa o segundo turno contra João Azevedo (PSB), recebeu o apoio de Veneziano Vital do Rego, do MDB pró-Lula, que ficou em quarto lugar no primeiro turno, e não quer ver seu nome ligado ao bolsonarismo. Situação semelhante à de ACM Neto, que precisa tirar a vantagem de quase 700 mil votos imposta pelo adversário, o petista Jerônimo Rodrigues, que não venceu a disputa em primeiro turno por apenas 0,5% dos votos válidos.

Crime de mando

A situação de Rodrigo Cunha (União Brasil), que disputa o segundo turno em Alagoas contra Paulo Dantas (MDB pró-Lula), é um pouco diferente por causa de uma tragédia familiar. Apesar de pressionado pelo diretório estadual do União Brasil para que empreste apoio à reeleição do presidente, Cunha resiste porque Bolsonaro foi o único parlamentar a votar contra a cassação do mandato do deputado federal Talvanes Albuquerque, mandante do assassinato de sua mãe, a deputada federal Ceci Cunha, um crime que abalou a política alagoana em novembro de 2018. Mesmo assim, nos últimos meses, participou de eventos políticos ao lado do presidente da Câmara dos Deputados e um dos principais líderes do bolsonarismo no Congresso, Arthur Lira (PP), que renovou seu mandato com a maior votação do estado.

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