ELEIÇÕES 2022

CNBB condena o uso da religião na busca do voto

Nota da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil foi emitida na véspera da ida de Bolsonaro ao Santuário de Aparecida e depois da participação no Círio de Nazaré. Documento não cita o nome de qualquer candidato

Ingrid Soares
postado em 12/10/2022 03:55
 (crédito: Reprodução/Facebook)
(crédito: Reprodução/Facebook)

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) criticou, ontem, por meio de nota, aquilo que caracterizou como "a intensificação da exploração da fé e da religião como caminho para angariar votos no segundo turno" das eleições deste ano. Ao ressaltar o trecho bíblico que observa que "existe um tempo para cada coisa", a entidade deixou claro que "momentos especificamente religiosos não podem ser usados por candidatos para apresentarem suas propostas de campanha". A CNBB não faz qualquer menção a candidatos, mas o documento foi divulgado na véspera da visita que o presidente Jair Bolsonaro (PL) faz, hoje, ao Santuário de Aparecida (SP), por conta da celebração do feriado de Nossa Senhora Aparecida.

Segundo a entidade, "a manipulação religiosa sempre desvirtua os valores do Evangelho e tira o foco dos reais problemas que necessitam ser debatidos e enfrentados em nosso Brasil. É fundamental um compromisso autêntico com a verdade e com o Evangelho".

A CNBB vai mais além, ao condenar "veementemente o uso da religião por todo e qualquer candidato como ferramenta de sua campanha eleitoral. Convocamos todos os cidadãos e cidadãs, na liberdade de sua consciência e compromisso com o bem comum, a fazerem deste momento oportunidade de reflexão e proposição de ações que foquem na dignidade da pessoa humana e na busca por um país mais justo, fraterno e solidário".

Horas antes da divulgação da posição da CNBB, a Arquidiocese de Aparecida confirmou a ida de Bolsonaro ao santuário. Nota assinada pelo arcebispo de Aparecida, dom Orlando Brandes, pede que "a rotina dos peregrinos não seja impactada" com a presença do presidente. "Como nos anos anteriores, o Santuário Nacional organizará a acolhida ao presidente nas melhores práticas que um chefe de Estado requer, mas também buscando garantir que a rotina dos peregrinos não seja impactada".

No último dia 7, o presidente participou do Círio de Nazaré, em Belém, o que causou mal-estar com a Igreja Católica. Na ocasião, a Arquidiocese da capital paraense divulgou nota ressaltando não ter havido nenhum convite a Bolsonaro e que não permitiria "qualquer utilização de caráter político ou partidário das atividades do Círio."

Na agenda de campanha de Bolsonaro, hoje, a ida a Aparecida não é o único evento religioso de que participará. Em São Paulo, ele estará em uma missa ao lado do candidato ao governo do Estado, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Mas antes do evento na capital paulista, o presidente vai a Belo Horizonte participar de um culto na Igreja Mundial do Poder de Deus.

Fiscalização

Em Pelotas (RS), ontem, Bolsonaro convocou seus apoiadores a permanecerem perto das seções eleitorais no próximo dia 30 até sair o resultado do segundo turno da eleição presidencial. Durante discurso, ele também voltou a colocar em dúvida o número de votos recebidos pelo adversário Inácio Lula da Silva (PT) no primeiro turno, mas não apresentar provas ou indícios de irregularidades.

"No próximo dia 30, de verde e amarelo, vamos votar. E, mais do que isso, vamos permanecer na região da seção eleitoral até a apuração do resultado. Tenho certeza de que o resultado será aquele que todos nós esperamos, até porque o outro lado não consegue reunir ninguém", provocou Bolsonaro, ao lado do ex-ministro Onyx Lorenzoni (PL), que disputa o segundo turno da eleição para o governo gaúcho contra o tucano Eduardo Leite.

Nos últimos dias, a pedido da coordenação da campanha, Bolsonaro vinha evitando questionar de forma enfática as urnas, como fazia antes do primeiro turno. Aliados do candidato à reeleição avaliam que ficou mais complicado colocar em xeque o sistema eleitoral depois da "onda" que elegeu diversos bolsonaristas para a Câmara e o Senado, em 2 de outubro — o PL, partido do presidente, terá a maior bancada nas duas Casas a partir do ano que vem. Só que, no último dia 5, na primeira transmissão ao vivo pelas redes sociais no segundo turno, Bolsonaro falou em "problemas" na apuração dos votos.

Idosos

Ele exortou que seus apoiadores levem idosos para votar. "Vamos levar os nossos idosos para as seções de votação. Vamos convencer um parente ou um amigo que está equivocado no tocante ao seu voto para ele voltar para o nosso lado. O grande bem que está em jogo no próximo dia 30 é a nossa liberdade. Vocês vem acompanhado nesses últimos anos o quão ameaçada ela foi", disse.

Como tem sido padrão nas manifestações públicas que faz, não faltaram ataques a Lula e ao PT. "O cara se diz pai dos pobres, mas todos aqueles que o apoiaram ao longo dos últimos 20 anos continuam cada vez mais pobres. Não está difícil essa decisão", completou, sendo ovacionado pela plateia pelo bordão "Lula, ladrão, seu lugar é na prisão!".

Segundo o presidente, os problemas do país ocorrem por conta das más escolhas e que uma mudança na Presidência pode vir para "pior". "As coisas acontecem apenas por um motivo: as escolhas erradas que o povo faz. Quando algo não está indo bem, você tem o direito de buscar mudança. Mas tomem cuidado que essa mudança pode ser para pior", advertiu.

E voltou a dizer que a atual eleição presidencial é uma "guerra do bem contra o mal". "Todos temos que lutar. Não podemos olhar para trás e vermos o que não fizemos para salvar o nosso Brasil. O 30 de outubro vai marcar a luta do bem contra o mal. E o bem sempre venceu e dessa vez tornará a vencer", afirmou.

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